Usuários se arriscam ao esperar por ônibus em meio a verdadeiras florestas

ponto de onibus
Foto: Nilson Figueiredo

Há um ano próprios moradores da região do Noroeste realizam a limpeza

Uma reclamação muito comum dos cidadãos que utilizam o transporte coletivo é a falta de manutenção dos pontos de ônibus. Contudo, essa não é apenas uma situação ruim para os passageiros, mas também para os motoristas. Essa falta de cuidado gerou mobilização de algumas pessoas, inclusive do Juliano D Ávila que há um ano vem cuidando de algumas paradas em Campo Grande.

Em vários pontos visitados, vimos grandes matagais que cercam a pequena estrutura do ponto de ônibus. Na rua do Franco, na Vila Carlota, é um desses locais. Moradora do bairro há 15 anos, Selma da Silva, revela que nunca viu o lugar completamente limpo e já foram feitas várias solicitações de limpeza para a Prefeitura Municipal.

“De vez enquanto limpam aqui, mas não sei quem faz o trabalho, acho que é o pessoal da Energisa, já que ali é uma área de apoio deles, tem uns caminhões com postes. Somente depois que eles começaram a mexer aqui, começou a ficar assim [com o mato um pouco baixo na área do ponto], mas eles [prefeitura] não fazem mais a manutenção aqui, inclusive, no semáforo, a gente não para a noite, de madrugada, por medo de assalto”, conta.

“As pessoas ficam do outro lado para esperar o ônibus e só depois atravessam. E quando está chovendo não tem lugar para ficar, se molha tudo, é horrível. Aqui é o pior ponto de ônibus que tem na cidade, tem muito bicho, tem rato, as formigas vão te atacando. Cansei de reclamar, sempre foi assim”, complementa Selma.

Em dois lugares que passamos, as entrevistadas relataram a mesma situação, de ter que esperar o ônibus do outro lado da rua por falta de estrutura no lugar. Uma delas, a estudante Jamily do Santos, de 22 anos, disse que já perdeu o ônibus algumas vezes por conta disso, não conseguia atravessar a tempo. Jamily pega ônibus na rua Demétrio Amaral, no Jardim Moema todos os dias.

“Pego ônibus aqui sempre, mas como não tem lugar para ficar, tomo sol, tomo chuva, é bem difícil. De vez em quando fico ali, do outro lado da rua, no coberto, mas já perdi meu ônibus fazendo isso, porque tenho que sair correndo e às vezes não dá tempo. Mas se a gente fica aqui, a gente se molha tudo”, conta Jamily.

Após ver um escorpião enquanto esperava para pegar ônibus, Juliano Alexandre de Sena D Ávila, estudante de História, conta que decidiu agir com suas próprias mãos e limpar a área que sempre usou. Contudo, o estudante não parou por aí e começou um projeto de limpeza de pontos em dois bairros da Capital, do Jardim Noroeste e Léon Denizard do Conte. Dia 29 de dezembro de 2023 completou um ano da iniciativa
do jovem.

“Eu não poderia ficar de braços cruzados sem fazer nada e foi aí que resolvi me voluntariar nesse projeto. Porém, eu com meus 21 anos de idade na época, recebi um desafio grande, além dessa parada, tinha outras em rio ao matagal e foi aí que decidi encarar esse grande desafio, confesso que foi um trabalho árduo e cansativo”, relata.

“Eu me voluntario e limpo as paradas de embarque e desembarque de forma gratuita, mas no começo tinha muito mato e tive que contratar ajudante, eu tirei do meu próprio pagamento para pagá-lo. Não tenho o apoio de ninguém, muito menos da prefeitura e detalhe: É obrigação da prefeitura manter limpos as paradas de ônibus. Dediquei meus 21 anos de idade a limpar pontos de ônibus pensando na Comunidade. Ao longo da iniciativa já percorremos até o momento 23 paradas de ônibus. Todos os meses voltamos nas paradas para manutenção. Dediquei meus sábados e domingos nessa função. Não quero nada em troca. Todos os meses nós percorremos os pontos para mantê-los limpos”, finaliza.

O problema se estende a outros pontos da cidade, no bairro Universitário, na rua Filomena Segundo Nascimento, o comerciante local, Alisson Luiz Amaral, expõe algumas situações, inclusive de deficiente visual que passa por ali todos os dias, mas por falta de sinalização e calçada, caminha na rua.

“O que mais tem é assalto, os assaltantes passam pegam a bolsa e sai correndo, pega celular. Durante a noite não tem iluminação nenhuma o que facilita ainda mais para eles, porque a luz do poste não acende. Não temos proteção, falta segurança no bairro, o pessoal esconde no mato para roubar, tem um rapaz que até mora nesse mato. A maioria da limpeza aqui, é tudo eu que faço, ou o pessoal aqui da região. Além disso, passa um deficiente visual aqui, e tem que seguir caminho pela rua, porque não tem estrutura, não tem calçada”, comenta.

Esse não é um problema apenas para quem pega ônibus, motoristas também sofrem, muitas vezes têm assaltantes e não conseguem ver por conta do mato, até mesmo não conseguem fazer o seu trabalho de maneira eficiente devido a esses problemas. O gerente do Consórcio Guaicurus, Robson Strengari, conta algumas situações que esses trabalhadores enfrentam.

“Os motoristas muitas vezes têm que parar no meio da rua, porque não tem condições, não tem meio-fio, tem muito mato. É uma situação que quem sofre mais é o passageiro, que fica bravo, e com razão, mas também os motoristas sofrem com esses problemas. Muitas vezes é buraco, é árvore, é matagal, é ponto que o pessoal derruba e demoram para arrumarem. Há regiões que o motorista não consegue nem estacionar por causa de buraco e se tiver água, ele vai jogar água no passageiro, não pode. Fica difícil para o cadeirante embarcar. É de suma importância a manutenção desses pontos, que é de responsabilidade da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), porque deixa a área perigosa, atrai bandido e bichos….”, explica.

Por Inez Nazira.

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