Uso indiscriminado de antibióticos força a prescrição de receitas mais fortes

Remédios, bula
Foto: Divulgação/ Agência Senado
Por Kamila Alcântara e Rafaela Alves – Jornal O Estado

A baixa umidade relativa do ar e temperaturas mais baixas tornam o período propício para as doenças respiratórias, provocadas por vírus e, raramente, por bactérias, mas o uso indiscriminado de antibióticos para tratar dor e febre vem causando preocupação aos especialistas. Tudo isso, aliado com a falta de antibióticos básicos na rede pública e privada, conforme já noticiado por O Estado.

Com isso, cada vez mais os microrganismos estão apresentando resistência aos medicamentos tradicionais, isso aliado à falta de alguns fármacos na rede pública e privada, o que obriga os médicos a receitarem antibióticos mais potentes.

E o aumento da procura por atendimento médico não é só nas unidades de saúde que estão sem medicamentos. Amoxicilina com Clavulanato não está sendo encontrada em algumas das principais redes de farmácias da cidade.

Tudo isso acaba obrigando o especialista a receitar um remédio mais potente, inclusive para o tratamento de crianças, como relata a médica pediatra Danielle Hoffman.

“Muitas vezes optamos por escolher um antibiótico que seja o mais próximo possível do que seria o indicado e que sabemos que está sendo encontrado. Mas existem situações em que acabamos nos obrigando a prescrever um medicamento mais potente do que o necessário porque o que seria mais indicado para o caso não está disponível para compra”, relata.

A falta de alguns fármacos tradicionais, que já é um risco, potencializado com o uso indiscriminado e automedicação, colabora para as consequências a médio e longo prazos que os especialistas vêm alertando há tempos: a resistência dos microrganismos e formação de “superbactérias”.

“Atualmente, o uso indiscriminado de antibióticos vem fazendo com que as bactérias se tornem resistentes aos tratamentos. Essa é a nossa maior preocupação com a falta de alguns medicamentos, incluindo os antibióticos, as substituições por outros remédios que às vezes fazem associações com outros ativos”, alerta a farmacêutica e conselheira do CRF-MS (Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso do Sul), Daniely Proença.

A espera por atendimento médico torna-se desculpa para automedicação. “A maioria dos casos de dores de garanta, gripe e diarreias é causada por vírus. Por isso é preciso procurar o profissional capacitado para dizer o melhor tratamento”, explica Daniely.

Entre as recomendações com o cuidado com os antibióticos está: nunca fazer uso sem indicação do médico; sempre com a dose prescrita e horários corretos; não parar o tratamento antes do prazo, não consumir fora da data de validade e, por fim, não se automedicar.

“Quando se inicia o uso do antibiótico, com as primeiras doses, as bactérias mais fracas são eliminadas. Se o paciente suspende o uso antes do prazo, as bactérias mais fortes resistem, então logo voltam a dor e a febre. As novas bactérias são descendentes dessas”, concluiu.

Liberação temporária de preços

Conforme noticiado recentemente pelo jornal O Estado, a CMED (Câmara de Regulação de Preços de Medicamentos) publicou uma resolução que libera temporariamente os preços para compra de medicamentos em risco de desabastecimento.

A medida já obteve o aval do conselho de ministros e deve entrar em vigor dentro de dez dias, com validade até 31 de dezembro deste ano. Com isso, a expectativa é de que os municípios de Mato Grosso do Sul obtenham maior flexibilidade para negociar a compra dos medicamentos em falta na rede pública de saúde.

Mesmo assim, o presidente do CRF-MS (Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso do Sul), Flávio Shinzato, explicou ao jornal O Estado que a medida pode não surtir o efeito prático de grande relevância, uma vez que a principal causa de desabastecimento é a falta de matéria-prima.

“Não se trata de problema de produção, mas sim de conseguir importar os insumos. Convém ressaltar que 90% da matéria-prima para produção de medicamentos vem da Índia e China. As restrições durante a pandemia afetaram também essa cadeia produtiva. Além disso, a China passa por novo lockdown, o que piora o que já estava ruim. Quando não falta matéria- -prima falta o frasco, o blister ou outro insumo. Essa decisão de alterar preços temporariamente é valida e pode conferir à indústria, melhores condições de negociar com os importadores, ou auxiliar em matérias primas locais, mas pode não resultar em grande efeito prático”, finalizou Shinzato.

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