Demora no reabastecimento do serviço fez vendas de geradores dispararem e zerarem estoques
Com mais de 60 horas sem energia elétrica, alguns comércios de Campo Grande precisaram recorrer a geradores para minimizar prejuízos. O método utilizado é consequência da tempestade que atingiu a capital na última sexta-feira (15) deixando mais de 30 bairros sem energia e cerca de 254 árvores caídas. Sem recursos, prefeitura apela para doações a fim de garantir assistência às famílias da Capital.
Segundo o último boletim da Energisa, concessionária de energia de Mato Grosso do Sul, ainda restam cerca de 30 bairros prejudicados na Capital. Já o Corpo de Bombeiros Militar informou ontem (18) que ainda restam 183 árvores caídas.
Totalizando R$ 7 mil de prejuízo e com 4.100 peixes mortos, o comerciante Eduardo Pereira dos Santos, de 53 anos, dono da loja Ponto do Pescador, na Avenida Salgado Filho, ainda vive o pesadelo da chuva.
“Nós temos na loja uma bateria na placa solar que socorre a gente por 18 horas seguidas, mantendo os tanques ligados, mas já fazem quase 67 horas desde que a luz acabou. Já usamos oxigênio para manter os peixes vivos, mas pelo valor começou a ser inviável, já que cada cilindro é R$ 140 e gastamos 5, então tomei a decisão de comprar o gerador para manter os peixes vivos”, conta o empresário.
Nessa segunda-feira (18) a Energisa compareceu ao local, mas o problema não foi solucionado.
“Eu acho um descaso, pois nós precisamos e fomos deixados por último e nem vemos tanto carro na rua fazendo esse tipo de trabalho. Além do gasto econômico, temos também o mental, já que precisamos abastecer o gerador com gasolina a cada quatro horas para ele se manter funcionando”, protesta.
No bairro Coronel Antonino, Bruno Almeida, proprietário da conveniência OpenBeer, não teve outra alternativa a não ser esperar o retorno da energia elétrica. Com freezers da voltagem 220 ele não conseguiu remanejar os aparelhos do local e já contabiliza prejuízos desde a última sexta-feira (15). Na tarde de ontem (18), o serviço voltou, porém, mesmo com a retomada, algumas das cervejas, sacos de gelo e sorvetes que estavam armazenados já estão impróprios para o consumo.
“Estávamos sem energia já sabemos que perdemos todos os nossos sorvetes, eles estão aguados, entrei em contato com a Dale e eles me informaram que não podem fazer nada e apenas reclamar contra a Energisa, mas aqui não conseguimos contato com eles desde sexta- -feira. Agora acabou de voltar e só agora vou ver o quanto de mercadoria vou perder, mas vou entrar na Justiça contra a concessionária porque a gente não pode ficar no prejuízo”, destacou.
Se a situação já exige adaptação para quem mora na Capital, para quem reside fora da região central e dos bairros próximos, o momento é ainda mais difícil, foi o que contou Agnes Christina, que mora na região da Gameleira e precisou vir para a casa de familiares com os três filhos a fim de garantir os cuidados básicos. Em sua chácara, vacas, porcos e galinhas estão sem água e sem alimento já que no local o abastecimento de água é feito pelos poços artesianos.
“Todos dependem da energia para garantir o sustento de animais, tenho vacas que estão para parir e não podem ficar sem água, pois corre o risco de perder o bezerro, tenho vacas que foram inseminadas e com a baixa hidratação elas tendem a produzir menos, além dos porcos e estamos sem água. Tenho três filhos pequenos que estão sem aula e em casa, não temos como nos manter. Tive de vir até a cidade tomar banho e buscar água. Estamos tentando falar com a Energisa e nada foi feito”, lamentou.
A reportagem foi atrás de algumas empresas de Campo Grande que oferecem esse serviço, onde foram registrados aumentos notáveis. Nas empresas Vok Geradores e Cogera Energia acabaram os estoques e foi preciso encomendar mais de outros estados; a segunda informou que a procura que antes era de 5 por dia, e passou a ser de 45 geradores desde sexta-feira (15).
Já as lojas Leroy Merlin e Sertão também tiveram um aumento notável e registraram preços que variam de R$ 652,90 a R$ 83.199,90.
Direito do consumidor
Todos os comerciantes e moradores que se sentiram lesados pela falta de abastecimento podem procurar restituição, conforme explica o superintendente da Procon-MS, Marcelo Salomão.
“Nessa tempestade houve o que nós chamamos de ‘força da natureza’, se houve dano por conta da ação da natureza há uma excludente e a Energisa não é culpada. Agora há um entendimento de que a demora do restabelecimento desse serviço pode trazer uma culpabilidade para a concessionária, que é o que nós estamos entendendo. Com isso, a concessionária precisa ter agilidade na reconstrução desse serviço com um tempo razoável e três dias não é um tempo razoável”; para recorrer é preciso que o interessado entre com uma ação judicial, comprovando que ele foi lesado em razão da demora no restabelecimento da energia elétrica. (Débora Ricalde e Isabela Assoni)