A preocupação é do secretário de Saúde em relação principalmente à procura de teste para COVID-19 após o período de folia
O médico Sandro Trindade Benites assumiu a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública) no dia 5 de dezembro do ano passado, bem no momento em que houve um crescimento nos casos de COVID-19, não só em Campo Grande, mas em todo Mato Grosso do Sul. E, segundo ele, com as festividades do carnaval, o número voltará a subir novamente. Os blocos carnavalescos bateram recorde de público – em média de 40 a 50 mil pessoas por dia estiveram na Esplanada Ferroviária, em Campo Grande.
“Eu acredito, sim, que teremos um aumento no número de casos pós-carnaval, que vai refletir nos meses de março e abril com baixa ou nenhuma letalidade, com exceção dos grupos de risco, como idosos e portadores de comorbidades. Por isso vamos precisar investir no número de testes para não faltar”, assegurou Benites.
Inclusive, sobre os testes para COVID, o secretário garante que o município tem quantidade suficiente para atender a atual demanda da doença. “Nós temos testes suficientes nas 74 Unidades Básicas de Saúde. Agora, o que nós não queremos é sobrecarregar as unidades 24 horas, sendo as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e os CRSs (Centros Regionais de Saúde). Para fazer um teste, basta procurar uma UBS para ser atendido. UPAs e CRSs não têm testes”, explicou.
Em relação à vacinação, Sandro esclarece que a preocupação não está apenas com o imunizante contra a COVID-19, mas com todas as vacinas e que a Sesau fez uma parceria com a Semed (Secretaria Municipal de Educação) para, justamente, tentar, com a vacinação nas escolas, que Campo Grande volte a ter bons índices de cobertura vacinal.
Entretanto, o médico garante que não será algo obrigatório e que precisará da autorização dos responsáveis pelos alunos. Ele reforça ainda que a obrigatoriedade fortalece grupos antivacinas, hoje espalhados por todo o país.
“A preocupação não pode ser única e exclusivamente com a COVID, até porque nós temos visto uma redução no número de vacinas, inclusive de doenças que estavam extintas, e isso não é só falando de Campo Grande, mas sim no Brasil inteiro. Existem diversos grupos antivacina espalhados em vários países desenvolvidos e isso é uma pena”, disse.
O Estado: Recentemente, o governador de São Paulo retirou a obrigatoriedade do passaporte de vacina nos locais públicos e privados, e como aqui em Campo Grande não tem mais essa necessidade, nem a necessidade de as crianças se vacinarem contra a COVID para estarem nas escolas, vocês vão aumentar a fiscalização do calendário vacinal, principalmente das crianças?
Sandro Benites: A preocupação não pode ser única e exclusivamente com a COVID, até porque nós temos visto uma redução no número de vacinas, inclusive de doenças que estavam extintas, e isso não é só falando de Campo Grande, mas sim no Brasil inteiro. Existem diversos grupos antivacina espalhados em vários países desenvolvidos, e isso é uma pena.
Nós fizemos uma parceria com a Semed (Secretaria Municipal de Educação) para que nós possamos voltar a vacinar nossas crianças dentro das escolas, mas nós não podemos obrigar ninguém a receber algum tipo de tratamento e a vacina é um tratamento preventivo. Ou seja, precisamos ter a autorização dos pais.
Em relação ao passaporte vacinal, nós nunca tivemos obrigatoriedade em Campo Grande, mas é importante ficarmos em alerta e continuarmos com a conscientização. Quando você obriga [a vacinação], acaba fortalecendo esses grupos antivacina, o que é muito triste porque, antigamente, os pais tinham orgulho de mostrar a carteira de vacina completa, e precisamos retomar esse costume.
O fato é que a vacina sempre foi a forma mais simples e eficaz de se combater qualquer doença.
O Estado: O senhor acredita que essa decisão de vacinar ou não as crianças, cabe somente aos pais?
Sandro Benites: Sem dúvida nenhuma, até porque, ao longo desses três anos de pandemia, nós vimos que os grupos de risco foram os que realmente fizeram as UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) lotarem.
Um bom exemplo é o Hospital Regional, que tinha três ilhas de UTI e chegou a dez unidades, ou seja, mais que o triplo para os adultos, diferente das UTIs infantis, que começaram a pandemia com dez leitos e depois diminuíram para seis. Graças a Deus, no meio dessa tempestade de emoções, as crianças não eram os principais atingidos, então cabe somente aos pais assumir ou não essa responsabilidade.
O Estado: Atualmente, qual a porcentagem de pessoas vacinadas em Campo Grande com o ciclo completo?
Sandro Benites: Depende. Quadro completo pode ser duas, três ou quatro doses. Nós iniciamos a aplicação da vacina bivalente, em que tivemos idosos acima de 85 anos vacinados com duas doses e receberam a terceira, idosos na quarta dose e também uma senhora de 92 anos que estava na quinta dose. Então, nós temos um número decrescente, tínhamos mais de 90% da população que tinha recebido uma ou duas doses, já com a terceira dose, a porcentagem de vacinados baixou para 70%, e apenas 50% da população recebeu a quarta dose. Isso acontece pois é o somatório da vacinação, junto com a imunização de rebanho, ou seja, o que é a vacina?
É o vírus vivo atenuado, e quando você pega o vírus, você também tá vacinado, então como nós continuamos com muitas pessoas contraindo a doença, mas as UTIs estão vazias, a população relaxou e não vê a necessidade de um reforço na vacina.
O Estado: A vacina bivalente é destinada ao público de mais de 85 anos?
Sandro Benites: Não. Nós vamos vacinando de acordo com a disponibilidade de doses enviadas pelo Ministério da Saúde, e como nós recebemos inicialmente só 6 mil doses, disponibilizamos a vacina para pessoas acima de 85 anos. Agora chegaram mais 40 mil, então nós reduzimos a faixa etária para pessoas acima de 80 anos, e conforme o Ministério envia para a SES (Secretaria de Estado de Saúde), eles enviam para as secretarias municipais, para só então reduzirmos esse critério.
O Estado: O senhor acredita que, até o fim do ano, todos os públicos poderão tomar essa vacina bivalente?
Sandro Benites: Creio que sim. Aliás, eu acredito que vai chegar um momento em que vai ser como a vacina para gripe, ou seja, todos os anos vamos tomar um reforço e, assim, ela será incluída no calendário vacinal.
O Estado: Nós tivemos um aumento dos casos de COVID no início do ano e gostaríamos de saber se o cenário de carnaval é preocupante?
Sandro Benites: Na verdade, o aumento foi nos meses de novembro e dezembro, que são meses de férias, e em janeiro foi estabilizado. Em fevereiro vai ter aglomeração e, claro, há possibilidade forte de nós termos aumento nos casos. Em contrapartida, o ponto positivo é que, mesmo com o aumento no fim do ano passado, as UTIs continuaram vazias, ou seja, com a aglomeração, o vírus se torna mais propagável mas a letalidade diminui.
Então, eu acredito, sim, que teremos um aumento no número de casos pós-carnaval, que vai refletir nos meses de março e abril com baixa ou nenhuma letalidade, com exceção dos grupos de risco, como idosos e portadores de comorbidades. Por isso vamos precisar investir no número de testes para não faltar.
O Estado: Para fazer teste de COVID muitos planos de saúde demoraram para autorizar, ao contrário das unidades de saúde, que fazem na hora. Pela rapidez, há uma procura maior nas unidades de saúde?
Sandro Benites: Nós temos testes suficientes nas 74 Unidades Básicas de Saúde. Agora, o que nós não queremos é sobrecarregar as unidades 24 horas, sendo UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e CRSs (Centros Regionais de Saúde). Para fazer um teste, basta procurar uma UBS para ser atendido. UPAs e CRSs não têm testes.
O Estado: Porém, um dos problemas enfrentados de quem procura a unidade é que acabou a separação das pessoas com suspeita de COVID e a prioridade no atendimento. Esta falha não precisa ser revista?
Sandro Benites: É preciso verificar com o departamento de infectologia. Realmente pode ser que essa separação deva ser adotada novamente neste período após o carnaval. Vamos rever essa situação.
O Estado: Em relação à superlotação das unidades de saúde, principalmente as 24 horas, é decorrente de uma possível falta de profissionais?
Sandro Benites: Eu fui a três unidades UPAs 24 horas e mais três UBSs e perguntei para os gerentes como estavam as demandas de atendimento. Eles responderam que é um volume adequado e esperado. Se você for na recepção, nesse momento, das UPAs Universitário, Moreninha ou Tiradentes, vai ter gente aguardando, mas a espera não passa de uma hora; então está tranquilo.
O Estado: Quais são as previsões da prefeitura para a entrega de unidades reformadas ou de novas unidades?
Sandro Benites: No que se trata de reformas completas, começando pela unidade do bairro Jockey Club e Aero Rancho 4, estas foram reformadas e provavelmente estarão prontas para entrega no dia 18. Também estamos reformando completamente a UPA Vila Almeida e vamos começar a reforma na UPA do bairro Jardim das Perdizes. Agora, quanto a revitalizações, no que se refere a pintura, elétrica, hidráulica e reparos, estamos atendendo duas unidades por mês, então, em dois meses do ano, já foram entregues quatro unidades. Quero lembrar que foi concluído o convênio com o Governo do Estado para a compra e instalação de máquinas digitais de raios X, para oferecer mais qualidade e eficiência nos atendimentos. Foram entregues novos aparelhos nas unidades dos bairros Moreninha, Universitário e vamos entregar estes dias a do Coronel Antonino. Além disso, estamos em contato com a agenda da prefeita para entregarmos as obras dos bairros Jockey Club e Aero Rancho 4.
Por Tamires Santana – Jornal O Estado do MS
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