O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta terça-feira (14), que não será alterado o plano de voo de política monetária a cada número novo de alta frequência de inflação que seja divulgado. Mas frisou que a taxa básica de juros será levada aonde for preciso para alcançar a meta de inflação. “Vamos levar a Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) aonde precisar, mas não vamos reagir sempre a dados de alta frequência”, disse.
Segundo Campos Neto, choques decorrentes afetam a inflação no Brasil e isso nunca aconteceu em período tão curto de tempo. Ele observou que houve alta recente nos núcleos de inflação, mas sublinhou que o BC esperava parte desse movimento em preços de serviços.
O presidente disse ainda que o efeito da alta de matéria-prima no Brasil, em meio à recuperação global do choque da pandemia de Covid-19, foi maior e mais rápido no Brasil e que agora se dissemina por outros países pares. “A Petrobras repassa preços muito mais rápido do que ocorre em outros países.”
Selic vai ‘aonde precisar’
Questionando se sua mensagem para tomar todas as medidas necessárias para a inflação era direcionada ao ciclo de alta do Selic e ao ritmo desse aperto, ou apenas para o ciclo, ele tentou quebrar as intenções do BC por meio da comunicação utilizada.
“Quando a gente fala ‘whatever it takes’ (o que for necessário) basicamente a gente está querendo dizer o seguinte: a gente tem um instrumento na mão que vai ser usado da forma como ele precisa ser usado e a gente entende que a gente pode levar a Selic até onde precisar ser levada para que a gente tenha uma convergência da meta no horizonte relevante”, afirmou.
“Mas a gente também gostaria de dizer que isso não significa que o BC vai reagir, que vai ter alterações no plano de voo, a cada dado de alta frequência que sai. Ou seja, algumas coisas a gente tem comunicado, já tinha antecipado, algumas coisas de disseminação (de inflação) estão um pouco piores de fato na ponta, mas a gente tem um plano de voo que a gente olha num horizonte mais longo. Isso não significa que você não vai atingir o objetivo de estabilizar, de fazer a convergência da inflação à frente”, completou.
Inflação
A inflação brasileira tem surpreendido para cima e, nos 12 meses de 2020 até agosto, bateu em 9,68%, muito distante do teto da meta oficial para este ano —IPCA de 3,75%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.
Esta situação tem levado os agentes de mercado a ajustar constantemente as suas expectativas para 2022, o que é mais relevante para o BC este ano. Na recente pesquisa Focus, estima-se que a taxa de inflação para este ano e no próximo será de 8%, e no próximo ano será de 4,03%, número superior ao centro da meta, que é de 3,5% em 2022, com uma tolerância de 1,5 pontos.
Em função do quadro, a projeção do mercado já é de que o BC terminará 2021 ajustando os juros básicos a um patamar mais alto: 8%, ante nível atual de 5,25% e uma taxa de 2% no início deste ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se reúne na próxima semana para sua decisão para a Selic. Desde agosto a sinalização era de que a autoridade antevia um novo aumento de 1 ponto percentual para este mês.