Demanda pelo produto, valorização cambial e estiagem puxaram altas
Quem costuma consumir leite frequentemente já percebeu a alta nos preços nos supermercados. Para o produtor, o litro de leite pago no período de 12 meses apresentou expressivo aumento de 28%, passando de R$ 1,31 em abril de 2020 para R$ 1,69 neste ano. Essa alta, que é positiva para o setor, já está pesando no bolso do consumidor, em forma de leite longa vida, muçarela e outros produtos lácteos.
Dados da ATeG (Assistência Técnica e Gerencial) em Bovinocultura de Leite mostram que, nos meses de fevereiro, março e abril, os produtores rurais atendidos conseguiram receber um valor igual ou até maior ao informado pelo Cepea, que foi de R$ 1,69.
Quanto maior o volume e a qualidade do leite, mais o produtor recebe pelo litro produzido. No caso de produção leiteira acima de 500 litros por dia, o valor pago aos produtores atendidos pela ATeG chegou em média a R$ 1,71 por litro.
Exportações
Já as exportações cresceram 188%. Em abril deste ano, as vendas para outros países de produtos lácteos nacionais atingiram 3,75 mil toneladas, uma variação positiva se comparadas ao mesmo mês de 2020. Os produtos que puxam a fila das vendas para o exterior são leite em pó, creme de leite, queijos e manteiga.
“Esse aumento expressivo tem a alta do dólar como principal justificativa. Com o salto da moeda internacional, vender para outros países se tornou mais atrativo aos produtores de lácteos do Brasil”, explica o analista técnico do Sistema Famasul, Juliano Bastos.
Preço ao consumidor
Em abril, a variação mensal no preço do leite nas prateleiras sofreu alta de 0,32%. Um dos pontos que ajudam a explicar a diferença de preço é a estiagem. Mesmo com as chuvas que vêm sendo registradas esta semana, atualmente o campo sofre com o fenômeno, que reflete nos valores praticados no comércio. A falta de chuvas implica o mau desenvolvimento do pasto e, consequentemente, na demora da engorda do gado, que afeta a produção do leite.
Outro fator influenciador está relacionado à demanda por alimentos no mundo. O leite, considerado essencial numa cesta básica, teve alta significativa em vários países. Decorrente da demanda, ocorre a procura por insumos que auxiliam os animais no processo de produção. Tais insumos são importados e,
com a valorização cambial do momento, o valor dos itens não sai barato.
Levando em consideração essas variáveis e o período de entressafra, a previsão é de que o consumidor possa sentir nos próximos meses um peso maior na hora de comprar leite. De acordo com Daniela Dias, economista da Fecomércio-MS, as pessoas devem ficar atentas e preparar-se. “Tivemos um aumento de 0,32%. E essa alta pode ficar um pouco mais significativa. É bom, realmente, o consumidor se preparar para isso e fazer muita pesquisa de preço. Uma coisa é certa, se aumentar a demanda e o câmbio continuar se valorizando, a gente pode ter um aumento dos preços”, avaliou a economista.
(Texto: Rosana Siqueira e Felipe Ribeiro)