Preço elevado da batata lavada desanima donos de sacolões e restaurantes

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

[Texto: Julisandy Ferreira, Jornal O Estado de MS]

Setor de hortifrutis se veem em beco sem saída com relação a inflação do alimento

Em constante oscilação, a batata lavada tem apresentado preços mais elevados que o convencional. Conforme apurado pelo jornal O Estado, o preço médio na Capital, a partir de pesquisas feitas em seis supermercados, é de R$ 9,74, com variação de R$ 28,62% entre os estabelecimentos. Nos sacolões de Campo Grande, o cenário se mostra desanimador para quem busca empreender.

Afinal, não só a batata, como também o alho apresentam altas significativas, levados por dificuldades de produção e logística do produto. Restaurantes da cidade também pontuam o encarecimento, no entanto afirmam que a batata ainda é um item insubstituível na alimentação dos brasileiros.

O proprietário do Sacolão do Produtor, localizado no bairro Pioneiros, Antônio Roberto Galvão, explica que vai todos os dias ao Ceasa. Na semana passada, a saca de 25 kg estava a R$ 220 e nesta semana está a R$ 170. Conforme o comerciante, as vendas estão fortemente ligadas a esses valores, já que a rotatividade do comércio acompanha os preços. “Enquanto ela está mais alta as vendas caem e isso é normal, e quando abaixa um pouco as vendas se estabilizam. Tudo isso tem se dado ao clima, porque as regiões que produzem batatas, por exemplo, Minas Gerais e Paraná, estão tendo muitas variantes climáticas e o difícil é manter o mercado”, avalia o empreendedor.

Na região, a maioria dos consumidores são de classe média baixa e justamente por isso, conforme avalia Galvão, quem sai mais prejudicado no fim das contas, são eles. “A parte mais prejudicada é quem está na ponta e quem vai vender para o consumidor final. Eu acredito que a economia não está propícia, porque as coisas têm aumentado em proporções muito grandes. Tudo que eu tenho aqui dentro do meu sacolão vem sofrendo alta e as pessoas não conseguem acompanhar isso financeiramente, o salário não acompanha, essa é a realidade nossa”, lamenta Galvão.

Conforme avalia o proprietário do Sacolão do Produtor, grande parte dos produtos vem de outros estados, principalmente porque Mato Grosso do Sul não tem políticas fortes de fomento aos agricultores. Com isso, o produto precisa passar por uma série de processos, que o tornam cada vez mais caro. “A gente precisava ter um incentivo maior dos produtores rurais. Um exemplo é a hortaliça, nós já estamos no mês de junho, que seria um mês que era para a gente vender  somente mercadoria da região e nós estamos trazendo mercadoria de São Paulo para cá e isso tudo gera custos maiores, porque você tem que pagar
frete, impostos, a distância é longa, teria que ter um olhar específico para essa parte”, destaca.

Outro ponto interessante citado pelo comerciante, é o valor do alho, que Galvão destaca como a ‘bola da vez’. Afinal, no estabelecimento, o produto é vendido na faixa de R$ 50. “O alho realmente hoje está sendo a bola da vez, é o item que a gente mais percebe que tem aumentado, porque é o caso de a gente não ter produção aqui e precisa ser importado e quem importa tem dificuldades nas alfândegas, acaba chegando em um custo muito alto. Hoje, por exemplo, uma caixa de alho de 10 kg está na faixa de R$ 330 ou R$ 350, ou seja, um custo de R$ 35 por kg de alho. A gente trabalha os valores em uma margem de 30% a 40%, porque é um produto que quando você coloca ele na banca e ele recebe o ar, ele incha, então você perde o peso e hoje no sacolão está R$ 54,50 o kg”, explicou.

O gerente da Casa das Frutas, Edilson da Silva, explica que há três meses percebeu os valores da batata mais elevados que o convencional. Responsável por fazer as compras do estabelecimento, Silva relembra que pagava R$ 120 e agora não adquire o produto por menos de R$ 250 a saca de 25 kg. “O cliente acaba sentindo, porque é caro demais. Hoje todo mundo reclama do preço das coisas, que está muito alto, por mais que baixe algumas coisas, não aguenta uma semana e já sobe de novo, está oscilando, porque abaixa um pouquinho uma semana e já sobe de novo”, pontua o gerente da Casa das Frutas, que vende no local a batata a R$ 12,90 o kg.

O destaque também se volta para o alho, que Silva pontua sendo um dos “vilões” do momento. Se antes pagava R$ 180 em uma caixa de 10 kg, hoje o gerente compra o produto a R$ 330 ou R$ 340. “Olha, o tomate foi a R$ 250 a caixa e voltou a R$ 80, mas provavelmente vai subir de novo. A cebola também está cara e esses são os vilões da vez, além do alho que também está caro. O quilo hoje a gente vende a R$ 49, mas também tem o de R$ 39, porque o alho ele varia de tamanho, se você trabalha com o alho grande, ele é mais caro. Tudo está caro hoje, então não tem mais o que falar, só assumir mesmo”, lamenta Silva, que revela usar táticas de comercialização nos produtos para não assustar o consumidor.

Restaurantes

No restaurante Pimenta de Cheiro, localizado na Av. Guaicurus, o preço da batata também tem sido sentido. Afinal, todo produto que é produzido no campo e comercializado nos sacolões, chega ao prato do consumidor, que precisa arcar com os custos das intempéries climáticas e das dificuldades logísticas quando o assunto é a agricultura brasileira.

A sócia-proprietária do restaurante Pimenta de Cheiro, Eduarda Protásio, avalia que hoje o cenário de altas é geral e não somente em seu restaurante. Por isso, ela compreende a revolta do consumidor quanto aos valores, já que os produtos aumentam, mas o salário não. “A batata a gente consegue fazer mais pratos, mas ou aumenta o preço ou reduz a qualidade. É uma situação difícil para todo mundo, tanto para o empresário quanto para o cliente, porque o cliente tudo que vai consumir tem aumentado, não é só a comida ou restaurante, porque todos os lugares que você consome tem aumentado, mas o dinheiro não está aumentando, o salário não está aumentado”, avalia a empresária.

A também sócia-proprietária do restaurante Pimenta de Cheiro, Janaína Protásio, explica que ainda que a batata tenha apresentado valores elevados, ela é uma das preferidas na produção do restaurante, pois permite ser produzida de maneiras diferentes, o que resulta em mais opções à clientela. “ A batata é o seguinte, ela pode estar cara, mas a gente acaba tendo que comprar, porque é uma verdura que faz várias coisas e não tem como substituir por outra”, argumenta a empresária.

Como produto encarecido nas gôndolas, Janaína Protásio também entra na lista das que pontuam o encarecimento do alho. “O alho até a semana retrasada eu pagava R$ 18 o kg, hoje ele está custando R$ 25. Para manter tudo, você tem que reduzir na comida, e reduzindo, você perde a qualidade, mas o cliente
não entende isso”, lamenta Protásio.

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