Baixa demanda de vendas e altas taxas de juros estão entre os fatores que motivam a queda
A desvalorização no preço dos veículos usados e novos é uma tendência mundial, cujos impactos econômicos têm refletido no Brasil de forma acentuada. A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) informou que um dos motivos é a alta inflação e que a demanda dava sinais de desaceleração, para 2023. Em comparação ao ano passado para este ano, os automóveis já tiveram 20% de redução, na hora da compra.
A equipe do jornal O Estado conversou, na manhã de ontem (22), com o empresário e um dos maiores vendedores de picapes e SUVs do Mato Grosso do Sul, Sérgio Ferraz. Ele explica que a influência nos valores é a mudança de governo federal e a inflação que está precisando ser controlada, por meio de uma elevada taxa de juros. “Com a baixa demanda nas vendas, o preço dos automóveis, em geral, deve cair nos próximos meses”, citou.
Ferraz afirma que a taxa elevada e a redução de crédito acabam acarretando uma redução substancial na venda de veículos, pois 85% dos veículos que são vendidos são financiados. “Outra coisa que temos que analisar é que, durante a pandemia da covid19, os valores dos carros subiram de forma estratosférica. Muitos veículos usados acompanharam o preço do zero- -quilômetro”, destacou.
Outra questão apontada pelo empresário é a retomada das vendas por parte das montadoras, o que tem permitido com que as empresas ofereçam oportunidades mais atrativas para os veículos novos.
“Do ano passado para 2023, o mercado começou se comportar diferente e começou a não vender. As concessionárias de carros zero-quilômetro começaram a liquidar os veículos, com descontos e taxas zero, que são subsidiárias. Desta forma, a maioria as montadoras está trabalhando com descontos na Capital, pois não existe mais o problema de falta de produção de veículos e, sim, a falta de venda, o que acarretou a paralisação na fabricação, por conta do excesso de produção”, destaca Sérgio.
O empresário, que é proprietário da SF Carros e Caminhonetas, salienta ainda que, quando o preço do carro zero-quilômetro cai, as condições para comprar ficam mais facilitadas e isso acaba impactando nas vendas dos seminovos. Sendo assim, os usados também têm uma redução e é preciso ter um trabalho maior no momento de vender, no que diz respeito a descontos e flexibilização para o cliente.
“Um exemplo simples – o veículo zero-quilômetro Volkswagen T-Cross, modelo 2021, que custa R$ 140 mil e está com taxa zero com 50% de entrada. Estamos falando de um financiamento no valor de R$ 70 mil. No final das contas, muda para R$ 75 mil, pois, tem o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras e de Crédito). Já se você pegar o mesmo carro e ano, mas usado, ele está custando R$ 120 mil. O financiamento é de R$ 60 mil, em uma taxa normal de mercado, esse valor acaba virando R$ 100 mil. Com a diferença de R$ 20 mil, o cliente dificilmente vai comprar o veículo usado”, destaca Ferraz.
“A desvalorização dos veículos novos, consequentemente, acaba recaindo sobre os carros usados. Nós, da área, estamos passando por esse momento e percebemos que as montadoras estão se mobilizando para tentar algo junto ao Estado. Na minha visão de mercado, pode ocorrer a incisão do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) ou a redução do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). Até que isso seja resolvido, os valores irão permanecer reduzidos”, finaliza o empresário.
Crise no setor
O consultor de vendas Maurício Miranda afirma que a queda de preço já era esperada. “Durante o período da pandemia, os valores dos carros novos subiram e acabou elevando o preço dos automóveis seminovos pelos lojistas. Entrou em prática a lei da oferta e da demanda”.
Já o proprietário da CR Motors, Caio Brum, acredita que as queda de preço nos automóveis seminovos já começaram ter redução, em Campo Grande. “Como lojista que investiu no momento em que o valor estava alto, prejudica um pouco o mercado. Porém, com os veículos zero-quilômetro saindo de fabricação, o preço tende a começar a subir novamente. Com isso, vamos seguir trabalhando e analisar como o setor vai se comportar”.
O proprietário da garagem Cleobauto Automóveis, Cleber Zanoni, afirma que a desvalorização no preço dos veículos seminovos ainda não está afetando as vendas. “Parando a fabricação, a procura pelos carros seminovos vai aumentar. A tendência é que os lojistas acabem diminuindo o preço dos carros. Atualmente, estamos com muito veículo em estoque e pouca procura. A oferta está maior e os empresários vão começar a recuar nos preços.”
Férias coletivas
Com o mercado de automóveis em desaceleração, quatro montadoras já anunciaram férias coletivas, entre março e abril, em suas fábricas, no país. As paralisações na produção vão ocorrer em unidades da General Motors, Hyundai, Volkswagen e Stellantis, que reúne marcas como Fiat, Peugeot e Citröen. Com uma grande quantidade de estoques, as montadoras visam adequar a produção à demanda do mercado.
Segundo o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Márcio de Lima Leite, apesar de um aumento de quase 13% nas vendas, em janeiro, já era esperado um crescimento maior. Na data, ele ainda informou sobre a necessidade de redução da taxa de juros, para o setor voltar a apresentar crescimento.
“O desempenho do primeiro bimestre, limitado pelas condições de crédito e oferta de suprimentos, reforça a necessidade de promover o reaquecimento do mercado e as cadeias locais de produção”, explica Márcio.
Por Marina Romualdo – Jornal O Estado do MS.
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