Política de dissolução de comunidades aumenta o número de favelas na Capital

Foto: Nilson Figueiredo
Foto: Nilson Figueiredo

Cufa estima que, atualmente, existam 43 conjuntos de barracos na Capital, contudo os registrados são 39

Em todo Brasil, no dia 4 de novembro é celebrado o Dia da Favela e, em Campo Grande, a Cufa (Central Única das Favelas) estima que são 43 ocupações irregulares e possui 43 mil mães cadastradas. Para marcar a data, a central proporcionou oficinas de grafite, breakdance e graduação de capoeira às 150 crianças atendidas na sede, localizada no bairro São Conrado.

Quando falamos de favela é preciso deixar de lado o que visualizamos em grandes metrópoles, pois Campo Grande tem o perfil de apresentar esses espaços pulverizados, em diferentes pontos. Por mais que há terrenos cedidos pela prefeitura, a falta de condição para construção de uma casa de alvenaria obriga as famílias a se protegerem em barracos, sendo assim, continuam sendo favelas.

“Podemos usar como exemplo, da situação atual das favelas em Campo Grande, a ocupação que existia na rua Poética do Caiobá. Lá era conhecida como Alphavera, que foi dividida e hoje há dois grupos, no Santa Emília e no Mário Covas. Esses espaços são divididos para tirar a visibilidade e resistência das pessoas que ficarem naquele lugar, ao lado dos seus familiares. Essas pessoas desejam que aquele lugar seja regularizado, onde estão os parentes”, explica a coordenadora da Cufa, Letícia Polodoro.

Essa dissolução dos aglomerados de barracos faz com que as favelas aumentem na cidade, chegando ao número estimado de 43 pontos de ocupação irregular. Para alcançar essas famílias com ações assistenciais, a central realiza o cadastramento das mães, que são 43 mil.

A força da mulher periférica foi celebrada nas oficinas, em que a grafiteira Thais Maia, de 28 anos, e a dançarina de break Aline Queiroz foram convidadas para mostrar que essas manifestações artísticas, majoritariamente masculinas, podem ser desenvolvidas pelas “minas”.

“Elas também podem se jogar na arte, que isso pode ser tornar sua profissão e também levar em consideração a parte terapêutica, que ajuda a entrar em contato com a gente mesmo, na forma de se expressar. Em tudo mulher é minoria, então vim mostrar que dá para treinar e se desenvolver, mesmo sem recursos”, destaca Thais.

Ao som de Emicida, a professora e produtora cultural Jéssica Cândido, que trabalha no reforço escolar das crianças, destaca a importância da cultura para a periferia. “Aqui proporcionamos vivências de arte, de cultura, pois sabemos que as comunidades carecem disso. A arte é um direito da periferia, mas muitas vezes fica centralizada. Sempre que tem um evento empolga muito as crianças e esporte e arte andam lado a lado, por isso sempre tentamos proporcionar isso, a elas e suas mães. É um momento de difusão de conhecimento”, defende.

O acesso a um novo universo, diferente do que estão acostumados, traz reflexos positivos em suas casas, como testemunha a merendeira Aline Fagundes, que tem dois filhos cadastrados em atividades na Cufa Campo Grande. “Ajuda porque as crianças ficam muito na rua, estavam com dificuldades na escola, mas quando entraram no reforço melhoraram as notas. A capoeira cobra disciplina e isso refletiu muito em casa. Além disso, elas são acolhidas e tratadas como filhos. Sabemos que quando uma criança chega em um lugar e quer voltar é porque está sendo bem tratada”, concluiu Aline.

Brasil tem 17,9 milhões de habitantes

Segundo dados da “Exame”, com 423 favelas no Brasil e 17,9 milhões de habitantes, se todas as favelas fossem um Estado teriam a 6ª maior massa de renda do Brasil, com os moradores movimentando R$ 202 bilhões em renda própria por ano, ficando atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná, segundo estudo realizado em março deste ano, pelo Instituto Locomotiva.

Atualmente, 50% dos moradores de favela empreendem, o que soma 5,2 milhões de empreendedores. Destes, apenas 37% têm CNPJ.

Por – Kamila Alcântara, Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul.

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