Parlamentar não acredita em interferência do presidente na disputa ao governo de MS e alerta sobre o “BolsoDoria” e Witzel
Rafael Belo e Rayani Santa Cruz
Foto/ Nilson Figueiredo
Bolsonarista de carteirinha, o deputado estadual Capitão Contar assumiu a presidência estadual do PRTB, partido que tem como lema: “Deus, pátria e família”. O pré-candidato ao governo do Estado confidenciou que deixou o PL, a sigla de Jair Bolsonaro, nos “apagar das luzes” por se deparar com articulações políticas que o deixaram desconfortável. Entre elas o fato de o PL de MS se alinhar com o PSDB, que lançou o pré-candidato Eduardo Riedel para disputar o cargo de governador.
“Quem acompanhou meu mandato sabe sobre a quantidade de denúncias que eu fiz contra o governo do PSDB e a quantidade de cobranças que fizemos sobre a transparência. Então, como é que fica a minha situação? De estar em um partido que vai apoiar o PSDB. Então, ficou algo incoerente, incabível, e lógico que, sabendo disso, procurei outro partido”, explicou.
Contar participou de entrevista no podcast “Entrevistando”, do grupo do jornal O Estado. O parlamentar afirma que a onda bolsonarista continua mais forte, passados três anos de mandato do presidente. “A diferença de 2018 para 2022 é a percepção do eleitor. Nós vimos que, em 2018, entraram no cenário político diversas figuras, e que com o passar do tempo a máscara caiu. O eleitor está atento e não queremos mais gritadores, que na hora H afrouxam ou são infiéis”, citando os casos de rompimento de João Doria e Wilson Witzel, ex-governadores de São Paulo e Rio de Janeiro.
O pré-candidato analisou que a maioria que disputará ao governo vai buscar apoio de Bolsonaro, visto que Mato Grosso do Sul seja um estado bolsonarista. Na sua visão, quanto mais palanque tiver melhor ao presidente na busca por aumentar a base no Congresso Nacional, visando aos próximos quatro anos. Porém alerta de ter candidatos que não compactuam com as bandeiras defendidas por Bolsonaro. “Tem uma diferença muito grande entre a pessoa ter uma foto com Bolsonaro e a pessoa ser bolsonarista. Existe um abismo aí no meio. Não basta ser Bolsonaro na foto, tem de ser de fato. Acho que este ano o eleitor estará atento quanto a isso”, acredita. Contar completou que não há ameaça sobre a reeleição de Bolsonaro; “só se roubarem nas
urnas”, diz.
O Estado: O deputado havia se filiado ao PL e mudou para o PRTB exatamente pelo fato de poder ser o candidato ao governo de MS?
Contar: Quem acompanhou de perto nossas redes sociais pode ver o que estava acontecendo nessa janela partidária. E todos sabem que, para você sair candidato nas eleições, deve estar filiado a um partido político. Quando o presidente Bolsonaro se filiou no PL, eu automaticamente, por ser seguidor, por ser bolsonarista, por gostar do trabalho dele, por querer apoiá-lo legitimamente nisso, querendo estar na mesma sigla, e numa chapa bolsonarista, eu me filiei ao PL. Estive em Brasília, e tivemos essa oportunidade. No entanto, e depois que me filiei, a gente estava vendo que em diversos estados havia problemas partidários. Em cada região isso acontecia de uma maneira.
Aqui em Mato Grosso do Sul, o diretório foi formado numa condição que eu fiquei muito desconfortável, porque eu via que o apoio do PL estava tendendo a ir para o PSDB. E isso ficou muito claro em inúmeras matérias, inúmeras falas, de que o PL apoiaria o PSDB. Agora, veja comigo: quem acompanhou meu mandato sabe sobre a quantidade de denúncias que eu fiz contra o governo do PSDB, a quantidade de cobranças que fizemos sobre a transparência, de fazer uma fiscalização intensa, e que culminou em um pedido de impeachment do governador do nosso Estado [Reinaldo Azambuja]. Então, como é que fica a minha situação? De estar em um partido que vai apoiar o PSDB. Então, ficou uma situação incoerente, incabível, e lógico que, sabendo disso, procurei outro partido. Partido que fosse alinhado com o presidente Jair Bolsonaro, que tivesse como lema “Deus, pátria e família”, e tive a graça de ter essa oportunidade com o PRTB de MS, na figura do Beto Figueiró. É um partido 100% alinhado com o presidente, porém sem amarras. É um partido que está livre, sem nenhuma influência e sem essa questão do arco de alianças.
O grande problema de um partido político é esse arco de alianças que é feito, em que você, apesar de estar filiado, tem de estar num mesmo palanque de uma pessoa que você não gosta e com quem você não concorda. Eu fui feliz em encontrar o PRTB e assumi a presidência no nosso Estado, e hoje a gente tem total liberdade e condição de fazer este trabalho que eu já venho desenvolvendo no Estado. A mudança ocorreu em 31 de março e a janela estava prestes a fechar, mas deu certo e fomos muito bem recebidos pela executiva nacional.
O Estado: A sua pré-candidatura está entrelaçada a ter o apoio do presidente?
Contar: Sou pré-candidato a governo do Estado. E todo pré-candidato quer ter apoio do presidente Bolsonaro. Lógico que ele é uma força muito grande aqui em Mato Grosso do Sul, e em todo o Brasil. Só que tem uma diferença muito grande entre a pessoa ter uma foto com Bolsonaro e a pessoa ser bolsonarista. Existe um abismo aí no meio. Não basta ser Bolsonaro na foto, tem de ser de fato. Acho que este ano o eleitor estará atento quanto a isso, até para evitar que aconteça como em 2018, a questão do “BolsoDoria”, a questão do Witzel [ex-governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel], aquela questão dos movimentos pseudo de direita – e que usaram a imagem do Bolsonaro nas manifestações e logo no começo do mandato essas máscaras caíram, e eles mostraram quem realmente são. Então, a gente quer blindar o presidente disso. E ele pode ter certeza de que no PRTB nós somos Bolsonaro de fato, além de foto.
O Estado: Por que há uma disputa em torno do apoio do presidente? Bolsonaro será o fiel da balança em MS?
Contar: O Bolsonaro é a mola propulsora disso tudo. O eleitor pode até não gostar do jeito do presidente. Mas os valores que ele representa, aquilo que nos motiva e que deixa essa chama acesa em nosso coração é o que realmente toca a maioria dos brasileiros. Essa energia que o Bolsonaro tem, todo mundo quer ela emprestada em ano de eleição. Acontece que nem sempre essa energia gruda na pessoa, porque em atitudes ela não corresponde. Eu acho que o eleitor estará bem atento e vai saber bem quem “vai ser o de fato, e o de foto” nestas eleições.
O Estado: Mas até que ponto a ausência de um apoio explícito do presidente prejudica na conquista de votos?
Contar: O Bolsonaro deixou muito claro, recentemente, que não interferirá nas eleições estaduais e a gente entende que ele deve ter uma infinidade de apoios, e o foco dele é o Congresso. Ele deve ter uma base de senadores, de deputados federais, que sejam fiéis e vão permitir que ele tenha governabilidade. Este é o foco número um. Independente se ele irá subir em algum palaque pelos estados do Brasil, e esta é a nossa dúvida, mas estamos com ele. Independente disso, acho que ele representa tudo aquilo que a gente tem em nosso coração e tudo que a gente vai levar na ponta da lança nestas eleições de 2022.
O Estado: Como fica sua relação com os demais políticos do partido? Sabemos que tem simpatia com João Henrique Catan, mas rusgas com Coronel David…
Contar: Gosto muito do deputado João Henrique Catan, é também, como eu, um dos deputados mais novos, e ambos em fim de primeiro mandato. Gosto muito dos projetos dele e estivemos juntos em inúmeras votações, quando eu pude acompanhar e ele pôde me acompanhar também. Mas cada deputado na Assembleia tem uma linha de trabalho e um perfil. Eu acho que, dos novos, cada um conseguiu transparecer ao seu eleitor para que veio. Com relação ao Coronel David, acho que ele é um excelente deputado, não tenho nada contra a pessoa dele. Mas, em alguns momentos, nós destoamos em votações, e destoamos em algum embate, mas isso é natural no trabalho do Parlamento.
Por exemplo, nas questões do Fundersul (Fundo de Desenvolvimento do Sistema Rodoviário de Mato Grosso do Sul), dos professores, em que eles tiveram seus rendimentos diminuídos, na questão dos impostos. Eu tive esses assuntos e votei diferente da base tucana. Então, é perfil de cada deputado, de cada compromisso, e os eleitores que acompanham nosso mandato e as discussões vão saber se foram ou não representados.
O Estado: Acredita que a mesma onda bolsonarista que elegeu diversos políticos em 2018 continuará forte em 2022?
Contar: A onda bolsonarista vai ser ainda mais forte. A pessoa pode até não gostar da pessoa do presidente. Conheço algumas, mas não conheço ninguém que goste do Lula. Conheço algumas pessoas que não gostam do jeito do presidente, porque ele é militar ou porque ele é bravo, porque fala curto e grosso, e conheço uma infinidade de pessoas, que são a grande maioria dos meus eleitores. Eles apostam no presidente e gostam do jeito dele. A diferença de 2018 para 2022 é a percepção do eleitor. Nós vimos que em 2018 entraram na política diversas figuras, que com o passar do tempo a máscara caiu. O eleitor está atento e não queremos mais gritadores, que na hora H afrouxam ou são infiéis.
O Estado: O movimento bolsonarista está formando uma base ainda?
Contar: O presidente Jair Bolsonaro conseguiu contaminar positivamente o brasileiro. Nós voltamos a ter orgulho de morar neste país, de venerar este chão, de estender uma bandeira do Brasil na frente da nossa casa o ano todo e não só na Copa do Mundo. Antes era um Brasil que estava sendo devastado pelo campo da esquerda, e agora está com claros sinais de que estamos no caminho certo. É claro, em 2020 e 2021 passamos por uma pandemia. E o Brasil ainda segue pujante, vibrante e esta continuação é vital para o nosso país e para as nossas famílias. O Bolsonaro reviveu e aqueceu todos esses sentimentos que são comuns aos cristãos, aos conservadores e às pessoas que querem nosso país mais honesto.
O Estado: MS pode ser taxado como um estado bolsonarista?
Contar: MS deve ser um dos estados mais bolsonaristas do Brasil. Vemos que os valores que o Bolsonaro apresenta estão no coração das pessoas. Nós, aqui, amamos nossa terra e nosso país. Somos tementes a Deus, queremos as coisas corretas, é um Estado forte no agronegócio. E aquela questão de invasão de propriedade, questão de legítima defesa, tudo isso é muito aflorado no sul-mato-grossense. Acho que aqui o presidente vai ter um apoio imenso e ainda maior que em 2018.
O Estado: A direita num estado conservador como MS poderá levá-lo ao segundo turno?
Contar: A minha mudança para o PRTB aconteceu no apagar das luzes. E vimos diversos pré-candidatos também mudando de partido. Um exemplo: em São Paulo onde o ex-ministro Tarcísio Freitas estava mudando para o PL, e ao fim se filiou ao Republicanos. Essas coisas são naturais da política. O importante é o ideal e como cada partido, e cada candidato, prestará o seu apoio a esta construção de Brasil. Se a gente for olhar o passado dos partidos, a gente se assusta, porque diversas legendas que hoje se endireitaram no passado não estavam tão bem assim.
Então, essa “ordem unida” que foi colocada faz muito bem para o presidente. Quanto mais partidos ele tiver melhor. E a questão se vou ou não para o segundo turno, quem vai dizer são os eleitores. Estamos a seis meses das eleições, e vamos sentir nas pesquisas, movimentações, nas redes sociais, e sentir a força e o peso que cada candidato terá naquilo que ele representa. O que eu mais discuto aqui no Estado é que agora temos uma opção e uma solução diferente.
O Estado: Nesta eleição presidencial há espaço para alguma surpresa?
Contar: Não teremos surpresas, só se roubarem nas urnas. Não há espaço para terceira via que não sabe se nasce ou se morre, não anda. Olha a bagunça que está a terceira via, que não sabe se forma alianças, se vai ou se fica. O eleitor não é mais bobo e não vai mais cair nessa. Então, chega desse teatro todo e vamos colocar o Brasil para a frente e para vencer.
O Estado: Se fosse apostar, em quanto seria na reeleição de Bolsonaro?
Contar: O eleitor teve a oportunidade de amadurecer nestes quatro anos, e quando a gente viu quão podre era a administração federal. O quanto estavam aparelhadas as empresas públicas, o quanto a gente tinha de corrupção nas esferas política e pública. E tudo isso fez com que o eleitor amadurecesse. Eu acho que ele vai ser eleito no mínimo com a mesma quantidade de votos que teve em 2018.