Moda como expressão da liberdade feminina

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Bruxas Contemporâneas

“Toda peça de vestuário sofre ações do tempo em algum momento e passa a ser tratado como um item descontraído, perdendo toda a altivez do início de sua criação, principalmente porque a grande maioria das peças foram criadas para os homens e só com a revolução das mulheres e seu local de fala na sociedade passa a ser incorporado ao guarda-roupa feminino”, reflete a arte-educadora, artista visual, figurinista, estilista e dona da marca Boli Boli, Patrícia Rodrigues. Com esta fala pode-se afirmar que bruxa sempre foi uma forma de desqualificar a mulher perante o mundo quando esta se mostrava – desde épocas medievais – iguais aos homens e livres, por isso, as Evas modernas se apropriaram do substantivo e o vestem. Patrícia criou a coleção “Bruxas Contemporâneas para exaltar esta ideia como discussão feminista na moda.

Linha própria
Sem compromisso com tendência, Boli Boli, vai criando peças conforme os acontecimentos do seu universo íntimo. “A Coleção Bruxas Contemporâneas foi uma necessidade pessoal de falar sobre o feminismo na moda. Fiz um editorial, reuni mulheres para explicar de maneira visual quem eram as bruxas hoje em dia. Mulheres de poder, mulheres de conhecimento, mulheres do saber e brinquei com figurinos em 2017”, explica Patrícia evidenciando que faz a própria linha editorial sem influências do eixo Rio-São Paulo que costuma ser referência em eventos de moda, assim ela não cria coleções padrões lançadas por estação como as esperadas verão e outono/inverno.

A estilista lembra como é importante dar atenção a tudo e a todos, pois a inspiração pode vir de lugares, ações e pessoas inesperadas. Foi desta forma que surgiu a ‘Coleção Bruxas Contemporâneas’. “Cheguei no xis da questão quando meu filho de três anos, estava assistindo a um desenho e me falou que as Bruxas eram ‘fadas bravas’ e fomos desenvolvendo este diálogo. Achei uma grande sacada de uma criança. Ele foi me contando quem eram estas mulheres. Entrei no universo lúdico dele que foi de onde surgiu esta coleção”, revelou

Pluralidade
Foi por meio dos estudos que Patrícia descobriu o quanto a sociedade é opressora e que a roupa e a representação visual são diálogos importantes. Ela conheceu a vertente feminista “Intersecionismo” e entendeu que além das opressões de gênero existem outros fatores que oprimem as mulheres como raça, sexualidade e classe. “Eu crio peças não necessariamente pensando em tendências mas em diálogos culturais. Eu trago esta linguagem artística para uma realidade próxima a minha. Sou do território do Mato Grosso do Sul. Então, minha moda traz questões indígenas, de gênero e fui descobrindo por meio de pesquisas que a mulher tem muitas representações que não se retém ao corpo feminino”, contou.

Patrícia cria coisas que tenham relações com o seu sentimento pessoal. Seu público sempre foi mulheres, gays e lésbicas. “Eles se identificavam com as coisas que eu fazia. Eu sempre tive muita dificuldade de fazer coisas masculinas. No mestrado fui estudar melhor sobre estas linguagens e percebi que minha linguagem era mais underground, um público mais diferenciado”, recorda.

O nome Boli Boli veio de um apelido da adolescência da artista que usa o conceito da sustentabilidade com essência na customização nas suas redes sociais que levam o nome da marca. Patrícia cresceu em Fátima do Sul e a origem do apelido é de um episódio do programa “Sai de Baixo”. Isso há 25 anos. Ela tinha 15 anos, mas já criança demonstrou interesse pela moda. Ela criou a logomarca e chegou em Campo Grande aos 20 e poucos anos. Ela cria, em sua maioria, peças únicas e foca sua alta-costura no upcycling dando um novo olhar a peças as “reconceituando”.

Janela para o Mundo
Boli Boli já conquista o Brasil e vai fixando um lugar nos outros con

tinentes. Recentemente, durante a pandemia, alçou um voo importante. “Minha moda sai do meu ateliê e vai para o mundo. Em dezembro mandei, peças, máscaras, que criei dentro da coleção do Reggae para os Estados Unidos. Elas foram parar dentro de uma comunidade Rastafári”, comemora. A marca é a extensão de quem a sua criadora é. Fórmula local de sucesso que alcança com sua exclusividade a extens ão feminina de todas as partes. É a própria receita da globalização. “Consegui levar minha marca para outros lugares, ouros territórios e outros olhares. Envio produtos da minha marca, meus produtos para o Brasil inteiro. Movimento por meio das minhas redes sociais e do meu site. Mas, Campo Grande é minha casa. Vivo, crio e me desenvolvo aqui, porém, a partir daqui tenho uma janela para o mundo”, conclui.  Todo o material da artista está no www.boliboli.com.br. 

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