Metanol: SES-MS vai iniciar a distribuição de antídotos para os municípios

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Morte de Jovem na Capital leva à apreensão de Cachaça e exame deve sair em 30 dias e levanta alerta

O SUS (Sistema Único de Saúde) não tem estoque suficiente de antídotos utilizados para tratar casos de intoxicação por metanol, alertou na tarde de ontem (3), CIATOX (Centro de Informação e Assistência Toxicológica) da Unicamp em entrevista ao UOL. As substâncias Fomepizol e etanol, estão sendo utilizadas para bloquear os efeitos tóxicos do metanol e estão em falta ou em poucas quantidades nos estados brasileiros.

O aumento de casos relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas adulteradas levou o Ministério da Saúde a adotar medidas emergenciais em todo o país. O ministro Alexandre Padilha anunciou uma parceria com a Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares) para criar um estoque estratégico de 4,3 mil ampolas de etanol farmacêutico em hospitais universitários e unidades do SUS. Além disso, está em andamento a aquisição de mais 150 mil ampolas, garantindo que estados, incluindo Mato Grosso do Sul, tenham acesso conforme a demanda.

O fomepizol, medicamento específico para intoxicação por metanol e ainda não disponível no Brasil, também é prioridade. A Anvisa também iniciou um processo para identificar fornecedores internacionais e viabilizar a importação rápida do produto. Paralelamente, o Ministério da Saúde solicitou à OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) a doação imediata de 100 tratamentos e pretende adquirir outras 1.000 unidades pelo Fundo Estratégico da entidade.

Suspeita na Capital
Enquanto o país faz uma força-tarefa para tentar encontrar os medicamentos necessários. Mato Grosso do Sul registrou ontem (3), o primeiro caso suspeito e que já está sendo investigado. Um jovem de 21 anos morreu na Capital após passar mal depois de consumir bebidas alcoólicas, incluindo whisky no sábado (28) e cachaça no domingo (29). Ele foi atendido na UPA Universitário, mas não resistiu e faleceu na noite da quinta-feira (2).

Segundo o boletim de ocorrência, o jovem chegou consciente, respondendo perguntas da equipe médica e relatando fortes dores no estômago, náuseas e vômitos com líquido escuro. Apesar de inicialmente apresentar sinais vitais estáveis, seu quadro se agravou rapidamente, levando ao óbito.

Após a morte, a Polícia Civil recolheu garrafas de cachaça e vodka em um mercado e em uma conveniência no bairro Jardim Colibri, para investigação da possível intoxicação por metanol. Equipes da DECON (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo) atuaram na conveniência, enquanto policiais do Garras estiveram no mercado. A ação contou também com apoio da Vigilância Sanitária e do Procon. Ao todo, foram apreendidas cinco caixas de bebidas da mesma marca consumida pela vítima.

Em entrevista ao O Estado, a proprietária da conveniência, Maria Silva, afirmou que toda a documentação e notas fiscais foram entregues à polícia e que irá depor conforme solicitado. “Todas as minhas bebidas são de procedência brasileira. Não trabalho com nenhum produto que não seja nacional. Todas as bebidas são compradas com notas fiscais”. Sobre a bebida consumida pelo jovem, Maria explicou que se trata da cachaça popular “Camelinho”, que foi recolhida para análise.

Em nota, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) informou que o corpo do jovem foi encaminhado ao IMOL (Instituto de Medicina e Odontologia Legal), onde passou por exame necroscópico. Amostras seguem para análise laboratorial aprofundada, que deverá indicar a causa da morte. O prazo estimado para conclusão dos exames é de aproximadamente 30 dias.

Até o momento, não há confirmação da presença de metanol, e a investigação pericial segue em andamento.

Metanol e etanol
Para esclarecer os riscos, o médico emergencista da Unimed, Rodrigo Quadros, explicou ao O Estado, os efeitos do metanol no organismo e reforça a importância do atendimento rápido em casos suspeitos.
“O etanol provoca sintomas de embriaguez, enquanto o metanol afeta o organismo de forma mais grave. Entre os sinais iniciais estão alterações visuais, turvação da visão, desequilíbrio e déficits motores. Em fases mais avançadas, pode ocorrer rebaixamento do nível de consciência, sintomas que podem confundir com intoxicação etílica convencional”, alerta.

Ele reforça que os sintomas da intoxicação por metanol podem evoluir rapidamente, entre 12 e 24 horas, incluindo dor abdominal, cefaléia intensa e mal-estar persistente, diferindo da intoxicação alcoólica comum.

Quadros alerta que a intoxicação por metanol é grave e pode ser letal. “Entre as complicações mais sérias está a acidose metabólica, que pode provocar alterações severas no organismo e levar à morte. Por isso, o atendimento rápido é essencial”, enfatiza.

Como o etanol atua como antídoto
O médico explica que o etanol atua como antídoto ao competir com o metanol pelas enzimas responsáveis pela metabolização. “Quando o etanol vence essa competição, ele é metabolizado primeiro e seus subprodutos não são tóxicos, enquanto o metanol poderia se transformar em ácido fórmico, uma substância altamente letal”.

Ele acrescenta que no Hospital Unimed tem ampolas de etanol disponíveis para atendimento emergencial, mas confirma a preocupação em caso de um possível surto da doença. “No entanto, o estoque não é suficiente para enfrentar uma epidemia ou surto de intoxicações por causa dessas adulterações”, finaliza.

Casos suspeitos
O Brasil havia registrado 48 casos suspeitos de intoxicação por metanol. Outros 11 casos já haviam sido confirmados por meio de detecção laboratorial pelo Cievs (Centro de Informações Estratégicas e Resposta de Vigilância em Saúde), segundo a Sala de Situação instalada pelo governo federal
Apenas uma morte decorrente desse tipo de intoxicação foi confirmada pelo Ministério da Saúde no estado de São Paulo. Mais sete óbitos seguem em investigação, sendo dois em Pernambuco e os outros cinco também em São Paulo.

Por Suelen Morales e Geane Beserra

 

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