Metanol: bares de Campo Grande reforçam fiscalização e adesão a treinamentos após alerta de bebidas adulteradas

Foto: reprodução
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Após recomendação do Ministério Público, estabelecimentos e entidades do setor adotam medidas emergenciais e participam de capacitação nacional para garantir segurança dos consumidores

O alerta sobre bebidas adulteradas com metanol, que já provocou mortes e dezenas de intoxicações em todo o país, acendeu um sinal vermelho em Mato Grosso do Sul. Em Campo Grande, bares, restaurantes e distribuidoras reagiram rapidamente à recomendação do MPMS (Ministério Público Estadual), que deu prazo de 10 dias para que entidades e empresas apresentem providências concretas de fiscalização e rastreabilidade.

A Abrasel/MS (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) e a Amas (Associação Sul-Mato-Grossense de Supermercados) foram notificadas a orientar seus associados sobre práticas rigorosas de controle na compra e checagem de bebidas alcoólicas.

O documento, assinado pelo promotor Luiz Eduardo Lemos de Almeida, reforça que toda a cadeia de fornecimento: “do fabricante ao ponto de venda”, responde solidariamente por danos causados ao consumidor.

Por sua vez, a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) afirmou que acompanha de perto os casos de intoxicação por metanol registrados em São Paulo e a suspeita relacionada a um falecimento no Estado. Em nota, a entidade informou que tem buscado informações e orientações junto à Vigilância Sanitária e à Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo) para proteger empresários e clientes.

Operação em bares da região central
Na noite de sexta-feira (3), uma operação conjunta da Vigilância Sanitária, Semades e Guarda Civil Metropolitana percorreu bares da Rua 14 de Julho e da Marechal Rondon para verificar a procedência das bebidas. A ação, de caráter orientativo, também fiscalizou ambulantes e conferiu notas fiscais dos produtos comercializados.

De acordo com a Vigilância Sanitária, nenhum caso de intoxicação por metanol foi identificado em Campo Grande até o momento. A prefeitura informou que a rotina de inspeções será mantida e que as equipes estão em alerta para qualquer suspeita de adulteração.

“Responsabilidade é também moral”, diz empresária

Para a empresária Vera Lucia Britez, do Veras Bar, o momento exige união e vigilância redobrada. “Nosso bar sempre trabalhou com fornecedores oficiais, todos com nota fiscal e procedência garantida. O alerta sobre bebidas adulteradas reforçou ainda mais a importância de redobrar os cuidados. Estamos ampliando as conferências de cada lote recebido e documentando todas as checagens para garantir que nenhum produto de origem duvidosa chegue ao cliente.”
Ela destaca que a responsabilidade vai além da questão legal: “Os bares têm uma responsabilidade enorme, tanto legal quanto moral, com seus clientes. Entendemos que não se trata apenas de evitar sanções, mas de preservar a saúde e a confiança de quem nos escolhe.”

Setor reage com transparência
Com receio de uma possível fuga de clientes, bares e restaurantes de Campo Grande têm se manifestado publicamente nas redes sociais para reafirmar a segurança de seus produtos.
O Bada Bar divulgou nota garantindo que “trabalha exclusivamente com marcas originais e fornecedores confiáveis, sempre com nota fiscal e procedência garantida”.

A Lupland ressaltou que o chope servido é artesanal e produzido localmente, “com procedência garantida e controle de qualidade direto do fabricante”.

No Yallah CG, a administração informou que todo o estoque foi checado e está em ordem, mas suspendeu novas compras até que as análises oficiais sejam concluídas.

O Vexame Bar adotou postura semelhante, utilizando apenas o estoque já existente. “A decisão é para não gerar pânico nem expor nossos clientes a risco”, informou o estabelecimento.
Outros locais, como o Valley CG e a Malibu Bartenders, também reforçaram protocolos de segurança, checagem de notas fiscais e compras exclusivamente de distribuidores oficiais.

Treinamento nacional com certificado
Em meio às fiscalizações, entidades do setor reforçam o trabalho de prevenção com capacitação gratuita. A Abrasel, a ABBD (Associação Brasileira de Bebidas Destiladas) e a Abrabe (Associação Brasileira de Bebidas) estão realizando uma série de treinamentos online gratuitos, com certificado, sobre como identificar bebidas falsificadas e agir de forma segura.
Na primeira edição do curso, ministrada em 1º de outubro por Daniel Monferrari, head de Proteção às Marcas e Segurança Corporativa da Diageo, mais de 2 mil pessoas participaram em todo o país, segundo a Abrasel.

Durante o treinamento, foram abordadas técnicas para identificar adulterações em tampas, rótulos, selos fiscais e líquidos. A presença de lacres plásticos sobrepostos ou tampas amassadas é um indicativo comum de fraude. O selo fiscal autêntico, produzido pela Casa da Moeda, deve revelar apenas uma letra por vez: R, F ou B quando exposto à luz.

Garrafas da mesma marca devem apresentar nível uniforme de enchimento e líquidos translúcidos, sem impurezas. Diferenças na coloração podem indicar falsificação. O presidente da ABBD, Eduardo Cidade, alertou que o comércio ilícito traz prejuízos à economia e risco à saúde: “Um produto ilegal é vendido, em média, 35% mais barato que o original. Essa diferença, que pode chegar a 48%, somada à impunidade, estimula o mercado clandestino.”

Tecnologia contra fraudes
Enquanto as autoridades intensificam a fiscalização, pesquisadores da UEPB (Universidade Estadual da Paraíba) desenvolveram um método capaz de detectar adulterações com 97% de precisão, utilizando luz infravermelha sobre a garrafa, mesmo lacrada.
O grupo trabalha agora na criação de um canudo que muda de cor ao detectar metanol, para ajudar consumidores a identificar contaminações antes do consumo. A previsão é de que o protótipo esteja finalizado e pronto para testes laboratoriais até o fim de 2025.

O que diz a recomendação do Ministério Público Estadual
Prazo: 10 dias úteis para que bares, restaurantes e supermercados informem ao MP as providências adotadas.
Obrigação: Compra de bebidas apenas com CNPJ ativo e nota fiscal válida.
Verificação: Conferência da autenticidade da NF-e, lotes, rótulos e lacres.
Registro: Guarda de comprovantes e criação de registros internos de checagem.
Sinais de alerta: Lacres tortos, rótulos com erro, tampas amassadas, odor de solvente.
Ações imediatas: Isolamento e preservação de amostras de produtos suspeitos.
Responsabilidade: Toda a cadeia — do fabricante ao ponto de venda — responde solidariamente por eventuais danos ao consumidor.

Por Suelen Morales

 

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