Mesmo com pouco casos confirmados, sorotipo 3 é a preocupação da vez

sorotipo 3
Foto: Arquivo

Mato Grosso do Sul, conforme boletim da primeira semana epidemiológica de 2024 registrou apenas três casos confirmados de dengue, dos 62 casos prováveis da doença, ou seja, os que englobam os casos em investigação, casos confirmados e ignorados. Entretanto, com o período de calor intenso e muitas chuvas, oportunos para a proliferação do mosquito Aedes aegypti, a preocupação da vez é com o sorotipo 3 que voltou a circular desde o ano passado no Brasil. 

Segundo a superintendente em Saúde, da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), Veruska Lahdo, o risco de epidemia é muito alto com o retorno do sorotipo. “Sempre existe o risco, principalmente com o retorno de circulação do sorotipo 3 da dengue em alguns estados e que há mais de 15 anos não circula no país”, explica. 

Em Campo Grande, conforme a pasta, a última epidemia de dengue pelo sorotipo 3 ocorreu em 2007, ou seja, já tem 16 anos. No Estado, dados apontam que os sorotipos circulantes são o 1 e 2. Inclusive, a SES (Secretaria de Estado de Saúde) afirmou que não há nenhum caso em investigação no Estado para o sorotipo 3. 

Contudo, o infectologista Rivaldo Venâncio, da Fiocruz, enfatiza que a pessoa infectada por qualquer um dos quatro soritipos fica protegida por toda vida, ou seja, não há reinfecção pelo mesmo sorotipo. Então a preocupação está com quem não teve dengue tipo 3 e com quem nasceu após 2007. 

“Como já tem mais ou menos 15 anos que nós não temos epidemias de dengue causado pelo sorotipo 3 no Brasil, significa dizer que já existe uma população, e aí portanto nós estamos falando principalmente de crianças e adolescentes, que não tiveram contato com esse tipo do vírus”, explica. 

No Brasil, desde maio do ano passado, estados vem confirmando casos do sorotipo 3. A circulação começou com quatro casos da infecção registrados em Roraima, na região Norte, e no Paraná, no Sul do país. Atualmente foram identificados casos do sorotipo 3 em São Paulo e no Pernambuco. 

Imunização

A vacina Qdenga, que combate à dengue, não poderá ser utilizada em larga escala no Brasil por conta da capacidade do laboratório fabricante, conforme informações do Ministério da Saúde. O PNI (Programa Nacional de Imunizações), junto com o CTAI (Câmara Técnica de Assessoramento em Imunizações) ainda trabalham na estratégia que será utilizada com o quantitativo disponível. 

Por meio da assessoria de imprensa, o Ministério da Saúde informou ao Jornal O Estado que a definição dessas estratégias deve ocorrer nas próximas semanas, mas que a primeira remessa está estimada em 460 mil doses, que são aplicadas em “pares” nos pacientes, ou seja, 230 mil brasileiros serão imunizados pelo SUS (Sistema Único de Saúde). 

“A fabricante deixou bem claro que a capacidade é restrita ao fornecimento de doses. Só para ter uma ideia, em fevereiro a gente vai receber 460 mil doses. É uma vacina de duas doses, então percebe-se o quantitativo que a gente precisaria, por exemplo, para imunizar grande parte do Brasil, nós somos 200 milhões de habitantes basicamente. Com essa capacidade restrita, a gente precisa definir essa estratégia de público prioritário, regiões prioritárias, isso vai acontecer agora em janeiro”, disse a assessoria. 

Com isso, a vacinação se torna parte da estratégia de combate às doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. “O que é bem importante é informar que a vacinação contra a dengue não é a única estratégia de enfrentamento às arboviroses, ela se insere dentro de um rol de estratégia. O Ministério da Saúde vai enviar 256 milhões [de reais] para os estados aumentarem a vigilância, fora a capacitação que a gente está fazendo de agente de endemia”, reforça o Ministério. 

Em dezembro de 2023, a portaria nº2.298, do Ministério da Saúde, autorizou o repasse de recursos para o Fundo Nacional de Saúde aos Fundos Estaduais, Distritais e Municipais de Saúde, relativo ao apoio financeiro para ações de vigilância e prevenção de endemias com ênfase nas arboviroses para esse ano. 

De acordo com a publicação, o Mato Grosso do Sul receberá R$659,4 mil de investimento para ações de combate ao Aedes aegypti. Porém, os municípios mais populosos recebem repasses separados. Serão R$799 mil para Campo Grande; R$85,6 mil para Corumbá; Dourados de R$216,5 mil e Três Lagoas de R$117,5 mil. 

A Conitec considerou estratégico ofertar o imunizante, ainda que haja limitação na capacidade de entrega por parte da fabricante. Considerando a quantidade insuficiente de doses para atender a demanda do país, a estratégia de vacinação será discutida nos Comitês Técnicos Assessores de Imunização e Arboviroses. 

Para dar mais celeridade ao processo de incorporação, a consulta pública sobre a tecnologia foi realizada em caráter de urgência, por um período reduzido de 10 dias, e recebeu mais de 2 mil contribuições. Ainda durante as negociações com o fabricante, o Ministério da Saúde conseguiu uma redução de 44% no custo por dose: passando da oferta inicial de R$ 170 para R$ 95. 

O último boletim epidemiológico da dengue, divulgado pela SES (Secretaria de Estado de Saúde), mostrou que 2023 registrou 41 mil casos da doença, com 42 óbitos no Estado. Já a Chikungunya teve a maior alta da história, com 3,3 mil casos, sendo 36 deles em mulheres gestantes e três óbitos. 

Destaque nacional – O município de Dourados foi destaque nacional por ofertar gratuitamente doses da vacina Qdenga para pessoas entre 4 e 59 anos. A previsão é de imunizar 150 mil douradenses que, recebendo as duas doses, garantem até cinco anos de proteção.

Por Kamila Alcântara e Rafaela Alves.

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