Enquanto isso, pais e alunos temem por novos massacres
O ataque a uma creche de Blumenau (SC), há mais de uma semana, que deixou quatro crianças mortas, motivou, em Mato Grosso do Sul, novas medidas e planos de segurança, que foram anunciados para conter a onda de ameaças nas escolas da Capital e do interior do Estado. Contudo, em Campo Grande, o jornal O Estado constatou que, em dez escolas visitadas, nenhuma tinha guardas fazendo a segurança, no local.
O jornal O Estado visitou as escolas estaduais Amando de Oliveira, na Vila Piratininga; Orcírio Thiago de Oliveira, no bairro Jardim Paulista; João Carlos Flores, no bairro Rita Vieira e Elvira Mathias de Oliveira, na Vila Santo Eugênio e, em todas elas, não havia guardas de segurança, nem mesmo nas redondezas. A cena se repetiu nas escolas municipais Iracema de Souza Mendonça, no Universitário e Leire Pimentel, no bairro Colibri 2.
Levando e buscando a filha de 8 anos, a auxiliar de reprodução Dina Tabosa, 46, disse não ter sossego. “Não tenho paz. Depois do que aconteceu, bate um medo, uma preocupação. A vontade mesmo de nós, mães, é não trazer o filho para escola, enquanto não tiver uma segurança adequada ou ficar de plantão, aqui na frente, para ver se está tudo bem. Porém, temos que trabalhar, precisamos seguir a vida, mas não é fácil, quando o assunto é filho. Coloco nas mãos de Deus e vou embora”, relatou a mãe, ao deixar a pequena no portão da escola municipal Professor Alcídio Pimentel, na Vila Carvalho.
Questionada sobre o guarda de segurança da escola, Dina afirmou nunca ter visto. “Que eu saiba, aqui não tem guarda e deveria ter”, completou ela.
Para o servidor público Miguel Cabreira, 48, buscar os filhos na escola tem tido outro significado. O que antes era rotina, agora é preocupação. “Faço questão de vir buscar, para saber se está tudo bem, se na saída não vai acontecer nada. Fico com receio, mas eles precisam estudar. A escola precisa ser um local de segurança, afinal, nosso bem mais precioso está aqui”, ressaltou o pai, no portão da escola municipal Bernardo Franco Baís, na Vila Santa Dorotheia.
Contando com a proteção do pai, a estudante Isabela Cabreira, 6, disse gostar de ir para aula. “Eu gosto de vir estudar, brincar com meus amigos, mas fico com medo de briga e de pessoas más. Ainda bem que aqui é tranquilo e a gente se diverte”, disse a menina.
No ponto de vista de um pai, que preferiu não se identificar, o patrulhamento é bem-vindo, mas não resolve muita coisa. “Os ataques têm acontecido durante as aulas. Escolas e salas de aulas estão sendo invadidas, mas onde está a polícia, nesse horário? Queremos segurança de verdade! ”, questionou o pai de uma aluna da escola municipal Professora Adair de Oliveira, na Vila Piratininga.
Segundo as forças de segurança, informações sobre um suposto ataque, previsto para os dias 14 e 20 de abril, estão circulando, mas a segurança será reforçada.
Escola particular investe e adota “botão do pânico”
Um dia após o acontecimento trágico de Blumenau, na última quarta-feira (5), o diretor da escola Biovilla, localizada no bairro Rita Vieira, Bruno Buytendorp, decidiu, junto com a equipe administrativa, inserir, na instituição, quatro botões chamados “botões do pânico”. Segundo ele, a medida visa estimular uma comunicação interna entre os colaboradores, caso algo aconteça e seja necessário pedir ajuda rapidamente.
“Eu comecei a pesquisar as alternativas que eram usadas fora do Brasil, porque no nosso cenário não há muitas medidas a serem adotadas, além de cerca elétrica e alarme. Então, eu soube do botão do pânico e, no dia seguinte, já procurei uma empresa especializada para realizar a instalação aqui, na escola”, explicou.
Bruno, que atua na área da educação desde 2010, ressaltou que, após a instalação, foi realizado um treinamento com os funcionários e colaboradores. “Tivemos uma reunião, na qual estabelecemos um protocolo, orientando todos os funcionários sobre como agirem, caso escutem o acionamento do botão do pânico, que é bem alto, podendo ser ouvido até pela vizinhança, que também pode acionar a polícia”, disse.
O diretor ainda expôs sua preocupação como pai e afirmou que, na sua opinião, a tecnologia nas mãos das crianças, sem monitoramento, pode ser um dos motivos que está ocasionando tantas tragédias. “O que aconteceu em Santa Catarina foi um desafio de jogo e, hoje em dia, uma criança com 3 ou 4 anos já tem um celular à disposição, mas cabe aos pais monitorar o que está sendo visto, o que estão jogando, com quem estão falando. Meu filho tem 10 anos e eu tenho um programa, no qual eu consigo ver tudo o que ele acessa e, mesmo que ele não goste, eu explico que é necessário porque ele é só uma criança”, salientou.
Por Brenda Leitte e Tamires Santana – Jornal O Estado de Mato Grosso do Sul
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