População insiste em não fazer a separação correta do lixo reciclável
Domingo à noite, uma pizza acompanhada com guaraná bem gelado cai bem, tornando o filme ou série ainda mais legal. Depois de descartar a caixa de papelão e a garrafa PET, já refletiu sobre como esse momento de lazer vai impactar a vida de alguém, lá na frente? Você sabia que o nosso lixo passa por uma “cadeia de produção” e é responsável pelo sustento de 120 pessoas? Para quem trabalha diariamente com o que é desprezado, essa falta de conscientização sobre o trabalho na UTR (Usina de Triagem de Recicláveis), localizada no Parque do Lageado, às margens da BR-262 e de frente para o Aterro Sanitário da Solurb, está impactando negativamente o serviço e gerando gastos ao Poder Público.
Em meados de 2011, a gestão municipal começou o processo de “modernização do lixão”, que consistiu em colocar a situação dentro do que está previsto pela Lei dos Resíduos Sólidos, que proíbe a existência de lixões a céu aberto. A partir daí, começou o processo de implantação da UTR e o trabalho de conscientização da população campo-grande, realizado pela Concessionária Solub e a Prefeitura, sobre o dever individual de separar o lixo seco do molhado, do que é orgânico e do que pode ser reciclável. O objetivo é que coloquemos para coleta comum os lixos que irão se decompor e nos dias de coleta seletiva colocar para serem levados os materiais que podem ser reutilizados.
“Na correria do dia a dia, a destinação correta dos resíduos sólidos vai para o final da fila das prioridades. Muito já avançou, pois os estudantes, crianças e jovens recebem muitas informações nas escolas e levam para casa, com o objetivo de fazer o bem para nossa casa comum, o planeta Terra. Muitos não separam, por desinformação de como fazer de forma correta, e é aí que entra nosso trabalho, de informar com palestras, oficinas e gincanas, para quaisquer públicos, dias e horários. Tentar sensibilizar, para que todo conhecimento adquirido vire ações práticas e que aumente a adesão na destinação correta de todos os resíduos, esse é nosso objetivo maior”, explica Mara Calvis, coordenadora de Educação Ambiental da Solurb.
Então, começa o trabalho da linha de produção, que acolheu aqueles trabalhadores que mencionamos anteriormente, antes conhecidos como “catadores”, hoje são cooperadores devidamente equipados e com direitos trabalhistas respeitados, mas que ainda enfrentam dificuldades, por falta de conscientização das pessoas. De alimentos que contaminam o material pronto para venda a fezes, sem contar os animais mortos e seringas com agulhas, tudo isso ainda vai parar nas esteiras de seleção.
Wellington Costa é funcionário da Solurb e coordena a UTR e é os olhos da concessionária e da Prefeitura, na administração da usina. Ele começou a caminhada dentro da empresa como motorista de caminhão, testemunhou todo o processo de mudanças e lutas. Ele viu a montanha de lixo se transformar em um grande paredão de grama com o logo da empresa e, também, homens e mulheres deixarem os grandes sacos de lixo e roupas maltrapilhas por uniformes de cooperativas e EPIs (Equipamentos de Proteção Individual).
“Se a população separar de forma correta na sua residência o aterro sanitário terá aumento da vida útil, não teremos material reciclável sendo mandado para lá. E acaba que a prefeitura tem que gastar mais com essa manutenção”, destaca Wellington. Sendo o aterro referência no Mato Grosso do Sul, as prefeituras de Bandeirantes, Jaraguari, São Gabriel do Oeste e Terenos também enviam seus lixos para cá, pagando por cada tonelada enviada.
A linha de produção
Os caminhões chegam na UTR e descarregam os lixos na plataforma. Cada monte desse é de responsabilidade de uma cooperativa e vão selecionando cada produto e destinando para funis menores, abaixo deles, com nomes como coloridos para revistas e jornais, vidros, latas, plásticos e por aí vai.
Durante 10 anos, Daniel Arguello escalou as montanhas do lixão, mas foi defensor da criação da UTR e hoje, aos 45 anos, é do conselho fiscal da Coopermaras e uma das lideranças dentro da usina. Ele conta um pouco dos desafios que enfrenta todos os dias.
“Quando o material vem seco, conseguimos triar e fazer nossa renda, que ultimamente anda tão difícil, pois está vindo quase 40% de rejeitos. As pessoas precisam ver para onde vão os lixos que descartam, não é simplesmente entregar para o coletor e acabou. Por exemplo, vem uma caixa com leite pela metade, azedo, e estoura na prensa, perdemos todo aquele fardo e perdemos a venda”, compartilha Daniel.
Ou seja, aquela caixa de pizza e garrafa PET, de domingo à noite, se bem higienizadas, são prensadas e vendidas para o reaproveitamento. Existem empresas que adquirem grandes lotes em troca de maquinários, o que torna o trabalho deles mais rápido e seguro.
Os campo-grandenses que estão realmente preocupados com isso vestem uniformes da educação infantil.
“Nosso aumento na adesão da coleta seletiva sempre tem a ajuda de nossos maiores multiplicadores, as crianças e jovens. Em dez anos, saímos de 5% para quase 30% na adesão e participação na coleta seletiva. Várias famílias e escolas testemunham que as crianças ficam indignadas com tanto resíduo sendo jogado nas ruas e que chegam aos mares, matando animais marinhos e poluindo a água e o solo. As crianças serão cidadãos mais conscientizados.”
Por – Kamila Alcântara
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