“Meu sonhos é construir meu estúdio e ajudar as pessoas ao meu redor. Trampo independente dependente só da gente. Quero chegar a um nível de visibilidade onde possa levar comigo meus parceiros, parceiras, artistas e todo mundo ao meu redor”, revela Lili Black vencedora do Ellas Festival com o rap “Mães”. Ela faturou seis mil reais e desbancou 19 competidoras.
MC, rapper, produtora, beatmaker e poeta marginal, é Lili Black quem faz as próprias batidas. Com sua voz rouca e mansa ela humildemente não acreditou na vitória. “Foi uma coisa inesperada para mim. É difícil acreditar no meu trabalho porque sempre têm pedras no caminho, vários desincentivos, falta de acesso e de oportunidades. Então, quando acontece uma oportunidade dessa e a gente realmente chega lá e ganha ainda… É muito difícil de acreditar mesmo. Mas cheguei e estou muito feliz. Estou emocionada. Minha ficha ainda não caiu. Ganhei entre tantas mulheres f*das. Foram 82 minas que se inscreveram”, revela.
A letra da sua música vencedora, “Mães”, conta da batalha que mulheres com filhos enfrentam no dia a dia, principalmente as mães negras e indígenas. “Fiz essa letra pensando na minha mãe, pois vendo o que ela passou já sentia as injustiças que as mulheres sofrem. Decidi colocar no plural depois, transformar em um grito de várias mães, porque sei que muitas vão se identificar”, explica.
Ela sempre sonhou conquistar sua independência e ela vem chegando no próprio ritmo. “Meu próximos passos são lançar logo menos “Verme é Verme” que entre as violências sofridas destaco sobre a violência policial no Brasil, principalmente contra os pretos. A letra é minha e o beat é do B2. Outros singles virão. Estou no corre para montar meu próprio estúdio e comprar meu notebook”, destaca Lili Black.
de onde vem?
Liliane de Souza Silva, a Lili Black, traz a brasilidade da luta diária com os dois sobrenomes mais tupiniquins desta vida em seus 25 anos originários do Piauí, foi criada na favela de Heliópolis e está em Campão desde 2019. Em 2016, entrou na música e mais especificamente no rap e hip hop, quando conheceu as batalhas de freestyle nos gêneros. Ela estava perdida e o hip hop a encontrou. “Foi um passo muito importante da minha vida falar: Eu sou MC. Sou Rapper. Vou rimar. E tem toda a questão de espaço porque o rap, o hip hop, são culturas comandadas por homens. Nós estamos aqui quebrando todos estes padrões, estes esteriótipos”. Lili lançou sua primeira música em 2020: “Dinheiro Não Compra Postura”.
Ellas Festival
Foram dois dias de apresentações virtuais do Ella Festival, idealizado pela musicista Ana Cabral e apresentado pelas cantoras Karina Marques e Marina Dalla. Em segundo e terceiro lugar ficaram respectivamente Ariadne Farinéa, com a música “Indomada”, que levou o prêmio de R$ 4 mil e Camila Oliveira, que se apresentou com a música “Fugere Urbem”, e foi premiada com R$ 2 mil.
Das inscrições apenas 20 artistas se apresentaram: Namaria Schneider (Pai Ausente); Erika Espíndola (Eu Não Consigo Acreditar); Fabi Strengari (Pense Felicidade); Joyce Bethânia (Playlist Recaída); Juliana Araújo (Palco da Vida); Julie Kethlyn (Embornal) Jully Loureiro (Entardecer); Karô Castanha (Presságio); Karoline Munhoz (Nosso Eu); Duo Femme Lounge (E Se); Larissa & Mariana (Bate Boca); Larissa Pulchério (Escrevi um Jazz para Você); Lívia Merlo (Enquanto Você Não Vem); Mariana Castilho (Moreno); Rebeca Queiroz (Vida); Stefani Godoy (Vai ser Real) e Olga (Beco sem Saída). Todas as músicas do festival são autorais.
Ariadne Farinéa, começou a compor por volta de 2013. Seguiu com sua carreira artística e após algumas pausas voltou a gravar este ano. “O Ellas Festival foi a oportunidade perfeita para apresentar a música que será o carro chefe do meu EP, ‘Indomada’. Essa canção é um grito para mim, funciona como um desabafo de tudo que a mulher vive diariamente. Falo do social, desde sofrer assédio até o estupro, e também da parte afetiva, sobre relacionamentos”, pontua.
Ela ficou surpresa com a posição no festival e comemorou muito sua colocação. “Estava assistindo pela televisão, tinha acabado de chegar na casa da minha mãe. Aí quando foi anunciado gritei, pulei, fiquei muito feliz. O festival estava em um nível muito bom, meninas que eu não conhecia, que só precisam de uma oportunidade. Todas muito boas e talentosas”, frisa.
Já Camila Oliveira, que ficou na terceira posição dentre as 20 competidoras, começou sua carreira nos movimentos culturais das periferias de São Paulo, há pouco mais de 10 anos. Há 6 anos veio para Campo Grande e sua música “Fugire Urbem”, expressão do latim que significa fugir da cidade, fala um pouco sobre essa mudança em sua vida, desigualdade, falta de terra, entre outras problemáticas.
“Falo da cidade como um bicho grande, os medos, as dificuldades, desigualdade, terra. Sempre me apeguei com a natureza e minhas composições conversam muito comigo, então gosto de passar minhas vivências para minhas letras. Ficar com o terceiro lugar é uma responsabilidade muito grande, estou muito feliz, contemplei canções, outras mulheres, tivemos boas trocas. Por mais festivais que celebrem as mulheres, compositoras, musicistas, mulheres em suas múltiplas facetas e múltiplas artes”, finaliza.
O projeto conta com recursos do Fundo Municipal de Investimentos Culturais (FMIC 2019), promovido pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur), por meio da Prefeitura Municipal de Campo Grande.
O show das 20 cantoras que participaram do evento está disponível no canal do Ellas Festival, no YouTube.