Incorporação de vacina contra a dengue no SUS deve trazer benefícios a médio e longo prazo

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Foto: Arquivo O Estado

Infectologista cita a importância da adesão da população em meio à previsão de alta de infecções

O Ministério da Saúde decidiu incorporar, ontem (21), a vacina Qdenga, contra a dengue, ao SUS (Sistema Único de Saúde). Segundo a ministra da Saúde, Nísia Trindade, com isso, o Brasil se torna o primeiro país do mundo a oferecer o imunizante no sistema público universal. Em entrevista ao jornal O Estado, Julio Croda, médico infectologista, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, destacou a liberação como um passo importante na luta contra a doença, contudo, a distribuição por parte do laboratório não ocorrerá em larga escala, deixando a imunização em um grupo restrito e em regiões prioritárias, o que tende a postergar os resultados para o médio e longo prazo. 

Segundo o especialista, a incorporação acontece em um momento-chave, uma vez que as mudanças climáticas que estão sendo registradas tendem a aumentar o número de vetores circulando e, com isso, a expectativa é que o Estado e os municípios se preparem para atender a um número maior de pacientes que necessitem de hospitalização. A Organização Mundial da Saúde preconiza entre 6 e 16 anos de idade como a faixa etária ideal de introdução da vacina. Dentro dessa faixa etária, já há outros imunizantes que podem ser associados à aplicação da vacina da dengue e otimizar os atendimentos nos hospitais. 

“Nesse início, o quantitativo de doses que a empresa tem disponibilidade de construir para 2024 é muito pequeno para o país todo e com isso, vai ofertar essa vacina que previne os casos sintomáticos a uma pequena parcela da população, adolescentes, crianças ou idosos, muito provavelmente para adolescentes. É importante destacar que a vacina chega ao Ministério por um preço mais baixo do que nas clínicas privadas e a nossa expectativa é expandir a vacinação nos próximos anos, para garantir mais proteção, não vai ter um impacto para este verão, para esta epidemia de dengue”, destacou. 

Julio Croda destaca ainda que é importante lembrar que a vacina é uma nova ferramenta contra a doença, cujos efeitos devem sem complementados junto com os de outras medidas que já estão sendo aplicadas, tais como o controle de vetores e ações de redução da proliferação das arboviroses. 

“O Ministério pode, eventualmente, expandir, é mais uma conquista importante, temos que continuar fazendo o controle dos vetores, o método Wolbachia e é o conjunto de estratégias que vai reduzir os números e, no futuro médio e longo prazo, impactar e reduzir o número de casos, internações e óbitos.” 

Cabe destacar que a vacina contra a dengue já está disponível na rede particular desde o mês de junho deste ano, com custos que variam entre os R$ 400 e R$ 600. Questionado, o infectologista confirma que o valor alto tende a desestimular a procura pelo imunizante, cenário que pode ser diferente, agora que a vacina será gratuita.

A vacina tem um esquema de duas doses e com um custo bem elevado, então, uma parcela pequena da população tem acesso à vacina”, conta. 

A incorporação do imunizante foi analisada e aprovada pela Conitec (Comissão Nacional de Incorporações de Tecnologias), no SUS. A estratégia para a utilização do quantitativo de vacinas será definida pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações) e pela Ctai (Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização) que também vão estipular o público- -alvo prioritário e regiões com maior incidência da doença para a aplicação das doses. A definição dessas estratégias deve ocorrer nas primeiras semanas de janeiro. Segundo o laboratório, a previsão é que sejam entregues 5,082 milhões de doses em 2024, entre fevereiro e novembro. O esquema vacinal é composto por duas doses. 

“O Ministério da Saúde avaliou a relação custo-benefício e a questão do acesso, já que em um país como o Brasil é preciso ter uma quantidade de vacinas adequada para o tamanho da nossa população. A partir do parecer favorável da Conitec, seremos o primeiro país a dar acesso público a essa vacina, como um imunizante do SUS. E, até o início do ano, faremos a definição dos públicos-alvo, levando em consideração a limitação da empresa Takeda do número de vacinas disponíveis. Faremos priorizações”, explicou a ministra da Saúde, Nísia Trindade. 

O imunizante Qdenga tem registro na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) com indicação para prevenção de dengue causada por qualquer sorotipo do vírus para pessoas de 4 a 60 anos de idade, independentemente de exposição prévia. Para o vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Renato Kfouri, a vacina será importante. “A dengue é uma doença que impacta praticamente todo o território nacional e o controle do vetor vem sendo insuficiente para reduzir a infecção. Estamos com recorde de óbitos”, disse. 

Parceria da Prefeitura de Dourados com o laboratório japonês Takeda vai imunizar 150 mil pessoas de 4 a 60 anos

Conforme noticiado anteriormente pelo jornal O Estado, a cidade de Dourados será a primeira a receber vacinação em massa contra a dengue. Por meio de parceria com o laboratório japonês Takeda, foram garantidas doses suficientes para imunizar 150 mil douradenses, entre 4 e 59 anos e 11 meses. A campanha de vacinação começará no dia 3 de janeiro, com a distribuição dos imunizantes para todas as UBS (Unidades Básicas de Saúde).

Por Michelly Perez.

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