Mesmo sabendo dos possíveis riscos, mulheres têm optado por ter filhos após estabilidade pessoal
As mulheres têm cada vez mais optado por priorizar a formação e a carreira profissional, antes de entrar de fato no mundo da maternidade e adentrar a rotina exaustiva e encantadora que é gerar e criar um ser, sendo assim, o número de mulheres que decidem por engravidar após os 35 anos chegou a dobrar nas últimas duas décadas.
É notório que a vida de uma mulher muda radicalmente após a maternidade, uma vez que a criança depende inteiramente da mãe em quase todos os cuidados, principalmente para se alimentar e, pensando desta forma, a mãe teria de se dedicar inteiramente ao bebê por algum período de sua vida, o que faria outras coisas ficarem em segundo plano.
Na teoria há muita sensatez em esperar o momento certo para se engravidar, seja essa espera motivada pela busca de uma estabilidade financeira, carreira profissional ou qualquer que seja a causa. Mas, na prática, essa decisão pode ocasionar alguma dificuldade ou empecilho para conseguir se tornar mãe após os 40 anos de idade, segundo especialista.
O jornal O Estado conversou com o ginecologista e obstetra Benedito de Oliveira Neto, que explicou os riscos de se apostar em uma gravidez tardia. Ele esclarece que como os óvulos, que são as células reprodutivas da mulher que ficam armazenadas nos ovários, “envelhecem” com os anos, passam a ter maior chance de trabalhar mal na hora de encontrar um espermatozoide e gerar um embrião.
“A incidência de malformações e alterações genéticas aumentam já a partir dos 35 anos, após os 40 a incidência quase dobra, elevando o número de abortos espontâneos por malformação e de crianças nascidas com alguma síndrome”, afirma Benedito.
Um estudo recente da Famivita também abordou o tema e mostrou que, entre diversas mulheres que responderam à pesquisa, houve algum risco ou até mesmo a chance de não conseguir um resultado positivo, após esperar muito tempo para gerar o primeiro filho.
Assim, às vezes, conquistar o positivo vira uma verdadeira batalha, especialmente porque após os 40 anos as chances de engravidar naturalmente são de apenas 5%. Porém, nem todas as mulheres sabem dessa informação, conforme observado no estudo. Nele, 48% das participantes apontaram desconhecer que as chances eram pequenas.
Ainda segundo o doutor Benedito, às mulheres que desejarem engravidar após os 35 anos, quando a gestação já é considerada de alto risco, é indispensável que elas façam uma visita prévia para uma avaliação médica antes que engravidem.
“Biologicamente e emocionalmente, a gente é diferente aos 41 anos. Eu me preocupei mais com a saúde na última gestação”, diz Amani Paes, 42 anos.
Na vida real
Seja por escolha ou não, a maternidade após os 40 anos é desafiadora, tanto fisicamente quanto psicologicamente, principalmente quando se tem mais de um filho, que é o caso da médica anestesista Amani Paes Mancini, 42 anos, que é mãe de quatro crianças de 12 anos, 6, 4 e 11 meses. Ela vivenciou na pele as diferenças da primeira gestação aos 29 anos e a última aos 41 anos.
Para o jornal O Estado, Amani destacou que sempre teve o sonho de ter uma família grande e que ela e o marido decidiram tentar o quarto filho, mas completamente sem pressão, pois Amani já estava com 41 anos e sabia que poderia ser um desafio engravidar nessa idade.
“Talvez com 41 eu estivesse mais dedicada, como meus filhos já estavam um pouco crescidos e profissionalmente eu estava em uma outra fase, pude me dedicar melhor, fazia atividade física com muita regularidade, mas o corpo sofreu mais. Biologicamente, a gente é muito diferente, aos 29 e aos 41, e o emocional também, por um lado existem questões que são muito mais tranquilas quando você tem 41, que você já sabe, já é previsível, a gente não se preocupa muito, mas no aspecto médico eu me preocupei bem mais na última gestação”, declara Amani.
Ela conta também que já tinha o conhecimento de que aos 41 anos sua gestação poderia ser de risco, mas seu médico a tranquilizou em relação a isso, porém ela continuou com muita insegurança, pois sabia dos possíveis riscos para o bebê.
Com os desafios do gestar em meio à pandemia foi que o casal recebeu a notícia da chegada do quarto bebê. Ela afirma que foi necessário um certo cuidado da parte deles pois ainda não havia muita informação de possíveis riscos do vírus da COVID-19 em gestantes, mas, assim que adquiriram segurança, começaram a tentar e, contrariando as estatísticas, a pequena Verena, única menina entre seus irmãos, nasceu sem muita demora.
Já para a fisioterapeuta Lígia Muniz, 43, o desejo da maternidade voltou após o casamento. Mãe solo de um menino de 12 anos, ela engravidou naturalmente pouco tempo depois de se casar, aos 41 anos. Nas duas gestações Lígia conta que teve um quadro de hipertireoidismo gravíssimo e, por isso ambas, foram de alto risco, mas tirando essa questão ela acredita que a gravidez foi tranquila.
“Na segunda gestação eu estava muito mais madura psicologicamente, sem falar que o apoio do meu marido fez toda a diferença. Na parte física foi igual, não senti diferença”, disse.
Em contrapartida, a história de Terezinha Ferreira, 55, foi um pouco diferente, pois sua gravidez não foi planejada. Mãe de um rapaz de quase 18 anos e de outro de 16, ela acabou engravidando aos 42 anos, o que causou certas preocupações.
Ela conta que precisou fazer tratamento para ter os filhos, pois tinha endometriose e isso fez com que ela tivesse dificuldade para engravidar.
“A minha doutora disse que eu não engravidava, por conta da endometriose e que eu não tinha ovulação, então eu não me preocupei, e nunca tomei anticoncepcional nem me preveni. Fiquei 12 anos tranquila assim, sem me preocupar e quando eu vi, estava grávida”, declarou Terezinha. Com os anos, também aumentaram as dificuldades, o cansaço e o despreparo físico, mas também o lado emocional.
“O corpo está cansado, já não é o mesmo, e na época eu fiquei um pouco envergonhada. Eu tinha 42 anos, eu me sentia velha para estar gestante, fiquei meio depressiva, fiquei uns 2 a 3 meses só deitada. Graças a Deus eu não tive complicações na gestação e ele nasceu um bebê lindo e saudável. Hoje ele é o nosso companheiro. Lindo é a maior bênção que Deus deu. Eu falo que ele é meu brinde, meu presentinho de Deus”, conta.
“No geral é muito cansativo, eu não aconselho nenhuma mulher ter filho após os 40. Se puder ter antes, é melhor, porque quando a gente é jovem, o corpo também é, vamos dizer assim. E depois dos 40, tudo muda. É bem difícil passar por uma gravidez após os 40 anos”, finaliza.
Texto: Camila Farias – Jornal O Estado.
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