Reflexo é visto, principalmente, nos fins de semana, com o incremento de acidentes
Nos últimos dias da semana passada, a Santa Casa de Campo Grande percebeu um aumento de cerca de 13% na entrada de pacientes por conta de acidentes de trânsito, se comparado com o fim de semana anterior. Segundo a unidade, desde quando começaram as primeiras flexibilizações da pandemia da COVID-19, a quantidade desses eventos e de outros acontecimentos que lotam o setor do trauma tem sido crescente.
Conforme o levantamento do hospital, de quinta-feira passada (16) até o último sábado (18), 52 vítimas de acidentes de trânsito deram entrada na unidade, 6 por ferimento de arma branca e 2 por arma de fogo. Até ontem (21), a Santa Casa não tinha os números dos atendimentos no setor no domingo (19). Já no fim de semana anterior, do dia 10 a 12 de setembro, pelo menos, 46 pessoas que se feriram no trânsito buscaram atendimento no local, além de 6 esfaqueadas e uma baleada.
De acordo com o coordenador do Núcleo de Regulação da Santa Casa, Fabiano Cançado, após o início das flexibilizações em agosto, começando pela retirada do toque de recolher em Mato Grosso do Sul, a cada fim de semana os números de atendimentos crescem.
“As pessoas estavam mais reclusas em casa, tinham as recomendações e determinações de horário que não podiam sair, elas não estavam saindo muito, então tinha diminuído [os casos]. Nos últimos tempos vem aumentando o número desses eventos [acidentes e até mesmo brigas], porque as pessoas voltaram à vida quase que normal, bares e restaurantes, casas noturnas estão abertas quase que sem horário de fechamento, as pessoas voltaram a frequentar esses locais, logo acontecem mais esses eventos”, explicou.
Antes da pandemia do novo coronavírus, o hospital vivia uma epidemia do trauma, com uma sobrecarga desses atendimentos. Cançado ressaltou que, com as restrições adotadas pelo município para prevenção contra a COVID-19, percebeu-se a queda desses atendimentos, mas agora essa epidemia voltou a ganhar força. “O hospital está lotado ainda, estamos nos esforçado cada vez mais para atender o maior número de pessoas e com a maior qualidade; o esforço está sendo muito grande”, pontuou.
Os acidentes de trânsito, principalmente aos fins de semana e feriados, são os que causam o maior número de internações, mas as outras demandas também exigem muito do hospital. “O atendimento de todos aqueles outros casos que não tiveram acompanhamento adequado durante a pandemia da COVID, como hipertensão, diabetes, pacientes cardiopatas, que não fizeram acompanhamento adequado, que tiveram agravamento, faz com que haja o aumento do atendimento nos prontos-socorros”, disse.
Na última segunda-feira (20), passou a valer o último decreto da Prefeitura de Campo Grande que revogou várias medidas adotadas durante a pandemia. Entre elas está permitida a lotação máxima em eventos e estabelecimentos comerciais, além disso não é mais necessária a aferição de temperatura. Sem mais nenhuma restrição, o coordenador acredita que esses números podem ficar ainda maiores.
“Com um pouco de flexibilização a gente já teve um crescente de casos, agora com uma flexibilização total acredito que sim [haverá aumento]. Porém, eu reforço que a pandemia não acabou, a gente tem um grande número de pessoas vacinadas, diminuição dos casos de COVID19, mas ainda precisamos usar máscara e fazermos a higiene das mãos”, reforçou.
Ainda de acordo com Cançado, a epidemia do trauma não é um problema apenas de Campo Grande e Mato Grosso do Sul, mas de todo o Brasil, e só vai ser combatida com a educação. “Não existe milagre, não existe solução imediata, tudo passa por educação. Educação no trânsito, educação das pessoas, um pouco mais de empatia no trânsito, dirigir com mais calma, educação é a chave”, finalizou.
Atendimento SAMU
O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) também notou o aumento de ocorrências desde o começo das flexibilizações em Campo Grande. Conforme levantamento da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), de sexta-feira (17) a domingo (19), o serviço atendeu 661 ocorrências; isso corresponde a um aumento de 26% no quantitativo total de atendimentos. No fim de semana anterior, entre os dias 10 e 12, foram 524 chamados. Vale destacar que nem todas são relacionadas a acidentes de trânsito.
Porém, segundo o coordenador do Samu, Ricardo Rapassi, nos atendimentos diários, os acidentes no trânsito de Campo Grande predominam, principalmente aos fins de semana. “Desde quando teve aquele fechamento, por conta da pandemia, reduziu bastante e agora retorna para os números normais. Quanto mais gente na rua, mais vão ser os acidentes”, reforçou. De acordo com Rapassi, a equipe do serviço está completa e diariamente são empenhadas 14 viaturas para os trabalhos.
(Texto de Mariana Ostemberg)