Para quem vive em vulnerabilidade, benefício é sinônimo de esperança
Cerca de 100 mil famílias em situação de vulnerabilidade social começaram a ser cadastradas para receber os R$ 200 do Mais Social, auxílio permanente lançado pelo governo de Mato Grosso do Sul. De porta em porta, técnicos da Sedhast (Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho) passaram a percorrer os 79 municípios fazendo o mapeamento de quem terá direito a receber o pagamento, que tem previsão para começar em maio.
Segundo a superintendente de benefícios sociais da Sedhast, Ângela Nunes, o Mais Social vai atender quem já tem inscrição ativa no Cadastro Único do governo federal e renda mensal familiar inferior a meio salário-mínimo por pessoa. Na etapa de visitas, equipes formadas por assistentes sociais, psicólogos e pedagogos analisam documentação e avaliam as condições sociais e de moradia das famílias. Quem é aprovado, tem cadastro encaminhado para o setor de execução do programa, que providencia a emissão do cartão-benefício.
“Quando o cartão fica pronto a pessoa recebe uma ligação informando que pode ir até o banco buscar. Com ele, é possível fazer compras de alimentos e produtos de higiene nos supermercados”, explica. Pela regra,não é permitida a compra de cigarro nem bebida alcoólica. Para quem já recebe o Vale Renda, que paga R$ 180 mensais por família, a transição para o programa Mais Social será automática.
Desempregada há mais de um ano, a auxiliar de serviços gerais Maria Souza da Silva, de 47 anos, sabe bem a importância de receber o auxílio. Na casa dela, o alimento que vai para a mesa vem da doação de vizinhos e dos R$ 180 que recebe do Bolsa Família. Muito pouco para quem tem de sustentar uma filha de 3 anos e um filho de 18, que precisa de cuidados especiais.
“A gente tem passado um período muito difícil por aqui. Para se ter uma ideia, minha filha está andando descalça porque o pouco dinheiro que entra é para comprar comida”, conta.
Sem poder trabalhar para cuidar do filho doente, Maria lembra que, além da necessidade de itens básicos, tem visto as contas se acumularem e virarem verdadeiras bolas de neve. “Água e luz eu pago uma e deixo duas sem pagar. Me mandam mensagem cobrando, mas não tenho o que fazer. Vou empurrando”, desabafa.
O mesmo drama se repete na casa da Cláudia Pereira, de 44 anos. Sem trabalho e com as filhas de 12 e 16 anos para criar, a diarista faz peças de crochê para complementar a renda. Ainda assim, afirma que o dinheiro que recebe é muito pouco para manter a casa sem passar necessidade. “Não vou te mentir que já chegou a faltar as coisas”, relata.
Aprovada no Mais Social, ela não esconde a ansiedade de receber o auxílio. “Tudo tem sido muito difícil e esse dinheiro vai ajudar bastante”, completa.
Assistente social na Sedhast, Flávia Mara Areca afirma que a realidade encontrada na casa das duas mulheres não é caso isolado. “Nas visitas a gente encontra pessoas em extrema pobreza. Vê crianças com fome, se depara com falta de saneamento básico e muita condição de precariedade”, pontua.
Em uma das situações críticas, a técnica lembra que chegou a encontrar nove pessoas dividindo um imóvel de apenas um cômodo. “São episódios de cortar o coração”, afirma.
De acordo com o governo do Estado, terão prioridade no programa mulheres chefes de família e casas com maior número de crianças entre 0 e 6 anos, acompanhadas pela rede de saúde pública. Em Campo Grande, cerca de 14 mil famílias que já recebem o Vale Renda terão transição automática para o Mais Social.
Texto: Clayton Neves