Em seus primeiros meses na superintendência, apreensões de cocaína bateram recorde em MS e superintendente destaca que será preciso atuar ainda mais forte, com a nova rota de integração
O novo superintendente da PRF (Polícia Rodoviária Federal) de Mato Grosso do Sul garante que, após assumir a regional, em junho de 2023, está vivendo o maior desafio de sua carreira. Ele, que é nascido em Campo Grande, ingressou na PRF em 2012 e iniciou suas atividades na Delegacia de Guia Lopes da Laguna, sendo membro do Grupo de Patrulhamento Tático e posteriormente, em 2020, se tornou chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da Delegacia de Campo Grande, até 2021, quando foi nomeado chefe do Serviço de Operações, função que desempenhou até assumir o cargo de superintendente da PRF-MS, conhece bem a realidade do Estado e destaca que o projeto da Rota Bioceânica vai exigir ainda mais dos 640 policiais. “Estamos tendo uma evolução gigantesca. Nosso Estado está crescendo e vai crescer muito, isso vai impactar diretamente no nosso trabalho, pois o fluxo de veículos vai aumentar, não somente quanto aos veículos de cargas, como também de veículos de passeio, já que teremos um caminho mais rápido para o Chile. Quanto à direção eu posso dizer que está sendo criada uma comissão para tratar especificamente da Rota Bioceânica. Vamos ter uma comissão em Brasília, com membros e componentes da direção-geral e do Estado para tratar exatamente disso. Possivelmente, teremos um grande investimento por parte do governo federal na Polícia Rodoviária Federal também, com viaturas e efetivo, que é o mais importante”, explica.
Nos primeiros meses diante da PRF-MS, os resultados consolidados confirmam o bom trabalho desenvolvido pelo órgão. “Em 2023, foram apreendidas, até o dia 21 de dezembro, 200 toneladas de maconha e 15 toneladas de cocaína. Devemos frisar que esse número é expressivo, pois é histórico. Nunca antes a Polícia Rodoviária de Mato Grosso do Sul apreendeu tanta cocaína em um único ano. O crime organizado vai se especializando e como o nosso modal do Brasil é o rodoviário, pelas rodovias passa de tudo e eles vão utilizar exatamente esse meio para esse tipo de crime. O que acontece muito é a mudança de rota. Antes, eles usavam os Estados do Norte, pela proximidade geográfica com a Bolívia e hoje, eles passaram a utilizar o nosso Estado, não só para transportar maconha, que sempre foi o forte, mas também cocaína”, assegura.
Por outro lado, o superintendente Bueno confirma que Mato Grosso do Sul possui os melhores agentes e que em 2024 o trabalho será intensificado. “Como somos um Estado com uma posição geográfica que faz divisa com o Paraguai e a Bolívia, que são os grandes produtores de drogas e no caso, da maconha e da cocaína. Temos essa característica, por isso, o nosso policial é voltado para essa parte do combate ao narcotráfico, mas também temos ações voltadas para o combate ao tráfico de armas. Os desafios são grandes, estamos tendo alguns investimentos por parte do governo federal em relação às saídas do Estado, já que a BR-163 vai ter uma nova roupagem, um novo investimento; a BR262, que é a saída para Três Lagoas, e a BR-267 também e com isso, a gente espera que a PRF acompanhe não só com investimentos em efetivo e estruturas, mas também com reforma de postos, com a criação de novas unidades, algo que vamos precisar, com toda a certeza”, assegura.
O Estado: Nos mais de 10 anos de instituição, quais foram os maiores desafios?
Superintendente Bueno: Eu acho que o maior desafio é esse, de agora – comandar a PRF de Mato Grosso do Sul. Eu sou daqui, nascido aqui e é uma instituição que eu queria muito fazer parte, desejei muito e hoje, estou à frente dela, no Mato Grosso do Sul. Comandar os policiais que eu tenho convicção que são os melhores do país é uma responsabilidade grande. Com certeza, é o meu maior desafio.
O Estado: Nesses primeiros meses como superintendente, quais foram os principais desafios?
Superintendente Bueno: O desafio que a gente teve aqui, neste início de gestão da PRF, foi, na verdade, o de reposicionar a polícia rodoviária como uma polícia cidadã, pautada nos direitos humanos, atuando muito forte na parte de segurança viária, de educação para o trânsito, combate aos crimes de trânsito, crimes transfronteiriços, tráfico de drogas, roubo de veículos, roubo de cargas, acho que esse está sendo o desafio da nossa gestão.
O Estado: Neste último ano tivemos algumas ações de combate ao tráfico de armas. Como a PRF em Mato Grosso do Sul enxerga e combate esse tipo de crime, principalmente, por ser um Estado fronteiriço?
Superintendente Bueno: A Polícia Rodoviária de Mato Grosso do Sul tem essa característica. Como somos um Estado em uma posição geográfica que faz divisa com o Paraguai e a Bolívia, que são grandes produtores de drogas e, no caso, maconha e cocaína. Então, temos essa característica – o nosso policial é voltado para o combate ao narcotráfico, mas também temos ações voltadas para o combate ao tráfico de armas. Exemplo disso é que recentemente conversei com o pessoal do GOC (Grupo de Operações com Cães). Atualmente, temos cinco cães que são não somente farejadores de drogas, mas também de armas. A gente pode utilizá-los nesse tipo de crime.
O Estado: Há um balanço de apreensões de drogas, carros e armas deste último ano?
Superintendente Bueno: Em 2023, foram apreendidos, até o dia 21 de dezembro, 200 toneladas de maconha e 15 toneladas de cocaína. Devemos frisar que esse número é expressivo, pois é histórico. Nunca antes, a Polícia Rodoviária de Mato Grosso do Sul apreendeu tanta cocaína em um único ano. Também tivemos 67 armas apreendidas, entre fuzis, pistolas e armas longas, bem como 600 mil reais foram apreendidos de diversas maneiras. Às vezes, é evasão de divisas ou são utilizados para outros tipos de crimes e 464 veículos foram recuperados, dentre veículos de passeio e de cargas e 13 toneladas de agrotóxicos.
O Estado: A apreensão recorde de cocaína, em nosso Estado, pode indicar alguma mudança no modelo de atuação das organizações criminosas?
Superintendente Bueno: O crime organizado vai se especializando e como o modal do Brasil é o rodoviário, pelas rodovias passa de tudo e eles vão utilizar exatamente as rodovias para este tipo de crime. O que acontece muito é a mudança de rota. Antes, eles usavam muito os Estados do Norte, pela proximidade geográfica com a Bolívia e hoje, eles passaram a utilizar o nosso Estado, não só para transportar maconha, que sempre foi o forte, mas também cocaína.
O Estado: Em relação ao número de veículos apreendidos tivemos alguma mudança nos locais de destinos para esses automóveis? Para onde eles são levados, em sua maioria?
Superintendente Bueno: Temos a Bolívia e o Paraguai, que são utilizados para vender os veículos, ou utilizá-los em outros crimes. Muitas vezes, esses veículos são furtados/ roubados nos grandes centros, são trazidos para os países vizinhos, Paraguai e Bolívia, onde o traficante ou a organização criminosa os utiliza, como as caminhonetes, para colocar a droga e trazer de volta. Geralmente eles são utilizados para esse tipo de situação ou são vendidos e utilizados como moeda de troca por drogas, mas quase sempre estão relacionados a outros crimes.
O Estado: Existe algum trabalho em conjunto com as forças policiais do Paraguai, Bolívia e do Brasil nesse sentido, de reprimir e combater esse tipo de crime?
Superintendente Bueno: Sempre teve. A Senad (Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai) sempre faz autuações integradas com a Polícia Federal. No ano de 2022 tivemos várias queimas de plantações no Paraguai, já prevendo esse crime de tráfico em 2023, pois quando não se tem a plantação não existe o tráfico. No ano de 2023 tivemos algumas ações importantes, tais como a assinatura do termo de cooperação técnica com a Polícia Federal, com a criação da Ficco (Força Integrada de Combate ao Crime Organizado), composta pela Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Penal e a Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), com as forças de segurança do Estado de Mato Grosso do Sul. Essa força vai atuar, principalmente, no combate ao tráfico de entorpecentes e de armas.
O Estado: Tratando-se de fiscalização, algo que é comum em todas as operações que a PRF desenvolve, ao longo do ano, em Mato Grosso do Sul, é o estilo de infrações de trânsito registradas. Parece que algumas se repetem, principalmente as ultrapassagens indevidas, excesso de velocidade e uso inadequado de cadeirinhas infantis. Você acredita que, nestes casos, as multas são suficientes ou o trabalho de conscientização é a melhor saída?
Superintendente Bueno: Com toda a certeza, focamos muito na fiscalização, mas não nos esquecemos da parte de educação para o trânsito. São sempre as mesmas infrações e as citadas anteriormente são as mais fatais. Mesmo as pessoas sendo autuadas, elas continuam cometendo, então, vemos que não basta combater a ponta, o correto é tentaratingir com a educação, precisamos sempre fortalecer. A pauta, desde o início da minha gestão, foi a educação para o trânsito, fazer com que essas campanhas educativas atinjam, de fato, a sociedade, pois é isso que dá, realmente, resultado. A autuação seria o último recurso para a redução de acidentes. A educação para o trânsito é o melhor caminho.
O Estado: As autoridades políticas comemoram a construção da Rota Bioceânica. Qual é a visão da PRF sobre esse novo canal de conexão com os países vizinhos?
Superintendente Bueno: Estamos tendo uma evolução gigantesca, no Estado. MS está crescendo e vai crescer muito ainda, e isso vai impactar diretamente no nosso trabalho, pois o fluxo de veículos vai aumentar, não somente o de veículos de cargas, como também o de veículos de passeio, já que teremos um caminho mais rápido para o Chile, ou seja, teremos mais turistas saindo do Brasil e indo rumo ao Chile e Argentina. Esses veículos de passeio estarão transitando pelas nossas rodovias e a realidade do Estado de Mato Grosso do Sul vai mudar bastante. Vamos precisar atuar cada vez mais forte, pois o Estado está em franco desenvolvimento, de modo que todas as nossas rodovias irão receber um fluxo de veículos, a partir deste ano até o término das obras da ponte, cada vez mais acentuado.
O Estado: O governo federal estima um investimento alto no sistema de alfândega e fiscalizações com essa nova rota de integração. Acredita que com essa nova realidade deveríamos pensar em um aumento de efetivo para a PRF, por meio de novo concurso público?
Superintendente Bueno: Sim, é importante. Hoje, a Polícia Rodoviária Federal tem o maior efetivo que já teve em todo o Estado: são 640 policiais, mas isso é pouco. Temos uma malha viária de 4 mil quilômetros de rodovias. Quando pegamos esses 640 policiais e tiramos os que estão na atividade-meio, que são muitos e que a PRF precisa para funcionar, não temos um número insuficiente de policiais, mas isso, com certeza, já está no radar da direção geral. Eu posso dizer que está sendo criada uma comissão para tratar especificamente da Rota Bioceânica. Vamos ter uma comissão em Brasília, com membros e componentes da direção-geral e do Estado, para tratar exatamente disso. Possivelmente, teremos um grande investimento por parte do governo federal na Polícia Rodoviária Federal também, com viaturas e efetivo, que é o mais importante.
O Estado: Falando em projetos futuros, também temos a questão da reestruturação das carreiras da PRF. O senhor acredita que em 2024 o tema tende a avançar?
Superintendente Bueno: Acredito que sim, pois já foi aberta a mesa de negociação com o governo federal. Ele está ouvindo a categoria, acredito que em 2024 tenhamos a recomposição merecida.
O Estado: O que podemos esperar a PRF em Mato Grosso do Sul, em 2024? Qual é a perspectiva para este ano? Quais serão os desafios, projetos e trabalhos que a PRF desenvolverá?
Superintendente Bueno: O Estado de Mato Grosso do Sul está crescendo e junto com o desenvolvimento vêm as mazelas também. Sabemos que vamos precisar atuar cada vez mais forte na prevenção de acidentes, o que já fazemos e para isso que a PRF foi criada, mas também precisaremos atuar na parte de fiscalização de tráfico de entorpecentes, que é o nosso “métier” principal. Somos a regional que mais faz isso, pela posição geográfica. Os desafios são grandes, estamos tendo alguns investimentos por parte do governo federal, em relação às saídas do Estado: a BR-163 vai ter uma nova roupagem, um novo investimento; a BR262, que é a saída para Três Lagoas, e a BR-267 também e com isso, esperamos que a PRF acompanhe não só com investimentos em efetivo e estruturas, mas também com reforma de postos, com a criação de novas unidades, que vamos precisar, com toda a certeza.
Por Michelly Perez.
Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS.
Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook e Instagram