Especialistas destacam necessidade de duplicação, modernização e obras de reordenamento, na BR-163

BR 163
Foto: Nilson Figueiredo/Jornal O Estado MS

De acordo com levantamento da CNT, para recuperar as rodovias de MS são necessários R$ 2,84 bilhões

A colisão frontal, que culminou com a morte de quatro jovens, na última sexta-feira (10), no trecho que liga Campo Grande a Jaraguari, reacendeu o debate sobre a necessidade de obras de melhoria na BR163, principalmente visando ampliar a segurança dos motoristas e fazer com que a via, popularmente conhecida como “Rodovia da Morte”, deixe essa alcunha para trás. A equipe do jornal O Estado conversou com especialistas para saber, de fato, o que deverá ser feito neste novo projeto de relicitação. 

Questionado, Dorival Oliveira, 56, diretor administrativo do Setlog/MS (Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística) informou que, com seus 26 anos de experiência no setor de logística, conhece a necessidade da relicitação, mas pontua que a melhora das condições da BR-163 só se dará com a conclusão das obras.

“É necessária a construção de viadutos em locais necessários, alças de acesso, fazer desvio do centro das cidades, para que o trânsito urbano não se confunda com o trânsito rodoviário, e, principalmente, concluir aquilo que estava previsto no contrato, que é a duplicação da rodovia em toda a sua extensão que, com certeza, vai ajudar, assim como todas as outras obras estruturantes, como acostamentos, pistas de repouso para que o condutor possa fazer o seu tempo de direção”, explicou.

Conforme noticiado na edição de ontem (14), a CCR MSVia informou que continua mantendo os serviços de manutenção das pistas, conservação de áreas verdes e prestação de serviços de socorro médico e mecânico, 24 horas por dia, aos usuários da BR-163/MS. Mesmo assim, Dorival Oliveira destaca que os serviços de manutenção merecem ser repensados, uma  vez, que ações de recapeamento são um trabalho paliativo. 

“Como se trata de uma rodovia pedageada, é impensável que tenha que receber recapeamento e sim manutenção devida. O recapeamento é um processo paliativo, ele não contempla as necessidades de uma rodovia. O trecho que estiver apresentando defeito é que houve um erro de projeto na sua construção e deve ser refeito, o recapeamento é uma maquiagem, mas não resolve o problema de nenhuma rodovia”, pontuou.

Diante da aprovação do processo de relicitação pelo CPPI (Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos) e o Ministério dos Transportes, a partir de 12 de março, seguindo a recomendação da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). O diretor administrativo do Setlog/MS destaca que a CCR MSVia não poderá participar do próximo processo de seleção.

“Agora, com a nova formulação para a relicitação da BR 163, que vai ser feita em dois lotes, norte e sul, este último contemplando a BR-267, que sai de Bataguassu até Nova Alvorada do Sul. Esses problemas devem ser tratados na forma do edital, para que sejam contemplados com obras efetivas e que não fique como aconteceu no caso da CCR MSVia, sabendo que ela não pode participar novamente. Ainda bem que vamos ter outra construtora e torcemos para que seja bem melhor, que seja uma concessionária atuante e que atenda às demandas de infraestrutura e circulação”, opinou. 

Cabe destacar que o trecho da BR-163, que passa por Mato Grosso do Sul, conta com 847,2 km e a promessa da empresa vencedora da licitação, em 2013, era de duplicá-lo em sua totalidade, algo que não aconteceu, uma vez que tem apenas 150,4 km duplicados, fator que reflete na ocorrência de acidentes constantes, como o registrado na última sexta- -feira (10). Para o jornal O Estado, Sergio Ejzenberg, especialista em trânsito, mestre e engenheiro de tráfego pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), citou a importância da correta sinalização. 

“A ultrapassagem é terminantemente proibida em local com sinalização horizontal – pintura no asfalto – com faixa dupla amarela contínua. Na colisão frontal, as velocidades  dos veículos se somam, trazendo como resultado danos severos nos veículos e morte dos ocupantes. Vias não duplicadas podem ser seguras, se estiverem bem sinalizadas e se os condutores respeitarem à sinalização, principalmente ultrapassando em locais permitidos e mantendo a velocidade abaixo da máxima permitida”, pontuou o especialista em trânsito. 

Investigação 

A investigação do caso será presidida pela 3ª DP de Campo Grande. Segundo informações repassadas ontem (14), pela delegada titular da casa, Priscilla Anuda, os documentos ainda não chegaram na unidade, mas o padre – um dos sobreviventes e condutor do outro veículo, será ouvido pela Polícia Civil de Mato Grosso do Sul nos próximos dias. 

Além disso, a polícia também tenta identificar um homem que gravou vídeo logo após o grave acidente, na BR-163, sentido Campo Grande/Jaraguari, em que as quatro jovens morreram. Na gravação, ele mostra os corpos das meninas e, inclusive, mexe no cabelo de uma delas. O acidente aconteceu na noite da última sexta-feira (10). 

A delegada afirmou ter tomado conhecimento das imagens que circulam em grupos de WhatsApp. “É crime contra o respeito aos mortos”, disparou ela. Agora, a polícia apura o caso e tenta identificar o autor da gravação, que pode responder por vilipêndio de cadáver. O crime prevê pena de um a três anos de reclusão e pagamento de multa. 

A sobrevivente do carro que ficou completamente destruído, ocupava o banco de trás do passageiro do veículo. Apesar da destruição, a todo momento ela estava consciente. Ela foi socorrida com várias fraturas, passou por cirurgias e continua internada na Santa Casa, segundo informações divulgadas por familiares da jovem. Em nota, o hospital informou que não divulgará mais informações sobre o estado de saúde da paciente, a pedido dos familiares.

Pistas simples predominam em 95,3% da malha rodoviária do Estado

A pesquisa anual divulgada pela CNT (Confederação Nacional de Transportes) de rodovias, realizada em 2022, avaliou toda a malha pavimentada das rodovias federais e os principais trechos estaduais. Naquele ano, foram analisados 4.488 km no Mato Grosso do Sul, que representam 4,1% do total pesquisado no Brasil. Os resultados obtidos indicam que 59,3% da malha rodoviária pavimentada avaliada do Estado apresenta algum tipo de problema, sendo considerada regular, ruim ou péssima. 40,7% da malha é considerada ótima ou boa. Quando se observam os dados de pavimento, o estudo indicou que 53,2% da extensão da malha rodoviária avaliada apresenta problemas e 46,8% estava em condição satisfatória. Sobre sinalização, o levantamento indicou que 43,3% da extensão da malha rodoviária da região é considerada regular, ruim ou péssima. 

O percentual de 56,7% corresponde a ótima ou boa; 3,3% da extensão está sem faixa central e 9,1% não tem faixas laterais. Além disso, quando se levam em conta o traçado das rodovias, 54,9% da extensão da malha rodoviária do Estado apresenta algum tipo de problema. Apenas 45,1% está ótima ou boa. As pistas simples predominam em 95,3%. Falta acostamento em 41,4% dos trechos avaliados e 34,6% dos trechos têm curvas perigosas e estão sem sinalização. 

Tudo isso impacta, além da segurança, em um maior gasto operacional do transporte, que, segundo a CNT, encareceu em até 30,2%, refletindo na competitividade do Brasil e no preço dos produtos. Sendo assim, para recuperar as rodovias no Mato Grosso do Sul, com ações emergenciais, de restauração e de reconstrução, são necessários R$ 2,84 bilhões. Por outro lado, com tantas problemáticas, a Confederação estimou que, em 2022, houve um consumo desnecessário de 41,7 milhões de litros de diesel, devido à má qualidade do pavimento da malha rodoviária no Estado. Esse desperdício custou até R$ 190,38 milhões, aos transportadores.

Por Brenda Leitte e Michelly Perez  – Jornal O Estado do MS.

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