Entidades questionam possível manipulação de preços na arroba do boi

boi
Oscilações praticadas no preço da arroba levantaram suspeita de representantes do setor - Foto: Reprodução/Semadesc

Audiência pública discutiu influência de monopólios e oligopólios no mercado

Na última terça-feira (19), a Comissão de Agricultura e Pecuária da Câmara dos Deputados discutiu a queda no preço da arroba do boi gordo em todo o país. A audiência, realizada a pedido do deputado federal Marcos Pollon (PL-MS), avaliou as implicações diante das sucessivas quedas, que, como colocou Pollon, “afetam toda a cadeia de produção pecuária brasileira, [tida, na atualidade,] como uma das mais relevantes do mundo”. Contudo, outras entidades também levantaram seus questionamentos sobre possíveis manipulações. 

O economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho, Staney Barbosa Melo, explica que é plausível a queda em virtude da oferta de animais. Este é um elemento que dá materialidade para a queda. No entanto, o fator não altera a possibilidade de que exista um viés de manipulação no mercado. “Em que pese os frigoríficos serem formuladores de preços e os produtores tomadores, estes não conseguem sozinhos determinar os preços de mercado, as leis de oferta e demanda imperam. Em todo caso, acho justo que se faça uma investigação para apurar o caso e, na hipótese de crime financeiro, cobrar dos responsáveis a parcela devida de responsabilidade”, pontua Melo. 

Conforme avalia o economista, em 2023 foram abatidos quase um milhão de animais no segundo trimestre, além do Brasil, no ano passado, poder contar com maiores investimentos da China. Tudo isso caracteriza fatores de influência nos resultados obtidos. “Ano passado, a China estava pagando melhor pelo boi gordo, este ano, não. Conseguimos recompor as exportações justamente pela queda nos preços, que tornou interessante para eles continuarem comprando, ainda que tivessem retraído suas importações. É um jogo de equilíbrio”, argumenta. 

Para o consumidor, Melo acredita que o ano tenha sido bom, pois o excesso de oferta de animais, somado à retração econômica mundial, fez com que as exportações voltassem para o mercado interno. “Os frigoríficos tiveram que diluir essa oferta ex cessiva no mercado interno, isso beneficiou muito o consumidor final, vimos muitas promoções este ano”, explica o economista. 

Por fim, o especialista conclui que quanto mais atravessadores no mercado, mais caro fica para o consumidor final. Mas, na soma final, todos executam um papel importante na cadeia de produção. “Como consumidor, desejo também que os preços fiquem em um patamar saudável, que ajude o produtor, sem pressionar o consumidor. Infelizmente, existe toda uma cadeia entre estes dois elos e essa cadeia precisa ser remunerada, mas isso encarece o preço da carne. Não estou nem falando dos frigoríficos, que estão trabalhando no prejuízo este ano, mas do varejo. Pense como seria se voltássemos a comprar carne de pequenos frigoríficos, muitas vezes clandestinos, sem regulação sanitária, isso baratearia a produção, mas criaria uma série de outros problemas de logística e de saúde”, finaliza.

Atípico 

Em entrevista à Rádio Câmara, o deputado Marcos Pollon pontuou que a questão é vista com preocupação, pois, embora seja natural que o ciclo mercadológico oscile, contendo influência de diversos fatores, como abate, por exemplo, o grande problema é que, neste ano, os números têm apresentado queda de maneira atípica. “Está acima do normal e está acima do previsível para as condições normais de um mercado saudável. Alguns economistas e técnicos têm apontado que há indícios graves de intervenções de algumas empresas, que mantêm monopólios e oligopólios no sistema do mercado da proteína bovina e isso tem prejudicado muito o produtor rural”, esclareceu o deputado. 

A partir dessa percepção, há quatro meses Pollon propôs uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Mercado da Carne. No entanto, o ideal, antes da CPI, seria debater, em audiência pública, o fenômeno que tem acometido o sucesso dos produtores rurais. “Qual é a justificativa para o que está acontecendo? Tendo em vista que, se pegarmos a média de preço da arroba de todos os países da América Latina, o Brasil está abaixo do corte médio desses outros países. Isso é, no mínimo, estranho, tendo em vista as condições de mercado do Brasil”, pontuou Pollon. 

O parlamentar justifica que há indícios de intervenção das empresas, já que há basicamente dois conglomerados que monopolizam o comércio de proteína animal no país. Para apurar a questão, dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada mostram que os preços do boi gordo vêm oscilando ao longo de 2023, mas ainda operam em patamares abaixo dos verificados, no ano passado. 

Quem também se sensibilizou com a questão foi o deputado federal Alberto Fraga (PL-DF), que, ligado ao setor do agronegócio, também propôs uma CPI idêntica, fazendo com que Pollon abrisse mão do pedido, para maior facilidade na obtenção das assinaturas na investida do colega. “Eu acho que a gente tem que, nesse momento, se unir para fortalecer um pedido só e agilizar a coleta dessas assinaturas”, destaca.

Por Julisandy Ferreira.

Confira mais notícias na edição impressa do Jornal O Estado do MS

 

Acesse as redes sociais do O Estado Online no Facebook Instagram.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *