Em MS, apenas nove municípios oferecem tratamento de hemodiálise para toda a população

hemodialise
Foto: Camila Farias/Jornal O Estado MS

No Hospital Universitário, 30% dos pacientes renais crônicos em tratamento são do interior do Estado

A hemodiálise é um procedimento que imita exatamente a função dos rins em nosso corpo, utilizando máquinas para eliminar toxinas, água e sais minerais. Para os pacientes renais crônicos, que necessitam desse tratamento para sobreviver e para os que vivem em algumas cidades do interior do Estado, além de todo o desgaste da doença e das sessões, mais um problema preocupa tanto os pacientes, quanto os acompanhantes: o deslocamento. 

No HU (Hospital Universitário), ao menos 30% dos pacientes que realizam hemodiálise são do interior do Estado. No local, o senhor João Gonzales, 65 anos, que é morador da cidade de Jardim, explicou como funciona a rotina para vir à Capital, acompanhar a esposa, Tereza Almeida, há mais de dois anos, para a realização das sessões de hemodiálise. 

“Temos que vir três vezes na semana, segunda, quarta e sexta. Acordamos por volta de 1h, porque o carro passa para pegar às 3h, para chegar aqui, no HU, por volta de 6h. Por aqui, ficamos até 11h, é uma viagem cansativa, tanto para ela, que está doente, quanto para mim, que tenho problema na coluna, sinto muitas dores nesse tempo todo de viagem, mas não tem o que fazer, ela precisa do tratamento e eu tenho que acompanhá-la, mesmo com todas as questões do deslocamento. Uma das passageiras vem de maca, na ambulância, é tudo bem precário, mas, enquanto não tiver outra alternativa, temos que seguir”, disse João. 

Da mesma cidade, o senhor Eduardo Ortega, 63 anos, está nessa batalha junto com a esposa, há mais de quatro anos. Ele conta que, há um tempo, houve um assunto na cidade, a respeito de levarem um centro de diálise para Jardim, mas que não passou de conversa e, desde então, o único caminho é Campo Grande. 

“Eu acho que é algo de que precisamos muito, porque lá não é só nós, tem gente de muito mais longe, que vem de Porto Murtinho, vem de Bela Vista, Bonito, Miranda, eles precisavam pensar em uma solução, um centro mais perto, para atender a essas pessoas todas. Nessa vida que a gente leva, não dá para dormir direito, nem comer direito. É corrido, eu sou aposentado, mas e quem precisaria trabalhar, como que faz, se tem que ficar três dias fora da cidade? Não temos horário fixo, pois, às vezes, a ambulância estraga na estrada. Minha esposa precisa vir de maca, então, é muito complicado”, desabafou Eduardo. 

Outra questão levantada pela reportagem foi a respeito da nefropediatria, que, de acordo com uma mãe, que estava acompanhando seu filho de 10 anos de idade, Campo Grande é a única cidade, em todo o Estado, que conta com esse profissional para atendimento de nefrologia em crianças. 

Ana Clara, 32 anos, está acompanhando o filho Gustavo Asaph, há pouco mais de um ano, no Hospital Universitário, e está muito satisfeita com o tratamento oferecido a ele. A família é de Miranda e como os outros, também precisa se deslocar, durante três dias da semana. 

“No Mato Grosso do Sul, o HU é referência em tratamento de nefropediatria e mesmo com todas as dificuldades para estar no acompanhamento, vale a pena para mim”, finalizou. 

Serviço complexo 

A SES (Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul), informou, por meio de nota, que o serviço de hemodiálise ocorre em nove municípios do Estado, sendo Campo Grande, Coxim, Aquidauana, Costa Rica, Corumbá, Dourados, Ponta Porã, Três Lagoas, Bataguassu e Paranaíba. A SES ressalta que o serviço é complexo e, para a sua implementação, requer estrutura física e RH especializados. 

O jornal O Estado conversou com a secretária de Saúde de Bonito, Ana Carolina Colla, que informou que seria um sonho para qualquer gestor em saúde, que todas as cidades tivessem estrutura para receber tanto o tratamento de hemodiálise, como diversos outros, porém, diversos fatores precisam contribuir para que isso ocorra. 

“Eu gostaria de ter tudo para que eu não precisasse transladar o meu paciente, do meu município até uma cidade mais próxima que tenha, para fazer o tratamento. Só que entre querer e poder existe uma grande diferença. Existem vários fatores, a hemodiálise mais ainda, pois envolve uma análise de água, tem que ver se a água do município é compatível, a nossa água, o Estado inteiro sabe, que é uma água calcária, que é salgada e que, para fazer hemodiálise, ela não pode ser usada. Então, são vários fatores para analisar”, afirmou Colla.

Novo projeto  

A próxima cidade contemplada com uma unidade de hemodiálise será Nova Andradina. O projeto para construção do local foi entregue ontem (22), ao governador Eduardo Riedel, pela presidência da Qualivida (Associação Beneficente de Terapia Renal Substitutiva). 

A primeira Clínica de Hemodiálise de Nova Andradina, quando estiver concluída, vai oferecer serviço gratuito a pacientes diagnosticados com insuficiência renal crônica. Após o início e conclusão da obra, serão feitos os trâmites para regulamentar e credenciar a unidade junto ao SUS (Sistema Único de Saúde). A intenção é que a iniciativa privada se alie ao poder público, para oferecer saúde de qualidade aos pacientes e evitar deslocamentos a outras cidades, para receber atendimento. 

O prédio contará com sala de hemodiálise, com capacidade de atender até 90 pacientes, além de recepção, emergência e procedimento, consultórios, área para recuperação, dentre outros setores.

Por Camila Farias – Jornal O Estado do MS.

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