Saúde e emprego devem pautar a performance de debate e luta particular do ‘capital político’
Em 65% dos municípios de Mato Grosso do Sul, até o momento, o novo coronavírus já se transforma em uma figura eleitoral, não só apenas pelo risco a vidas, como quanto ao impacto imediato na economia local. E, para oito cidades do Estado, onde a Covid-19 fez alguma vítima, o efeito tende a ser mais decisivo no pleito que se aproxima. Não apenas pela mudança subjacente a abordagens presenciais ao eleitor, ou pelo temor a um inimigo que ainda não se apresentou, e sim pelo fato de que saúde e emprego, ao assumir o topo de prioridades, desafia o universo político a ser mais programático.
Um webinar recente da Fundação Getúlio Vargas, levantou uma reflexão nesse sentido, de que novos eixos de polarização da política brasileira emergiram após a realidade imposta com a pandemia. O seminário online em vídeo, que, inclusive, tratou dos impactos da covid-19 no mundo atual, permitiu ao público esclarecer o quanto o ‘fator isolamento’ será preponderante à ‘conquista da confiança do eleitor’, neste ano.
Vale lembrar que, discordâncias à parte, no que diga respeito às linhas de entendimento da doença, parte do público votante no Brasil também passa a ter mais medo da morte, determinado é claro pelo eventual estrago que o vírus por ora faça em sua região.
“Esse cenário de união da esquerda com o centro, e de divisão da direita também acontece em relação à avaliação do presidente e dos governadores sobre o combate à pandemia”, comenta, segundo a Agência Estado, o cientista político, Carlos Pereira, Pós-doutor em ciência política pela Universidade de Oxford, doutor e mestre em ciência política pela New School University (NY).
Na visão de outro analista, ouvido pela mesma agência, sobre o tema abordado no evento online da FGV, Marcus Melo, a covid-19 no Brasil teria causado “um deslocamento das placas tectônicas da política”. Definição peculiar e racional de um Ph.D em ciência política pela Sussex University, no Reino Unido, fez o pós-doutorado no Massachusets Institute of Technology.
Dicotomia que esbarra na realidade
Levada em consideração, o senso prático que o regional escancara, nos próximos meses de pré-campanha, ou da própria disputa oficial, é bem provável que Economia e Saúde não se disponham em hemisférios diferentes, deixando a polarização para termos que envolvam a responsabilidade diante do que deve ser feito.
Da maior parte dos infectados em Mato Grosso do Sul, com o novo coronavírus, o predomínio é de pessoas entre 30 a 39 anos, representando no momento 28% do total.
Outro viés importante de ressaltar é a capilaridade da doença, visto que 83% dos registros está no interior, onde, ainda, 27 cidades, não tiveram qualquer caso. Desse horizonte ‘livre’, por ora, do novo coronavírus, a prevalência é dos municípios com menos de 15 mil habitantes. Todavia com um estilo de vida não diferente do que se tem em Itaporã, local da última morte registrada até o fechamento desse material, onde moram 21 mil pessoas.
Graças a perda de uma cidadã, por conta do falecimento da última vítima de covid-19, confirmada no Estado, certamente alguma reflexão deve pairar nos próximos meses na mente dos mais conscientes, entre os 13 mil eleitores de Itaporã. Segmento total que possui maioria feminina, onde a faixa dos 35 a 39 anos, também é a com maior parcela, e que alguém, com idade parecida a vítima seja parte dos 6,5% votantes.
Somando os percentuais do grupo de risco, pessoas acima de 65 anos, sem levar em consideração quem tenha idade mais baixa e pudesse figurar no mesmo nicho por outras questões, a fatia chega a um em cada sete moradores.
Quem sabe idosos que possam valorizar no seu universo o exemplo de Campo Grande, onde sobram leitos de UTI, onde o prefeito busca quase que eremita no métier político o quanto o risco potencial da covid-19 é grave. Uma preocupação que tem lhe custado críticas mas têm feito da Capital um exemplo para o Brasil em número de mortes, de casos e de alguém controle da doença. Um controle tênue, que depende no mínimo de consciência das pessoas, para que a velocidade da curva de gráficos não signifique vidas perdidas em escala, como ocorreu já em tantas outras capitais.
É fato, e óbvio, um ‘tranco’ na economia, quase que invariável, entretanto, ignorar que o inimigo urgente dessa nova realidade seja uma doença capaz de matar, provavelmente seja na maratona eleitoral um erro grave, visto o perigo que talvez se avizinhe a Mato Grosso do Sul nos mês de agosto, conforme a própria Secretaria Estadual de Saúde alerta.
(Texto: Danilo Galvão)