Dinheiro está entre os principais motivos de preocupação entre campo-grandenses

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Foto: Nilson Figueiredo

População também aposta no bem-estar e saúde, mas citam o dinheiro como fator-chave 

O jornal O Estado esteve no centro da Capital para entender como tem pensado a população campo-grandense a partir das preocupações com o dinheiro e a renda. Afinal, conforme divulgado em pesquisa realizada pela fintech Onze, em parceria com a seguradora Icatu, três a cada quatro brasileiros afirmam que o dinheiro é a sua maior preocupação. O percentual representa 74% dos brasileiros, que afirmam que o dinheiro é sua maior fonte de preocupação.

A especialista em economia comportamental, Andreia Saragoça, 45, explica como os problemas relacionados ao dinheiro interferem na forma como o ser humano age em sua vida.

“Trabalho exatamente o comportamento das pessoas em relação ao dinheiro e observo muito isso. Nas alterações que acontecem quando as pessoas não conseguem, minimamente, ter uma vida financeira controlada. Por exemplo, qualquer coisa hoje é dinheiro, é consumo. As pessoas estão muito nessa questão do ter, e não em ser. Oriento sempre meus clientes a definir certinho quais são os seus objetivos de vida, o que você quer, realmente”, indica a profissional.

A dona de casa Priscila Corrêa, 32, conta que sua principal preocupação está atribuída à saúde. No entanto, conclui que se tivesse dinheiro, chegaria a uma resolução de seu problema.

“No momento, é saúde, pois o SUS não dá tudo que a gente precisa. Por exemplo, um oftalmologista para o meu filho, eu tive que consultar no particular, porque demorou e ele estava com muita dor de cabeça, então já precisei desembolsar. Agora, é o dinheiro que a gente está precisando muito”, explica.

O militar Alex Samuel, 32, argumenta que, para ele, a prioridade, no momento, é a educação e a saúde. No entanto, o dinheiro é sempre bem-vindo.

“Nossas vidas devem ser a prioridade, no caso, é a nossa saúde mental. Estando com a saúde mental em dia, as demais coisas a gente dá umjeito. Eu sei que o dinheiro faz falta, com certeza, na vida do brasileiro. Mas, eu sei que nem sempre o dinheiro vai salvar. A exemplo, a saúde, em algum tipo de família, exista uma doença incurável e nem sempre o dinheiro vai salvar a vida daquela pessoa.”

Pesquisa

Segundo os dados da fintech Onze, somente 17,8% dos 1.603 trabalhadores entrevistados conseguem cobrir os gastos e poupar algum dinheiro no fim do mês. Já 33,7% confidenciaram que os gastos chegam a ser maiores que a renda mensal. Pelo menos 60% relataram que a preocupação financeira ultrapassa até mesmo a preocupação com a família, 57% afirma que o dinheiro está acima da saúde e 44% do trabalho.

A sondagem colheu respostas de 1.603 pessoas, todas elas trabalhadoras assalariadas em regime CLT. A segmentação da amostra é ainda mais preocupante, pois trabalhadores formais costumam ter renda maior que os informais.

Das principais dificuldades quando o assunto é dinheiro, a pesquisa destaca o sacrifício de montar um “colchão” de conforto financeiro. Apenas 17,8% dos entrevistados afirmaram que conseguem cobrir os gastos e poupar algum dinheiro ao fim do mês. Na outra ponta, 42,7% disseram que a renda atual cobre os gastos, mas sem sobras. Outros 33,7% confidenciaram que os gastos são maiores que a renda mensal. Os demais não fazem nenhum controle financeiro e não souberam responder.

Estresse financeiro 

Esse sentimento de pressão causado pelo dinheiro é chamado de “estresse financeiro”. Os impactos se espalham tanto pela saúde física como pela produtividade no trabalho e nas relações pessoais. Dos entrevistados, 30,6% disseram que a preocupação constante com o dinheiro afeta o desempenho no trabalho. Dessa fatia, o principal sintoma é a perda de sono pela aflição financeira (59,1%), seguida de perda de foco (54,8%), mau-humor e impaciência com colegas (20,3%) e necessidade de resolver pendências ao longo do dia (20%).

Quando o assunto é a vida pessoal, 54,5% dos entrevistados admite que a preocupação financeira tem atrapalhado. Entre os sintomas, o principal é a falta de energia para aproveitar o tempo com entes queridos (62,3%). Em seguida, mau-humor e falta de paciência com a família (47,9%) e desentendimentos com o parceiro (32,6%).

Por fim, a Onze também avaliou os efeitos do estresse financeiro na saúde mental. Nada menos que 75% percebem influência. Lidera a sensação de ansiedade (71,6%), seguida de pensamento constante sobre pagamentos e dívidas (64,5%), desânimo (58,3%), irritabilidade (46,7%) e medo do futuro (45,9%).

Como superar? 

A consultora financeira da Onze, Ana Paula Netto, afirma que o principal gatilho de estresse financeiro é a falta de organização. “Com base em outras pesquisas que fizemos, o que te leva a ter saúde financeira é a disciplina. Mas as pessoas relutam em se organizar porque, em geral, associam dinheiro a sentimentos negativos”, diz.

Segundo a planejadora financeira Paula Bazzo, a quebra dessa inércia pode vir de um estudo de si mesmo sobre estilo de organização.

“Tem pessoas que não funcionam ao tentar ‘planilhar’ esses números. É preciso tirar esse peso de que tudo tem que ser planilhado. Tem pessoas que desistem antes mesmo de começar”, afirma.

Bazzo diz que separar uma ou duas horas por semana para pensar nas obrigações financeiras já pode ser um bom início.

“Para aquela pessoa que é completamente desorganizada e não se reconhece no processo de organização financeira, ter um orçamento um pouco mais simples é mais funcional do que tentar fazer uma planilha super complexa e cheia de gráficos.”

Outras preocupações 

Em conversa com outros entrevistados que compartilharam seus tipos de preocupação, é possível observar que ainda que não listem o dinheiro como a primeira preocupação, a situação financeira está, de alguma forma, atrelada ao cotidiano. Como é o caso do autônomo Beijamin França, 35, que precisa exercer várias funções para ter uma melhor qualidade de vida.

“Ter cinco rendas e bater minha meta são minhas preocupações, no momento. Sou cantor, compositor, músico e instrumentista, na área da música tento dar aula, tenho uma loja on-line de roupas e vendas de atacado e varejo. Tudo isso para ter uma qualidade de vida. A segunda parte é a terapia, deixo a minha terapia em dia, tendo saúde e dinheiro, você consegue não deixar o dinheiro mandar em você”, comenta.

Já a trabalhadora do lar, Elaine Paula, 48, explica que tem como maior preocupação a saúde. “O dinheiro é importante para tudo, mas eu sempre priorizo a saúde, em primeiro lugar. Porque sem saúde a gente não consegue fazer nada. Tenho um planejamento mensal, a dificuldade é sempre não estar no vermelho, fazer algo a mais, um bico, para tentar suprir.”

Por Julisandy Ferreira e Suzi Jarde.

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