Diferença entre preço do Genérico e medicamentos de Referência chega a R$ 96

Dipirona e os
estimulantes sexuais
estão na lista dos mais
vendidos em 2023 (Foto: Cayo Cruz)
Dipirona e os estimulantes sexuais estão na lista dos mais vendidos em 2023 (Foto: Cayo Cruz)

Apuração em farmácias mostra que remédios patenteados podem pesar até três vezes mais no bolso do consumidor

No dia 20 de maio de 2024, a lei que regulamenta medicamentos genéricos no Brasil completou 25 anos. Criada em 1999, a lei objetivou tornar os remédios mais acessíveis para a população. A partir disso, a reportagem do jornal O Estado foi às ruas da Capital sul-mato-grossense, para entender até quanto o consumidor pode economizar ao adquirir produtos genéricos em vez de medicamentos de referência.

Em uma das lojas da rede de Farmácias Populares de Campo Grande, foi apurado que o Losartana Potássica, no genérico, sai ao preço de R$ 6,73, enquanto O Cozaar, que é o de referência, sai ao valor de R$ 50,68, ou seja, uma diferença de R$ 43,95. Já a Dipirona Sódica na cartela com 10 comprimidos, é vendida no estabelecimento a R$ 5,50 no genérico e a Novalgina, que segue o mesmo princípio ativo, mas conta com a patente da marca, é comercializada a R$ 14,17. A Hidroclorotiazida no genérico, é vendida a R$ 3,63, enquanto a Clorana, ou seja, o medicamento de referência, é comercializada a R$ 3,63. O Nimesulida, no genérico, é vendido a R$ 11,39, enquanto o de referência, o Nisulid, é vendido a R$ 52,54. O Reuquinol de 400 mg, é vendido na rede a R$ 115,61, mas no genérico, o medicamento sai a R$ 65,97, ou seja, R$ 49,64, quase R$ 50 reais de diferença.

De acordo com um levantamento da PróGenéricos (Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos e Biossimilares), a losartana, o analgésico dipirona e os estimulantes sexuais sildenafila e tadalafila estão na lista de medicamentos genéricos mais vendidos em 2023. No País, o aumento da comercialização de genéricos em 2023 em relação ao ano anterior chegou a 5%.Os genéricos podem apresentar o mesmo princípio ativo, a mesma dose e a forma farmacêutica da droga de referência, mas podendo usar substâncias ativas diferentes em sua composição. O consumidor pode adquirir os 35% mais baratos.

Em todo o Brasil, entre a lista de medicamentos mais vendidos por ranqueamento, está em 1º lugar o Losartana Potássica, ou também conhecido na referência como Cozaar, que é utilizado para para o tratamento de hipertensão arterial. Em 2º lugar, aparece a Dipirona Sódica, também conhecida na referência de marca como Novalgina, que é utilizada para efeito analgésico e antitérmico. Em 3º lugar está a Hidroclorotiazida, também conhecida como Clorana, que é utilizada como medicamento diurético e promove a eliminação de líquidos por meio da urina. Ele é utilizado para o tratamento de pressão alta e inchaços causados por problemas cardíacos e renais, assim como problemas associados à cirrose hepática.

Na rede Drogasil, o Losartana é vendido a R$ 8,44, sendo o de referência vendido a R$ 62,71. Já a Dipirona Sódica em genérico, é comercializada a R$ 15,73, enquanto a de referência é comercializada a R$ 22,69 com a patente da marca Novalgina. Já a Hidroclorotiazida, a Clorana, no genérico é vendida a R$ 2,52, enquanto a referência sai a R$ 13,46. O Nimesulida genérico é vendido a R$ 10,90, enquanto a referência é vendida a R$ 57,05. Nos antibióticos os valores e diferenciações também surpreendem, a exemplo, é possível citar a Amoxicilina, que é vendida no genérico a R$ 22,32, mas quando comercializada pela marca de referência, como Amoxil, pode ser adquirida ao preço de R$ 63.

Na Drogalab, os preços seguem uma escalada ainda mais robusta quando o tema é a comparação entre valores. Os remédios “controlados”, ou seja, aqueles que necessitam obrigatoriamente de receituário médico para serem comprados, alcançam uma diferenciação que chega a R$ 96. Um exemplo, é o Zoloft, antidepressivo, que vendido pela marca de referência, é repassado ao consumidor ao valor de R$ 135, mas quando comercializado no genérico como Sertralina, pode ser adquirido por R$ 39. Outro medicamento que também surpreende nos preços é o Wellbutrin, também utilizado para o tratamento de depressão. Na referência o medicamento é vendido a R$ 155, mas quando o composto ativo é comercializado como genérico, o valor desce para R$ 65.

O farmacêutico da Drogalab, Gilbram Santos, 39, explica que no estabelecimento as vendas entre referência e genérico se mantêm no mesmo patamar. No entanto, o público ainda prefere os rótulos de referência, mesmo com o genérico sendo mais barato”. A diferença são os preços, totalmente diferentes. O de referência praticamente vale três vezes mais, dependendo do medicamento e do valor do genérico. Entre a eficácia de cada um, talvez o que a gente possa citar é que o de referência começa o efeito um pouco mais rápido, é a única coisa que muda. Mas, no final eles são iguais. O genérico, com certeza, é mais acessível”, pontua.

Genéricos mais vendidos por unidade em 2023 (TABELA)

1º – Losartana Potássica – Cozaar
2º Dipirona Sódica – Novalgina
3º Hidroclorotiazida – Clorana
4º Nimesulida – Nisulid
5 º Enalapril – Renitec
6º Sildenafila – Viagra
7ª Atenolol – Atenol
8º Simeticona – Luftal
9º Tadalafila – Cialis
10º Sinvastatina – Zocor

Fonte: Conselho Federal de Farmácia com informações da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos e Biossimilares

Visão de especialista

O assessor técnico do CRF-MS (Conselho Regional de Farmácia de Mato Grosso do Sul), Adam Macedo Adami, explica que os medicamentos de referência, se diferenciam pelo recurso e pelo tempo empregado. Mas, em suma, são a cópia idêntica do medicamento de referência, pois tem o mesmo princípio ativo, a mesma concentração e via de administração, a mesma posologia e indicação terapêutica. “Os medicamentos de marca em geral já tem tempo de mercado, no Brasil são 20 anos, e ele não tem concorrentes, porque os outros não podem copiá-lo ou imitá-lo. Medicamentos similares são a cópia do medicamento de referência, pois tem o mesmo princípio ativo, a mesma concentração e via de administração, a mesma posologia e indicação terapêutica. Mas, eles precisam passar atualmente por ensaios e testes de equivalência e biodisponibilidade, de modo a comprovar que terão o mesmo comportamento, desempenho e efeito” esclarece o especialista.

No Brasil, a responsável por patentear os medicamentos de referência é a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que dispõe de estudos, pesquisas e recursos financeiros para verificar a eficácia e segurança. Em primeiro momento, os testes são feitos testes em cobaias, já na segunda fase em seres humanos e na terceira, em pessoas que possuem a doença e se disponibilizam para testar a eficácia da medicação.

Os medicamentos genéricos, conforme pontua Adami, não possuem diferenciação dos de referência e até mesmo por esse fator, o farmacêutico possui autonomia e autorização legal para fazer a troca equivalente. “Eles são uma cópia idêntica de medicamento de marca e referência, tem a mesma composição química. Então, tanto faz tomar genérico ou medicamento de referência, tanto que o próprio farmacêutico tem autorização legal para fazer a troca. Um dos objetivos da lei de 1999 é ampliar o acesso da população e pacientes aos tratamentos médicos através do acesso aos medicamentos, porque tem um preço menor e reduzido”, explica o farmacêutico.

Por Julisandy Ferreira

 

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