Dia Mundial do Meio Ambiente: Bioparque do Pantanal possui know-how para preservação de espécies

Bioparque
Foto: Governo do Estado de Mato Grosso do Sul/Bruno Rezende
Por Méri Oliveira – Jornal O Estado de MS

O Bioparque do Pantanal foi inaugurado no dia 28 de março, e vem atraindo o público com agendamentos concorridos para visitações diárias, para que as pessoas possam ver de perto as 220 espécies no plantel, distribuídas em mais de 40 mil exemplares nos tanques.

Para saber um pouco mais sobre o trabalho ali realizado, em relação a meio ambiente, preservação e conservação, o jornal O Estado conversou com o biólogo e ictiólogo curador da instituição, Heriberto Gimênes Junior. Ele começa a conversa explicando em que se fundamenta o funcionamento do Bioparque.

“Quando a gente fala de aquário, é importante frisar que ele é composto por quatro pilares: educação ambiental, lazer, pesquisa e a conservação. Então, esse espaço do museu é justamente um espaço itinerante, ou seja, frequentemente vai ter outras atrações para poder trazer para o público, principalmente para a comunidade local, informações a que eles não teriam acesso em outros lugares.”

Nilson Figueiredo

Educação ambiental

E quando se fala em Dia Mundial do Meio Ambiente, a ideia imediata que se tem é a de que são necessárias somente ações gigantes, de impacto visível a “olho nu”, reflorestamentos, limpeza de grandes rios, evitar queimadas de grande extensão… não que essas ações não sejam importantes. São. Mas há algo que é consideravelmente simples, e que pode ter enorme relevância e fazer toda a diferença no futuro: a educação ambiental.

Sobre isso, Gimênes explica: “Quando a gente fala de educação ambiental, a gente tem de pensar que essas crianças do momento atual serão as replicadoras no futuro. Então, educando, você consegue permitir que essas crianças, no futuro, conservem o nosso espaço. E a gente só consegue pensar em conservação por meio da informação. Por isso que tem esse projeto, para trazer essa informação para essas crianças e promover a conscientização e futura preservação do ambiente”.

Preservação

Se engana, no entanto, quem pensa que se trata só de visitação. Heriberto explica que um dos papéis principais do Bioparque é justamente a parte de conservação.

“Quando a gente pensa no Pantanal, no nosso bioma, passamos por muitos impactos. Nós tivemos recentemente a questão das queimadas, temos o desmatamento, a questão da produção agrícola, bovinos, enfim… e essas atividades, querendo ou não, geram um impacto no meio ambiente, e consequentemente, os nossos rios também acabam sofrendo com esses processos. Então, o nosso objetivo é: nós fizemos um levantamento das espécies de peixes do Pantanal e nós conseguimos identificar essas espécies que são mais frágeis. Com base nessas fragilidades, como são espécies potenciais para ameaça de extinção, estamos tentando criar esses protocolos de reprodução para poder pensar na conservação futura.”

A instituição já conseguiu propiciar a reprodução de várias espécies, sendo duas delas: o tetra de cauda vermelha (Astyanax sp.), reproduzido de forma inédita no mundo, e o cascudo viola.

Tetra de cauda vermelha

Uma espécie que é relativamente nova para os pesquisadores. “Uma das espécies aqui, que é uma espécie nova para a ciência, é o tetra de cauda vermelha. Ele foi reproduzido pela primeira vez, e a gente agora tem dados para entender como é essa reprodução, quanto ao número de indivíduos, quando ocorre, e tudo isso vai permitir a criação de um protocolo que, lá na frente, se precisar, a gente vai ter a técnica de reprodução para poder fazer, por exemplo, um repovoamento”, explica o biólogo.

Esta espécie é frágil no sentido de só ocorrer em um tipo de rio do Estado, segundo explicação do ictiólogo. “Esse rio, em volta, é só produção de cana – é o Rio Correntes – no norte do Estado, na divisa com MT, perto de Sonora. O peixe ocorre em um trecho desse rio, e se continuar com todo esse desmatamento, a inclusão de pequenas centrais hidrelétricas, tudo isso pode provocar a extinção dessa espécie. Então, por isso é importante a gente ter um espaço como esse [do Bioparque], com os pesquisadores, com todo esse estudo envolvendo esses animais, porque vai permitir que lá na frente a gente consiga trabalhar nessa parte de conservação.”

Cascudo viola

Outra espécie que o aquário tem conseguido fazer se reproduzir, que é, porém, ameaçada de extinção, é o cascudo viola.

“Essa espécie foi descrita não muito recentemente, acho que foi em 2012, se não me engano, no Rio Coxim, na região de São Gabriel do Oeste, bem numa pequena central hidrelétrica. E é uma espécie que hoje se encontra na categoria de ameaçada de extinção. Nós fomos até o campo de localidade típica, que é onde essa espécie foi descrita, e nós coletamos exemplares do ponto de onde eles foram descritos e conseguimos reproduzir em cativeiro. Hoje nós temos a técnica de reprodução dessa espécie, que entra na parte de conservação, então a gente sabe como reproduzir, e se futuramente precisar repovoar, a gente tem condições de ter matrizes de origem com filhotes que poderão ser matrizes no futuro, lá no local de descrição”, explica o profissional.

Queimadas no Pantanal

As grandes queimadas nos anos recentes no Pantanal trouxeram tristes e visíveis consequências para a fauna e a flora do bioma. Quem é que não se lembra das chocantes imagens de animais mortos, carbonizados? Algo de se partir o coração, não é?

Pois é. Heriberto explica que os grandes incêndios em matas e florestas afetam, também, a vida aquática nos rios.

“No Pantanal, anualmente, ocorre a ‘decoada’, um fenômeno natural, que nada mais é do que quando a água do leito do Rio Paraguai extravasa para a planície, entra em contato com matéria orgânica, dá um ‘boom’ de bactérias que ocorrem em déficit de oxigênio, e consequentemente, a morte dos animais. Quando você tem uma queimada, você pode potencializar esse fenômeno da ‘decoada’, e isso pode, consequentemente, potencializar o número de mortes de peixes durante esse período.”

Extinção ou desequilíbrio

O curador explica que, caso alguma espécie chegue, de fato, à extinção, pode haver um desequilíbrio ecológico. “É um efeito cascata, porque cada espécie é importante para a manutenção do ambiente. Esse animal pode fazer o controle de vários tipos, por exemplo, na parte de alimentação de macroinvertebrados, e ele pode servir como fonte de alimento para outra espécie que seja predadora. Então, se esse animal sumir, provavelmente, várias outras espécies também podem acabar sumindo”, pontua.

Questionado sobre a possibilidade de se formar um banco genético de espécies, levando-se em consideração que há exemplares de outros países, Heriberto responde que não é pensado desta forma.

“O objetivo de trazer espécies oriundas de outros continentes nada mais é do que parte de educação ambiental. É para que a população carente (que visita o Bioparque), que não vai ter oportunidade de ver este animal fora do país, [o veja] aqui dentro, e também entra na questão de preservação em âmbito geral, porque não é só o Pantanal que a gente tem que preservar, o mundo inteiro tem de preservar as espécies. A nossa missão aqui com esses animais de diferentes localidades é justamente trazer conhecimento para esta população.” Heriberto finaliza com uma reflexão mais do que importante.

“Eu acho que é importante você conhecer para preservar. Temos de preservar o que nós temos, porque o nosso estado é muito único, o Pantanal é muito único. A pandemia trouxe a sensibilidade para as pessoas, e se conectar com a natureza traz esse amor, esse contato, essa sensibilidade. Então, eu acho que a nossa missão agora é realmente de conhecer para preservar o que nós temos aqui no Estado.”

Visitação

As segundas e quartas-feiras serão dedicadas a visitas de estudantes. Terça, quinta e sábado será a recepção do público geral e na sexta-feira o espaço recebe organizações da sociedade civil e grupos técnicos. Os agendamentos podem ser feitos por meio do site: bioparquerpantanal.ms.gov.br.

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