A inflação nas alturas e constantes reajustes no preço dos alimentos, tem tornado a cesta básica cada vez mais inacessível aos brasileiros que contam com a renda de até um salário mínimo, que hoje, está em R$1.100. Cotada em R$ 650,83, a cesta básica que antes era uma alternativa de reabastecimento à despensa de forma prática, objetiva e econômica, já se tornou inviável, é o que revela a pesquisa de campo divulgada pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) de Campo Grande.
Segundo a supervisora técnica do Dieese, Andreia Ferreira, manter as despesas com alimentação se tornou uma missão difícil para a população. “Mesmo quando consideramos a média salarial no país, que de acordo com a PNAD/IBGE é de R$ 2.433,00 nesse ano de 2021, dado este custo da cesta, é possível perceber que para maioria da população está cada dia mais difícil manter essas despesas “, afirma.
Nos últimos 12 meses, os itens que tiveram variação mais expressiva em Campo Grande, foram o tomate (63,61%), o açúcar cristal (55,25%), o café (55,23%) e a carne bovina (40,39%). Já o arroz e feijão carioquinha tiveram variações de 10,70% e 5,38% respectivamente. Para se ter uma ideia, se levar em consideração os valores por unidade dos itens (quilo, litro, grama, etc), nesse período, os itens mais caros foram a carne bovina, o café e pão francês, conforme os dados do Dieese.
Para Claudomira Inácio Pires de 64 anos, que apesar da idade ainda trabalha como doméstica para integrar a renda de casa, a carne já não faz mais parte da lista de compra, o importante mesmo é calcular o preço da alimentação bruta. “Eu sou acostumada a comprar em mercado grande, porque se lá está caro imagina nos mercados do bairro? e mesmo assim eu pesquiso, não chego comprando não. O preço de tudo está muito alto! O arroz e o feijão estão um absurdo. Já a carne, a gente chega no mercado, olha e deixa lá, não da nem pra pensar em levar”, detalha.
O professor de economia da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), Mateus Abrita, afirma que entre os principais motivos dos impactos na cadeia alimentar, estão os problemas climáticos, além da inflação. “Podemos dizer que são vários fatores que se complementam, como a alta do dólar, os problemas climáticos, a alta dos combustíveis e do frete, alta da energia, desarticulação de cadeias produtivas globais em função da pandemia, entre outros, porque esses são fatores basilares, eles possuem a capacidade de afetar vários setores formando uma espécie de efeito cascata”, explica.
Poder de compra
Diante das necessidades básicas da população, o salário mínimo nacional está longe de garantir uma boa qualidade de vida aos brasileiros. Uma pesquisa do Dieese, aponta que a lei do salário mínimo estabeleceu que o montante deveria ser capaz de suprir as despesas de um trabalhador e sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência. O departamento estima, mensalmente, o valor do salário mínimo necessário para a aquisição da cesta, levando em consideração a determinação da lei, de no mínimo R$ 5.657,66.