Artigo norte-americano aponta que aplicação única poderia ajudar na imunização durante escassez de vacinas
Um estudo da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, indica que pessoas que já tiveram COVID-19 podem precisar de apenas uma dose de vacina para gerar uma forte resposta imunológica contra a doença. Conforme o artigo, isso seria possível mesmo em imunizantes cujo regime de administração prevê a aplicação de duas doses. O documento foi publicado na plataforma medRxiv e ainda não foi revisado por cientistas.
Apesar do resultado animador, para o infectologista e pesquisador da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) Julio Croda, mesmo em um cenário restrito de imunizantes disponíveis, ainda é cedo para instituir uma política pública de aplicação de uma dose para quem já teve a doença. Croda pondera que seria difícil acompanhar a cadeia de imunizados com apenas uma vacina, para de fato comprovar se a estratégia poderia induzir uma resposta imunológica satisfatória.
“Não há como recomendarmos que quem já teve COVID-19 antes, independente da sorologia, receba apenas uma dose de vacina. É difícil que uma política pública venha desses achados científicos que são importantes”, explicou o infectologista.
Em comparação com a parcela da população que não contraiu a doença, os estudos mostraram que pessoas que já foram infectadas com o novo coronavírus tendem a sentir efeitos colaterais mais intensos e apresentar níveis mais altos de anticorpos após a primeira dose da vacina. Os efeitos colaterais após a vacinação são totalmente esperados e são um bom sinal, de acordo com a publicação.
Outro trabalho, publicado na mesma plataforma, analisou a reação de 59 profissionais de saúde após serem vacinados. Destes, 42 já tiveram a doença. Os resultados mostraram que as pessoas que haviam sido infectadas anteriormente apresentaram, após a primeira dose, os mesmos níveis de anticorpos de pessoas que nunca tiveram a doença e que já haviam recebido as duas doses de imunobiológicos.
Experimentos em laboratório mostraram ainda que esses anticorpos foram capazes de impedir o vírus de entrar nas células. Diante da baixa disponibilidade da vacina neste primeiro momento, os pesquisadores concluíram que aqueles que já tiveram COVID-19 devem receber apenas uma dose da vacina.
Ao menos até o fornecimento se estabilizar. O pesquisador recomenda que a estratégia de imunização única seja amadurecida e estudada ainda mais, para eventualmente ser implementada na população. Apesar das ressalvas, Croda salientou que as pesquisas proporcionam uma certa tranquilidade para quem já teve a doença e apresenta uma elevada resposta imunológica.
Número de imunizados
De acordo com dados oficiais do “vacinômetro” do governo de Mato Grosso do Sul, 146,5 mil doses já foram aplicadas em Mato Grosso do Sul. O número representa 67,6% do público estimado da fase 1, que são 176.721 pessoas e apenas 3,83% de toda a população estadual. Dos profissionais da saúde, 71% já foram imunizados. Idosos em instituições de longa permanência apresentam uma taxa de vacinação de 128,3%, e acima de 80 anos o percentual é de 59,3%. Em relação aos deficientes institucionalizados, o índice de imunização está em 154,3%. Referente à população indígena aldeada, a taxa de aplicação das doses é de 68%.
Texto: Mariana Moreira