Em um efeito cascata, MS pode sentir os efeitos da crise dos chips mesmo não tendo nenhuma fabricante
O Brasil ocupa a 9ª posição como um dos países que mais produz veículos no mundo, segundo o Anuário da Indústria Automobilística Brasileira 2025. No entanto está a um passo de enfrentar um desafio no setor, na última quarta-feira (22), o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Igor Calvet, afirmou que a produção de carros no Brasil corre o risco de paralisar por dificuldades em importar chips – resultado de uma crise global.
“Estamos diante de uma crise que se desenha global no fornecimento de chips. Começamos a receber notificações sobre uma iminente interrupção de fornecimento de peças. A nossa indústria pode começar a parar nas próximas duas ou três semanas”, comentou durante entrevista à Folha de São Paulo.
Apesar de em Mato Grosso do Sul, não existir nenhuma fábrica de veículos em larga escala, o Estado possuí uma forte rede de concessionárias e comércios de carros, segmentos que podem a longo prazo sentir os efeitos caso as fabricações dos veículos, de fato, paralisem. A indústria automotiva do Brasil se concentra principalmente em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, sendo as que sentiram os primeiros impactos.
Em entrevista ao jornal O Estado, o CEO da Crisigner Automóveis – uma das maiores montadoras exclusivamente brasileira – Cristiano Ferrari, pontuou que com este cenário fica evidente a dependência que muitos setores ainda têm de outros países, algo que prejudica o alto desempenho das produções mobilísticas no país.
“A situação mostra o quanto o Brasil ainda depende de insumos externos. Cada dia fica mais claro que precisamos investir em tecnologia e fortalecer empresas brasileiras, para garantir autonomia e continuidade na produção automotiva”.
“Pedido de socorro”
Ainda segundo Calvet, a situação crítica informada ao vice-presidente e ministro do Mdic (Desenvolvimento, Indústria e Comércio), Geraldo Alckmin. “Já alertei o vice-presidente Alckmin, sobre o que está acontecendo. Estamos desenhando a possibilidade de o próprio governo brasileiro fazer uma interlocução direta junto ao governo chinês, para que as exportações desse tipo de produto ao Brasil sejam liberadas”, comentou.
O Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores, que representa toda a indústria de autopeças instalada no Brasil, enviou uma carta diretamente a Geraldo Alckmin, com a “solicitação de apoio governamental em razão da situação crítica de abastecimento de componentes fabricados pela empresa chinesa Nexperia”.
Terras raras
A crise dos chips, desencadeada nos últimos dias, é resultado direto de disputas geopolíticas envolvendo o controle de tecnologias e de minerais críticos, como as terras raras. A economista Cristiane Mancini, lembrou que o Brasil também possui reservas, mas pondera que a China é um dos países que mais detém terras raras de extração.
No dia 12 de outubro, o governo holandês, sob forte pressão dos Estados Unidos, assumiu o controle da fabricante Nexperia, uma gigante de semicondutores que atua naquele país. Ocorre que a Nexperia é uma subsidiária do grupo Wingtech, de origem chinesa. Com a atitude, o presidente chinês da empresa foi destituído por ordem judicial, sob suspeita de transferência indevida de tecnologia para a China.
Ao assumir o controle temporário da empresa, o governo holandês alegou que havia risco de escassez de chips essenciais para a economia europeia, além de preocupações de segurança nacional. O temor é de que Pequim possa usar a companhia para influenciar ou restringir o fornecimento de semicondutores à Europa.
A resposta foi imediata. A China reagiu à intervenção holandesa e impôs restrições à exportação de componentes e tecnologias produzidas pela Nexperia em território chinês. Como consequência, essa decisão acabou limitando o envio de chips e peças que são montadas em fábricas da empresa no mundo todo.
Como o Brasil importa praticamente todos os semicondutores que usa e muitos desses componentes vêm de fornecedores que compram chips da Nexperia, o efeito em cascata já começou a se desenhar.
Produção em queda
Após um primeiro semestre de bons resultados frente ao mesmo período de 2024, a segunda metade do ano começou com dados preocupantes. A produção sofreu uma inversão de curva, fechando o terceiro trimestre com recuo de 0,8% frente ao mesmo período do ano passado. O setor de pesados contribuiu decisivamente para essa baixa, com queda de 9,4% ante o terceiro trimestre de 2024. No caso de leves, houve redução de 0,3% em comparação com o mesmo período do ano anterior.
No acumulado do ano, a produção ainda está acima do visto de janeiro a setembro de 2024, com alta de 6%. Os dados do último trimestre, no entanto, indicam dificuldades para o setor manter o desempenho.
“Os números do período de julho a setembro nos preocupam por indicarem a perda
da tração que verificamos na primeira metade do ano e nos impõem o desafio de uma recuperação considerável no último trimestre, diante de uma base muita boa do final do ano passado”, afirmou o presidente da Anfavea.
Por Suzi Jarde
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