Da rápida distribuição de vacinas à ampliação da rede de leitos hospitalares relembra medidas adotadas
Em 11 de março de 2020, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou a pandemia de COVID-19, desencadeando uma crise sanitária global sem precedentes. Cinco anos depois, Mato Grosso do Sul se destaca como um dos estados brasileiros que mais se mobilizaram no enfrentamento à doença. Da rápida distribuição de vacinas à ampliação da rede de leitos hospitalares, as medidas adotadas foram essenciais para mitigar os impactos da pandemia.
Em Mato Grosso do Sul, o primeiro caso confirmado de COVID-19 ocorreu em 14 de março de 2020, em Campo Grande. A paciente, uma mulher de 23 anos, teve histórico de contato com pessoas infectadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Poucos dias depois, em 31 de março de 2020, a primeira morte no estado foi registrada, uma mulher de 64 anos, moradora de Batayporã. Esses primeiros casos deram início à luta contra o novo coronavírus, que rapidamente se espalhou pelo estado e pelo país.

Foto: Marcos Maluf
Ao longo dos anos, Mato Grosso do Sul se destacou pela rápida mobilização e pelas medidas eficazes de combate à pandemia, incluindo o aumento da oferta de leitos hospitalares e a implementação de políticas de saúde pública rigorosas, como o uso de máscaras e o distanciamento social.
A vacinação foi um dos marcos mais importantes no combate à pandemia. No Brasil, a primeira vacina foi aplicada em 17 de janeiro de 2021, na enfermeira Mônica Calazans, em São Paulo. Em Mato Grosso do Sul, a primeira pessoa a ser vacinada foi uma indígena de 91 anos, no dia 18 de janeiro, no Hospital Regional de Campo Grande.
Desde o início da vacinação, o estado avançou significativamente na cobertura vacinal. Atualmente, Mato Grosso do Sul registra 638.619 casos confirmados e 11.341 mortes por COVID-19, com 1.825 novos casos e 24 mortes em 2025. A taxa de cobertura vacinal atingiu 83,6%, com destaque para a faixa etária de 75 a 79 anos, que possui a maior adesão à vacinação.
O estado também enfrentou desafios significativos durante a pandemia, incluindo a escassez de recursos e a sobrecarga do sistema de saúde. No entanto, as autoridades estaduais tomaram medidas rápidas para ampliar a infraestrutura hospitalar e garantir a oferta de insumos essenciais, como ventiladores pulmonares e medicamentos. A rede de saúde foi reforçada com a construção de novos leitos e o fortalecimento dos hospitais de referência para tratamento da COVID-19.
Além disso, o governo estadual trabalhou em conjunto com prefeituras e outras entidades para garantir a distribuição rápida de vacinas e medicamentos, enquanto implementava medidas de isolamento e quarentena para controlar a propagação do vírus.
O protagonismo na vacinação
A estratégia de vacinação rápida e eficiente colocou Mato Grosso do Sul como líder nacional na imunização contra a COVID-19. O então secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, destaca que o sucesso foi fruto de um planejamento rigoroso: “Nosso mantra era: ‘tratamento precoce é vacina no braço’. Criamos uma logística eficiente para que cada dose fosse aplicada o mais rápido possível”.
Um dos diferenciais foi a distribuição das vacinas em tempo recorde. “Tratamos como uma ‘operação de guerra’, envolvendo forças de segurança, profissionais de saúde e gestores municipais. O desafio era garantir que cada dose chegasse ao seu destino e fosse aplicada em até 12 horas”, relembra Resende.
A imunização em massa nos 13 municípios de fronteira com o Paraguai e a Bolívia foi outro grande marco. “A criação do ‘cinturão sanitário’ ajudou a reduzir em 63% os novos casos de COVID-19 nessas regiões em apenas 10 dias”, pontua o ex-secretário.

“O cansaço físico e mental era gigantesco. Víamos colegas exaustos, longe da família e enfrentando mortes diárias”, Rotterdam Guimarães, médico da linha de frente – Foto: Nilson Figueiredo
A luta nos hospitais e na linha de frente
Enquanto a vacinação não era uma realidade, os profissionais de saúde enfrentavam um cenário de colapso hospitalar. O médico Rotterdam Guimarães, que atuou na linha de frente e atendeu mais de 70 mil pacientes, relembra o primeiro caso suspeito de COVID-19 em Mato Grosso do Sul: “Uma garota com sintomas respiratórios, que chegou ao aeroporto de Campo Grande vinda da China. Naquele momento, não havia protocolo de atendimento definido e os exames eram caríssimos, o que dificultava a confirmação do diagnóstico”.
Nos meses seguintes, a rotina se tornou extenuante. “O cansaço físico e mental era gigantesco. Víamos colegas exaustos, longe da família e enfrentando mortes diárias. Muitos profissionais da saúde também foram vítimas da doença”, recorda Guimarães.
A dor de informar e a importância da transparência
Uma das vozes mais presentes durante a pandemia foi a da secretária adjunta de Saúde, Crhistinne Maymone, responsável por divulgar diariamente os números de casos e óbitos. “Foi uma experiência única, de grande crescimento pessoal. O medo do desconhecido era enorme, mas precisávamos informar com transparência e segurança”, relata.
Para ela, a clareza na transmissão das informações ajudou na adesão às medidas de prevenção. “A transparência foi essencial. Os boletins epidemiológicos se tornaram um instrumento para tomadas de decisão. Até hoje, mantemos boletins para doenças como dengue e chikungunya, reforçando o legado da pandemia na vigilância sanitária”.
Desafios e aprendizado para o futuro
O infectologista e pesquisador da Fiocruz, Julio Croda, destaca um dos maiores desafios enfrentados durante a pandemia: a desinformação. “Foi muito desafiador combater as fake news e convencer a população a seguir as diretrizes científicas. As redes sociais amplificaram discursos negacionistas, dificultando ainda mais o combate ao vírus”.
Com a experiência adquirida, o Estado se tornou mais preparado para futuras crises sanitárias. “Fortalecemos nossa vigilância genômica e ampliamos a capacidade de detecção precoce de novos vírus. Hoje, temos uma rede mais robusta para monitoramento e resposta rápida”, explica Crhistinne Maymone.
Legado da pandemia
Passados cinco anos, o saldo da pandemia é de lições duras, mas também de avanços significativos. A importância da vacinação, o fortalecimento da vigilância epidemiológica e a necessidade de investimentos contínuos na saúde pública são algumas das principais heranças desse período.
O médico Rotterdam Guimarães deixa um recado em homenagem aos profissionais da saúde: “Hoje, Mato Grosso do Sul respira aliviado graças a cada profissional que esteve na linha de frente. Foram dias difíceis, tristes e desafiadores, mas todos lutamos para proteger e salvar vidas.”
Se uma nova pandemia surgir no futuro, Mato Grosso do Sul tem um exemplo a oferecer ao Brasil: “Ciência, planejamento e responsabilidade salvam vidas. A política de saúde deve ser tratada com seriedade, acima de ideologias”, finaliza Geraldo Resende.
O aprendizado de cinco anos de pandemia reforça que, diante de crises sanitárias, o caminho mais seguro é a confiança na ciência e a união de esforços em prol da vida.
Para o infectologista e pesquisador da Fiocruz, Julio Croda, a principal lição da pandemia foi a necessidade de uma resposta coordenada, apoiada pela ciência e com comunicação eficaz. Ele destaca que, para emergências futuras, é crucial que os países tenham capacidade local de produção de medicamentos e vacinas, de forma ágil, para evitar impactos tão graves quanto os da COVID-19. “Estabelecer uma meta de ter uma vacina específica para emergências em até cem dias é essencial. Se conseguirmos atingir essa meta nas próximas crises de saúde pública, podemos reduzir significativamente o impacto de novas emergências, tanto em termos de hospitalizações quanto de óbitos. A pandemia demonstrou que precisamos ter condições locais para produzir esses insumos, o que é fundamental para garantir uma resposta rápida e eficaz”, explica Croda.
Por sua vez, a secretária adjunta de Saúde de Mato Grosso do Sul, Christinne Maymone, enfatiza que, mesmo após o fim da fase mais crítica da pandemia, as medidas de proteção continuam sendo essenciais. “A educação sanitária foi um legado importante da pandemia. A etiqueta respiratória, como o uso de máscara e o distanciamento social, deve ser mantida como prática constante. Além disso, a conscientização sobre a importância da vacinação continua relevante. Quando as pessoas têm acesso a imunizantes e optam por não usá-los, não só colocam em risco a própria saúde, mas também a saúde de suas famílias, colegas de trabalho e de toda a sociedade. Esses dois legados — o uso das medidas de proteção e a conscientização sobre a vacinação — devem ser preservados e fomentados, pois a ciência nos dá ferramentas para salvar vidas, e devemos fazer uso delas”, afirma Christinne.
Por Suelen Morales
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