Chuvas evidenciam a falta de limpeza dos córregos e bueiros

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Foto: Nilson Figueiredo/Jornal O Estado MS

Precipitações provocaram enxurradas e estragos em Campo Grande 

A chuva, de 165,2 milímetros, que caiu em Campo Grande ontem (4), levou a transbordar trechos de diversos pontos dos córregos Imbirussu, Prosa e Segredo, que atravessam os bairros da Capital. Além do acúmulo de água ter sido 71,52% de todo o volume esperado para o mês de janeiro, segundo o Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima do Estado do Mato Grosso do Sul). 

Ele apresentou um fator comum com as demais chuvas, o da falta de limpeza nos córregos e dos bueiros. Levantamento feito pelo jornal O Estado indica que a Prefeitura de Campo Grande não faz limpezas nos locais ao menos em seis anos. 

O último levantamento feito ocorreu em 2016, quando 1,33 mil toneladas de lixo foram tiradas por gradeamento da rede de esgoto da Capital. Desde lá, não há registros nem serviços realizados de grande proporção pelos municípios, apenas limpezas paliativas feitas após grandes temporais. 

Em outubro de 2022, a Sisep (Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos) informou que periodicamente realiza a limpeza das margens dos córregos onde há o descarte irregular de lixo, bem como o de limpeza de bocas de lobo. Contudo, os serviços de retirada de resíduos de dentro dos córregos exigiria o trabalho de dragagem, que por questões ambientais deixou de ser realizado. 

Para o jornal O Estado, a assessoria de imprensa da Águas Guariroba informou que atua em parceria junto com a Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Gestão Urbana) para analisar a qualidade da água dos córregos de Campo Grande, dentro do projeto Córrego Limpo, mas destaca que não realiza os trabalhos de limpeza dos córregos. 

“A Águas nunca foi responsável pela limpeza dos córregos de Campo Grande. temos uma parceria com a Semadur que é de monitorar a qualidade da água dos córregos da cidade, mas nossa participação é realizando a coleta de amostras dessas águas e as análises em nossos laboratórios”, destacou. 

Em entrevista ao jornal O Estado, segundo a engenheira sanitarista Dóris Garisto Lins, 56, manter os córregos limpos é um dever mútuo entre a população e o Poder Público. “Os lixos não vão parar no córrego sozinhos, se estão ali, é porque alguém jogou e é aí que deve começar a educação dos cidadãos, mas é claro que é dever do Poder Público elaborar um bom plano de saneamento básico que envolva também coleta seletiva de lixo e drenagem”, disse. 

Dóris que é gerente técnica e de qualidade da empresa MS Ambiental, em Campo Grande, afirmou ainda que cabe ao Poder Público incentivar a população acerca das medidas que devem ser adotadas para promover a reeducação. “Se não se educa a população e não se investe em drenagem de qualidade, a cidade não suporta um período de fortes chuvas, assim como aconteceu hoje”, esclareceu Dóris.

Questionada sobre os malefícios para a saúde, a engenheira declarou que, com certeza, existem impactos que refletem diretamente na saúde. “Campo Grande é uma cidade cheia de qualidades, mas é fato que a natureza responde pelas atitudes da população e a sujeira pode transmitir diversas doenças e bactérias”, alertou.

Em um outro ponto que sofreu com os alagamentos, a região do Lago do Amor, o morador da Vila Olinda, Duarte Vieira Fernandes, 64, contou que o problema de alagamento e acúmulo de resíduos é recorrente. “Para que a equipe da prefeitura possa vir limpar é necessária uma máquina que se eu não me engano está em outro bairro. A limpeza manual é muito difícil, foram quatro pessoas lá e tiraram pouca coisa. É um local com muita lama e de difícil acesso.” 

Prejuízos  

Ruas ficaram alagadas e semáforos estragados, em razão da forte chuva que passou pela cidade. A Avenida Fábio Zahran com Bandeiras ficou inundada boa parte do dia de ontem (4). Semáforos das avenidas Calógeras, Ernesto Geisel e Duque de Caxias também ficaram danificados. 

O forte temporal também causou transtornos em diversos pontos, como no cruzamento da Rua Capibaribe com Macaé, no bairro Santo Antônio da Capital. Várias ruas do bairro Jardim Santa Emília também foram tomadas na manhã de quarta-feira (4), durante a chuva torrencial que atingiu Campo Grande. Outras regiões também registraram pontos de alagamento, como na Rua da Divisão, onde o estacionamento de um supermercado foi invadido pela água e rodeou veículos estacionados pelo local. Assim como a Avenida Costa e Silva, que ficou coberta pela enxurrada.

Também tiveram de enfrentar os transtornos ocasionados pela enxurrada as regiões do Jardim Bonança, Jardim Guaicurus, e proximidades da Avenida Júlio de Castilho.

Moradores de várias regiões de Campo Grande foram surpreendidos com a invasão das chuvas dentro das casas na manhã de ontem. Nos bairros Nova Campo Grande e Jardim Carioca, onde as ruas não são asfaltadas, foram tomados pela lama ou invadidos pela água. 

Questionada sobre quando devem começar os trabalhos de restauração após os estragos provocados pelas chuvas, a Prefeitura de Campo Grande informou que já está atuando. 

“A Sisep ressalta que a umidade do solo inviabiliza intervenções técnicas adequadas. Neste sentido, a Sisep explica que são necessárias pelo menos 72 horas de estiagem para que haja condições de se fazer a manutenção. As equipes estão nas ruas, identificando os pontos  mais críticos”, informou.  

Além disso, reforçou que as equipes estão todas de prontidão e monitorando as regiões da cidade, como também os pontos de alagamento, assim como as famílias em situação de vulnerabilidade social que precisem de ajuda.

Instabilidade característica do verão

O tempo está instável, chuvoso e nublado, desde segunda-feira (2) na Capital, e promete permanecer úmido pelo resto da semana, de acordo com alerta laranja de tempestade divulgado pelo Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia).

De acordo com o prognóstico meteorológico divulgado pelo meteorologista Natálio Abrahão, chuvas são comuns no verão. “A estação tem os maiores índices pluviométricos do ano, podendo alcançar o acumulado de 565 milímetros de dezembro a março”, destacou ele.

Ainda conforme o meteorologista, a chuva deverá dar trégua a partir desta quinta -feira (5), e poderá permanecer assim até sábado (7). “De quinta a sábado, a chuva poderá cessar e o sol aparecerá com algumas nuvens. A temperatura máxima pode chegar aos 30ºC. Somente no domingo (8), é que há nova previsão de chuva entre o período da tarde e à noite”, concluiu.

Serviço: A população pode entrar em contato com o Canal 156 ou com a Defesa Civil, pelo 199.

Unidades de saúde

Logo no início das chuvas, imagens de unidades de saúde ficando alagadas circularam nas redes sociais. Nos vídeos gravados por pacientes das UBSF (Unidade Básica da Família) do bairro Los Angeles e da UBS (Unidade Básica de Saúde) da Vila Carlota foi possível observar goteiras em diferentes consultórios e servidores municipais tentando minimizar os impactos provocados pela água. Questionada pelo jornal O Estado, a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) informou em nota que deve estabelecer uma força-tarefa para realizar os reparos emergenciais nas unidades atingidas pelas chuvas.  

“Desde a manhã dessa quarta-feira (4), as equipes da secretaria estão fazendo a vistoria e mensurando  os prejuízos nesses locais. As intervenções devem ocorrer de maneira pontual, atendendo a necessidade de cada unidade. Existem unidades, como a do Carlota e do Jockey Club, por exemplo, que já estão dentro de um planejamento para revitalização. No mês passado, o secretário municipal de Saúde, Dr. Sandro Benites, esteve percorrendo as unidades para fazer um diagnóstico situacional e estabelecer as prioridades para atendimento. A previsão é de que nos próximos dois anos, ao menos 20 unidades sejam reformadas, incluindo as UPAs e CRSs. Na terça-feira (3), inclusive, já foi assinada a ordem de serviço para reforma completa da UPA Vila Almeida. A previsão é de que as obras sejam iniciadas ainda neste mês”, finalizou a nota.

Cidade do Natal

A Prefeitura de Campo Grande informou, na tarde de ontem (4), que em razão do mau tempo, a Cidade do Natal, localizada nos altos da Avenida Afonso Pena, ficará fechada até as 17h desta quinta -feira (5). A decisão ocorreu em virtude das fortes chuvas que atingiram a Capital e que provocaram alguns estragos na estrutura do complexo. Equipes realizarão no local a manutenção e a limpeza.  

Brenda Leitte e Tamires Santana – Jornal O Estado do MS.

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