Após a confirmação dos três primeiros casos da nova variante delta em Mato Grosso do Sul, pela SES (Secretaria de Estado de Saúde), no dia 6 de setembro, a informação acendeu o alerta da comunidade pediátrica local, já que, mesmo com o avanço da vacinação, a alta transmissibilidade da nova cepa, aliada ao fato de que pessoas com menos de 12 anos ainda não são elegíveis para serem vacinadas, pode incrementar o número de casos do novo coronavírus entre as crianças.
Até o momento o que se sabe é que a COVID-19 se manifestou na população infantil como uma doença de curso mais leve na maioria dos casos durante a pandemia. Contudo, de acordo com o órgão americano CDC (Centro de Controle e Prevenção contra Doenças), a chegada da variante apresenta um risco maior para crianças e adolescentes.
De acordo com a pediatra Patrícia Otto, o que se sabe sobre a cepa delta em crianças é que a taxa de transmissibilidade é até três vezes maior que as demais cepas. “Em países com maior circulação desta
cepa, os casos pediátricos aumentaram cerca de 10x, principalmente em regiões com baixa adesão vacinal. Porém, casos graves e internações mantém o padrão das demais cepas (em torno de 2%)”, informa.
Segundo os dados publicados pelo último boletim epidemiológico (10/9) divulgado pela SES, os hospitais
apresentam uma taxa de ocupação em 9% nos leitos clínicos públicos pediátricos. São sete casos confirmados e três suspeitos até o momento. Nos leitos de UTI pediátricos na rede pública, a taxa de ocupação estava em 40%. Nos leitos clínicos particulares, a ocupação estava em 14%.
A SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) informou que a maioria dos relatos de crianças infectadas por
COVID-19 demonstra contato familiar como diagnóstico comprovado da infecção. Um estudo publicado pela associação em março de 2020 sugere que as crianças são tão propensas a se infectarem quanto os adultos.
“Como a maioria das crianças infectadas não apresenta sintomas ou os sintomas são menos graves, os
testes diagnósticos não são realizados em muitos casos, fazendo com que o número real de crianças infectadas seja subestimado”, informa a cartilha divulgada pelo Departamento Científico de Infectologia da SBP.
Entre os sintomas, a pediatra explica que a grande maioria das crianças vai apresentar formas leves da doença, com sintomas como febre, problemas respiratórios semelhantes a gripe ou resfriado comum, diarreia, dor abdominal, com evolução autolimitada e benigna.
“Outra manifestação da doença é a SIMP (síndrome inflamatória multissistêmica) pós-COVID-19. É uma complicação grave e com mortalidade estimada 100x maior que a da COVID em crianças e adolescentes. Caracteriza-se por febre alta e persistente (mais de 5 dias) e pode evoluir com comprometimento sistêmico importante, com alterações cardiovasculares, renais, hepáticas, neurológicas e coagulopatias. Outra entidade clínica relatada que em 10-15% das crianças que tiveram COVID é o COVID longo, que se manifesta por fadiga, insônia, dificuldade de concentração, dor de cabeça, palpitações, dor no peito e perda de olfato, com duração de até oito semanas”, explica.
É importante que os pais fiquem atentos caso as crianças manifestem algum desses sintomas. Esse é um
bom momento para repassar com os pequenos as medidas de biossegurança adotadas para a prevenção.
O uso de máscaras e a manutenção do distanciamento social ainda devem ser estimulados, em razão do possível aumento iminente de casos secundários às novas variantes. Os esforços devem ser implementados para estimular a vacinação e fornecer acesso às vacinas ao públicos-alvo abordados.
“A melhor maneira de prevenir contra a doença em crianças é a vacinação dos adultos e adolescentes e medidas restritivas como uso de máscaras e distanciamento social”, concluí Patrícia Otto.
Hospital Infantil
A Prefeitura Municipal de Campo Grande, em parceria com o governo do Estado e o Hospital São Julião, pretende realizar a criação de um hospital pediátrico que será implantado na estrutura do Hospital da Criança para atender as demandas do município.
O projeto vem sendo discutido desde o mês passado. Segundo o prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad, a prefeitura aguarda um posicionamento do Estado para a criação do hospital na Capital. “São alguns critérios financeiros em análise administrativa a serem acordados com o governo do Estado para a gente bater o martelo de uma vez por todas. Não temos um prazo ainda”, afirma o prefeito. (Texto: Isabela Assoni)