Capital quer discutir fim do uso de máscaras enquanto Estado amplia debate sobre necessidade de vacinação

Foto: Valentin Manieri/O Estado Play
Foto: Valentin Manieri/O Estado Play

Especialistas destacam que decisão prematura pode causar prejuízos no controle da doença

O prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD), anunciou na última terça-feira (26) que, na próxima semana, em reunião do Comitê Municipal de Enfrentamento à COVID-19, serão discutidas algumas medidas de flexibilização, como a obrigatoriedade do uso da máscara em espaços abertos. Contudo, a liberação dividiu opiniões e ampliou o debate sobre a necessidade de ter cautela na tomada de decisões a fim de evitar novas variantes do vírus e, até mesmo, um aumento no número de testes positivos para a doença, uma vez que a vacinação ainda enfrenta barreiras com a população que não quer receber a dose do imunizante.

Segundo o prefeito Marquinhos Trad, ainda que as flexibilizações devam ser amplamente conversadas antes que haja qualquer deliberação, mas confirmou que espera que a Capital siga o modelo de outros países onde a vacinação esteja em níveis semelhantes.

“Alguns locais que estão com índices de vacinação semelhantes e até mesmo inferiores ao nosso já começaram a discutir a liberação do uso da máscara em locais específicos, mas entendemos que é necessário que haja um aprofundamento maior em torno dos riscos que isso pode trazer ou não”, contou.

Apesar de a prefeitura pontuar que a nova medida entra em discussão por conta de Mato Grosso do Sul registrar uma queda progressiva no número de casos e mortes da doença, a infectologista Mariana Croda destaca que essas flexibilizações estão provocando uma falsa sensação de que a pandemia chegou ao fim.

“Essa sensação é causada pelo avanço da vacinação, mas temos de lembrar que a gente ainda tem um contingente de pessoas não vacinadas, que se recusam a ser imunizadas por algum motivo, além da faixa etária que ainda não tem estudo, como as crianças. Então é importante ressaltar que neste momento é recomendando continuar com o uso da máscara, o distanciamento e principalmente evitar esses locais com alta na aglomeração”, afirma a especialista.

Para a infectologista, caso as medidas de biossegurança deixem de ser seguidas, existe uma chance de que a sociedade volte a enfrentar as situações do início, quando vários surtos foram acontecendo ao longo do tempo.

“Acredito eu que estamos caminhando para um controle da doença e que é só uma questão de paciência até que a gente consiga de fato uma flexibilização geral das atividades, porém os cuidados individuas não podem deixar de acontecer. Nós não temos ainda estudos que mostram quantos por cento precisaríamos imunizar da população para impedir que as variantes continuem circulando, então é uma necessidade atingir o máximo da vacinação”, destacou Mariana.

Mesmo sendo da vontade de muitas pessoas andar sem máscara e tentar voltar ao “normal”, o secretário estadual de Saúde, Geraldo Resende, também reforçou que a medida ainda entrará em discussão, mas que, no momento, a prioridade é vacinar os públicos que ainda não completaram o ciclo.

“A suspensão da máscara ainda vai ser discutida dento do comitê do programa Prosseguir, estamos acompanhando todas essas iniciativas do país, estamos acompanhando algumas iniciativas do Estado, principalmente Campo Grande. Precisamos continuar avançando no processo de imunização, nós não chegamos nem a 50% da dose de reforço em idosos e temos os adolescentes que precisam tomar a primeira e a segunda, sem falar nos que relutam, tudo isso deve ser levado em conta para evitar que a flexibilização traga uma expansão dos casos”, reforçou o secretário.

O médico infectologista Maurício Pompilio também pondera que o período atual ainda merece cuidado e atenção, já que, mesmo com os casos controlados, ainda existem alguns receios que precisam de atenção.

“Evidente que eu estando em um ambiente aberto sem proximidade com outras pessoas, numa praça, por exemplo, a chance de transmitir ou ser infectado por outra pessoa é mínima, entretanto, quando institucionalmente as autoridades liberam o uso de máscara para ambientes abertos, isso pode dar uma falsa sensação de que tudo está sob controle e podemos ter situações em que a população deixará de usar máscara quando estiver próximo de outras pessoas”, explica.

Para o especialista a vacinação também é de suma importância, mas ele traz um reforço maior para as máscaras de proteção facial, que além do novo coronavírus são também grande aliadas na prevenção contra outras doenças respiratórias.

“Foi um grande avanço quando passamos a entender que a máscara serve tanto para uma proteção individual quanto para proteger e cuidar do outro. Esse costume já era observado em outras comunidades, principalmente do Continente Asiático, então acredito que o uso deva ser parte da rotina para nós também, principalmente quando temos outras infecções respiratórias, como a influenza, e outros resfriados comuns circulando”, finaliza. (Débora Ricalde)

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