Em viagem ao Oriente Médio, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) firmou acordos com os Emirados Árabes e se hospedou no hotel mais luxuoso da região. Hoje, em novo capítulo da tentativa de aproximação com os países árabes, ele se reúne com o príncipe da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman.
Submerso pelo mais recente embate econômico com o Irã, Salman coleciona atritos diplomáticos, sendo o mais notório deles em relação ao assassinato do jornalista Jamal Khashoggi dentro do consulado saudita em Istambul no ano passado.
Tratado formalmente como sucessor (o país está sob o comando do rei Salman bin Abdel Aziz), Salman, 34, exerce na prática a liderança da monarquia — além de chefiar a Defesa e ser vice-primeiro-ministro. O príncipe liderou, desde que ascendera como herdeiro daquele país, uma reforma sem precedentes; o reino, todavia, não deixou de se caracterizar como uma ditadura fundamentalista adepta do wahhabismo, vertente ultraconservadora do Islã.
A reunião com Salman e o roteiro escolhido no Oriente Médio colocam em xeque discurso recorrente de Bolsonaro de que não se alinharia a ditaduras. Qatar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos fazem parte das monarquias do golfo pérsico e não são exatamente modelos de democracia.
O encontro entre Bolsonaro e Salman não será inédito. Os dois conversaram em uma reunião bilateral durante o G20 em Osaka, no Japão, com direito a postagem do presidente brasileiro em seu Twitter.
Firme em minha determinação de trazer investimentos para nosso país, conversei com o Príncipe Mohammad bin Salman da Arábia Saudita, maior economia do mundo árabe, sobre oportunidades de investimento no Brasil. Estamos adotando uma posição muito mais equilibrada no Oriente Médio. pic.twitter.com/vEtWGRUFvp
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) June 29, 2019
O momento era delicado para o príncipe saudita, posto que a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgara dias antes um relatório que associa o príncipe herdeiro ao assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, que trabalhava para o jornal Washington Post e era crítico do regime saudita. A morte de Khashoggi completou um ano no último dia 2 sem esclarecimentos; o corpo nunca foi encontrado, e há suspeita de que tenha sido desmembrado e dissolvido com ácido.
Apesar das estreitas relações entre Riad e o governo de Donald Trump — este, inclusive, vetou um projeto de lei que proibiria a venda de armas dos EUA para a Arábia Saudita — a agência de inteligência norte-americana (CIA) apontou que Salman fora o mandante do assassinato de Khashoggi, segundo reportagem do Washington Post.
No último desdobramento, Salman reconheceu sua responsabilidade pela morte pois o crime aconteceu sob seu governo, mas não admitiu que tenha qualquer ligação ou conhecimento prévio do assassinato. (Uol)