Um mês após ter ameaçado o STF (Supremo Tribunal Federal) nos atos de raiz golpista do 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) consolidou uma trégua com o Judiciário ao mesmo tempo em que tenta nas últimas semanas emplacar uma agenda positiva de olho no período eleitoral de 2022.
Ao longo dos últimos 30 dias, depois de ter divulgado uma carta à nação em que ensaiou um recuo dos ataques contra as instituições, o presidente abandonou a retórica agressiva contra os ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, do STF.
Para além da trégua, Bolsonaro chegou a elogiar Barroso, que também é presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), por ter incluído militares para acompanhar as eleições. Ele ainda reduziu as críticas ao sistema eletrônico de votação, uma de suas principais bandeiras anteriores ao 7 de setembro.
“Com as Forças Armadas participando, você não tem por que duvidar do voto eletrônico. As Forças Armadas vão empenhar seu nome, não tem por que duvidar. Eu até elogio o Barroso, no tocante a essa ideia – desde que as instituições participem de todas as fases do processo”, disse, em entrevista à revista “Veja”, no dia 24 de setembro.
De acordo com interlocutores, ficou claro para o chefe do Executivo que era preciso dar um passo atrás nos ataques contra o Judiciário.
Além das reações do presidente do STF, ministro Luiz Fux, contra as investidas de Bolsonaro, o Planalto verificou que a permanente confrontação com as instituições vinha afetando a relação do governo com setores econômicos e do agronegócio.
Desde então, Bolsonaro não apenas deixou de atacar o STF como diminuiu sua exposição de modo geral. Ele reduziu, por exemplo, a divulgação de conversas com apoiadores na saída do Palácio da Alvorada, de onde costumava disparar contra Barroso e Moraes.
Segundo aliados, as manifestações do 7 de setembro renderam ao mandatário as fotografias de apoio popular que ele precisava. Além do mais, por terem sido maiores do que os atos de oposição convocados posteriormente, têm dado sobrevida ao discurso presidencial de que ele tem o respaldo das ruas.
Em contrapartida, os recuos na retórica golpista tiveram um preço para Bolsonaro. Ele foi cobrado nas redes sociais por apoiadores mais radicalizados, que viram no armistício costurado pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) um sinal de rendição à chamada velha política.
O ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, chegou a divulgar um vídeo nas redes sociais pedindo para que seguidores confiassem no presidente. Bolsonaro tem atuado para manter a militância engajada, apesar da trégua com o Judiciário.
Em 21 de setembro, ele aproveitou o palco da Assembleia-Geral da ONU para fazer diversos acenos à base mais ideológica, como a defesa do chamado tratamento precoce contra a COVID – baseado em medicamentos ineficazes.
De acordo com auxiliares, Bolsonaro tem buscado adotar um discurso mais pragmático e focado nas eleições. A mudança de tom ficou evidente na última semana de setembro, quando o presidente realizou viagens e participou de diversas cerimônias alusivas aos mil dias de governo.
A prioridade de Bolsonaro, no momento, dizem assessores, tem sido tentar construir uma estratégia de reação à alta dos preços da gasolina.
O diagnóstico no Planalto é que o avanço da inflação -principalmente na gasolina e no gás- tem impactado diretamente na queda de popularidade do mandatário.
A persistência da alta dos preços também é considerada um dos principais obstáculos para a campanha de Bolsonaro em 2022. O tema tem sido frequentemente abordado por Bolsonaro nas declarações feitas após o 7 de setembro.
Além de advogar pela mudança do cálculo do ICMS sobre combustíveis, ele sugeriu a criação de um fundo regulador para controlar os reajustes. (Folhapress)