É com um spray de tinta na mão que Gabriela Bonifácio, 24 anos, consegue se expressar e ser genuinamente livre. No grafite, a jovem artista da Capital encontrou a oportunidade de ocupar e colorir espaços, além de também descobrir um lugar de acolhimento, humildade e aprendizado.
A história da Gabriela com o grafite teve início em 2018, mas o interesse dela pelo universo artístico e todas as suas possibilidades começou bem cedo por influência de alguém especial. “Minha mãe é artista plástica, então eu cresci frequentando ambientes muito inspiradores com ela como exposições e galerias. Eu sempre fui muito interessada em arte e até fazia aulas de pintura em tela em uma determinada época, mas nunca tive a vocação”, diz.
Embora não tenha encontrado a chamada “vocação” para pintar telas, a artista enxergou no grafite uma outra forma de manifestação artística. A Gabi continuou produzindo arte, mas, dessa vez, as telas não eram compostas por aquele material de tecido e madeira, e sim, um outro, mais bruto e concreto.
A grafiteira conta que foi graças a outro movimento cultural que ela decidiu se dedicar de vez ao grafite. “A arte urbana sempre me agradou esteticamente, mas foi através do hip hop que eu aprofundei minhas pesquisas e reconheci minha vontade de querer fazer parte daquilo. Mesmo sem grana eu estava sempre atrás dos amigos e do látex”, relata.
Por meio do trabalho, Gabriela exerce a liberdade individual de pintar aquilo que deseja e no formato como ela quer. Para a jovem, o grafite não é somente transformar estruturas de cores sólidas para coloridas, e sim facilitar o acesso à arte de forma igual para todos. “Pintar a cidade é manter ela viva e com arte acessível. Cada muro pintado é uma intervenção. Às vezes com poucos recursos já consigo acrescentar uma ideia diferente ao espaço, nisso a gente consegue pintar flores mas também consegue protestar. Nem sempre agrada, mas é aí que está todo o charme”, afirma.
Grafite como um espaço feminino
As mulheres não ficam atrás quando o assunto é arte de rua. A cena do grafite no Brasil é formada e bem representada por elas. Mesmo assim, como em várias outras áreas da sociedade, a trajetória delas é diferente quando comparada à deles.
Gabriela expõe algumas das dificuldades que as mulheres enfrentam no grafite, além do machismo e assédio. “É muito mais difícil para a mulher conciliar uma rotina de pintura na rua por diversos fatores como a jornada de trabalho, ela não ter com quem deixar os filhos ou até mesmo porque simplesmente não é seguro sair sozinha”, ressalta.
Questionada sobre já ter sofrido preconceito por ser uma artista no meio, ela relata alguns episódios, porém enfatiza se sentir grata pelas amizades que o grafite proporcionou. “Na rua a gente escuta e vê de tudo. Me sinto muito mais exposta aos comentários misóginos e ao assédio. Mas, apesar dessa realidade, eu só tenho a agradecer pelas amizades que a tinta me deu”, fala.
No fim da entrevista, a Gabi aproveita para mandar um recado para outras artistas que compartilham a paixão pelo grafite. “Um salve especial para as mulheres com quem mais aprendo e troco experiências: Frbeee, Abé, Ary. Sincero respeito por todas as meninas que estão em cena, finaliza.
Excelente matéria! ??