BAURU, SP (FOLHAPRESS) – O primeiro-ministro da Coreia do Sul, Kim Boo-kyum, anunciou nesta quinta-feira (16) que o país vai restabelecer regras mais rígidas de distanciamento social. Embora, há um mês e meio, Seul tenha decidido amenizar as restrições e optado pela política de conviver com o coronavírus, o aumento de infecções e de casos graves justificam o recuo.
As medidas entram em vigor no sábado (18) e devem durar até pelo menos 2 de janeiro. Sob as novas regras, reuniões públicas serão limitadas a no máximo quatro pessoas –desde que estejam completamente vacinadas. Estabelecimentos como restaurantes, cafés e bares terão que fechar as portas às 21h, e cinemas e casas de shows, às 22h.
Aqueles que não estiverem vacinados contra a COVID-19 ainda poderão jantar fora de casa, por exemplo, mas apenas se estiverem sozinhos. Outra opção é usar os serviços de delivery ou de retirada das refeições.
Atualmente, as empresas sul-coreanas não têm limites ao horário de funcionamento, e as reuniões privadas podem ter até seis pessoas em Seul ou oito em outras regiões do país, independentemente do status de vacinação. Em locais públicos, o encontro é permitido desde que no máximo uma pessoa do grupo ainda não tenha recebido o imunizante.
O grupo dos não imunizados, no entanto, representa parcela minoritária da população da Coreia do Sul. Até a quarta-feira (15), 81,6% dos sul-coreanos estavam com o ciclo vacinal completo, de acordo com dados do portal Our World in Data.
A mesma base mostra, porém, o crescimento do número de novos casos de coronavírus no país. Nos últimos dois meses, a média móvel de novas infecções sobe de forma quase ininterrupta. Em 15 de outubro, a Coreia do Sul contabilizava média de 1.579 casos diários; nesta quarta, o índice foi de 6.790 –aumento de 130%.
Em números absolutos, os óbitos por COVID-19 ainda são relativamente baixos, mas cresceram em proporção parecida. Há dois meses, a média móvel de mortes era 12 em nesta quarta, foi 63 –aumento de 123,5%.
“Estamos fazendo todos os esforços para superar a crise que nos pressiona, expandindo nossa capacidade médica e a campanha de vacinação, mas precisamos de tempo”, disse o premiê sul-coreano. “Só podemos ir além desta crise derrubando [o índice de] disseminação atual o mais rápido possível por meio de forte distanciamento social”.
Apesar das cifras que preocupam, há quem se oponha à imposição de novas restrições. Associações de proprietários de pequenos negócios e de restaurantes emitiram uma série de declarações em protesto contra a decisão.
Os empresários também demandam medidas de suporte econômico, e há manifestações de rua previstas para a próxima semana. Em resposta, Kim disse que o governo anunciará em breve seus planos para fornecer “um apoio financeiro ainda maior” às empresas.
O presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, divulgou, por meio de sua porta-voz, um pedido de desculpas por não ter conseguido conter a propagação do coronavírus e garantir leitos hospitalares suficientes durante o processo de flexibilização.
No final de outubro, o governo sul-coreano havia anunciado um processo de retomada gradual das atividades econômicas e sociais baseada na tentativa de conviver com o coronavírus sem adotar medidas sanitárias muito rígidas. Embora com a ressalva de que a luta contra a pandemia ainda não havia acabado, o anúncio, associado ao ritmo avançado da imunização, foi carregado de otimismo.
Mas já àquela época, especialista como os da Associação Médica Coreana alertaram que o momento da mudança para a nova estratégia, às vésperas do inverno no Hemisfério Norte e quando o país já começava a registrar uma ligeira alta nos casos, poderia desencadear novos surtos da COVID-19.
Segundo dados da Agência de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia do Sul, os 7.622 casos registrados na quarta representam um pequeno recuo no recorde de infecções diárias registrado um dia antes –7.850.
A KDCA também registrou recorde no número de casos graves. Foram 989 (quase 13% do total diário). Na capital, Seul, 87% dos leitos de UTI estão ocupados, índice que, em âmbito nacional, é de 81%.
A diretora da agência, Jeong Eun-kyeong, prevê que a contagem de novos casos pode ultrapassar a marca dos 10 mil por dia ainda em dezembro se o índice de contágios não for freado. A taxa de 5.000 infecções diárias foi ultrapassada em 31 de novembro, e a de 7.000, na semana passada.
Ainda segundo a KDCA, a Coreia do Sul contabiliza 148 casos da variante ômicron, potencialmente mais transmissível.