O ano era 1984, no Distrito de Sanga Puitã, município de Ponta Porã-MS e o fato marcou a vida do então Cabo PM Antônio Morato e da família da Sra. Maria Neuza Pereira Fernandes.
O Policial conta que no ano de 1984 foi designado para assumir o comando do recém implantado Grupamento de Polícia Militar do Distrito de Sanga Puitã e na noite de 17 de março de 1984 encontrava-se de serviço, juntamente com o Soldado Paulo Siqueira Barbosa. Relembra que por volta das 23 horas, quando encontravam-se na sede do destacamento, ouviram disparos de arma de fogo e rapidamente subiram na viatura (GM/Opala) e saíram em rondas para averiguação dos fatos.
Ocorre que nas proximidades à Linha Internacional, um senhor, após ser abordado, disse que sua esposa estava em trabalho de parto, porém com complicações, e que necessitava urgente de transporte até o hospital. O homem contou que sua esposa já passava mal há quase um dia e que durante a noite percebeu que o parto natural não seria possível, desesperado, pediu socorro a um vizinho, cujo carro estava sem bateria, o que fez com que saísse à procura de outro socorro, momento em que foi abordado pela equipe de Policiais Militares a bordo do Opala preto.
Os policiais, sem hesitar, deslocaram até a residência da família e se depararam com a Sra. Maria Neuza, deitada no quarto, com o corpo inchado, sem forças e aos poucos desfalecendo, sem condições de levantar-se, eles relembram que a casa era simples e a iluminação ficava a cargo de uma lamparina de querosene. Diante da urgência colocaram a parturiente no banco traseiro da viatura e saíram rapidamente em busca de auxílio médico.
Na ânsia de chegar logo ao hospital, o Cabo Morato assumiu a direção do Opala e orientou que o soldado auxiliasse na segurança de dona Maria, juntamente com o seu esposo, o pastor Simeão Rivas Sanguina (in memória), disse para a segurarem para que esta não caísse ou sofresse com os impactos provocados pelos buracos e valetas existentes nas ruas, até pegarem a BR 163 e assim chegarem rapidamente ao hospital, localizado em Ponta Porã.
Ocorre que na vontade de chegar rapidamente ao atendimento médico, o Cabo Morato entrou em uma valeta com a viatura, tendo que fazer diversas manobras, causando “baques e solavancos”, e nessas manobras, até chegar à rodovia, apenas ouviu o Sr. Simião perguntando o que faria, pois sua filha estava nascendo. Com emoção nos olhos o comandante Morato relembra que orientou o pai a segurar a filha de forma a manter sua integridade, seguindo os protocolos de primeiros socorros.
Em seguida, ao chegarem em frente ao antigo Hospital Santa Isabel, uma enfermeira veio recepcionar a recém nascida, que veio ao mundo na viatura Opala, tendo seu umbigo cortado ainda no banco traseiro, em frente ao hospital e em seguida ambas foram levadas para atendimento médico. O nascimento foi registrado à uma hora da manhã do dia 18 de março de 1984, e a menina recebera o nome de Maria Élda Fernandes Rivas.
A história poderia ser diferente, relembra a Sra. Maria Neusa, mãe de Maria Élda, olhando com amor para a filha que segundo ela, só lhe dá orgulho e hoje também é casada e mãe de 4 filhos (três meninos e uma princesa, como ela mesmo disse). Dona Maria Neusa relembra que na noite do ocorrido que não tinha mais forças, e parece que os impactos da viatura, naquela valeta, fizeram com que a menina se ajeitasse e nascesse.
O reencontro da família com o “Cabo Morato”, como elas o chamam, foi marcado por emoção e gratidão, pois se não fosse o agir, além do dever legal, e as ações realizadas para salvar a vida das duas, talvez não estivessem vivas para narrar essa bela história, que fizeram questão de compartilhar conosco. O reencontro ocorreu no aniversário de 70 anos do Sargento Reformado da Polícia Militar Antônio Morato, que disse que o melhor presente ele já ganhou há mais de 37 anos, quando ajudou a salvar a vida das duas Marias.