Ídolo do Flamengo esteve em Campo Grande para palestra sobre empreendedorismo e liderança
O ex-jogador Zico, 72 anos, esteve em Campo Grande nesta quarta-feira (1) para participar do EmpreendeFest, festival de empreendedorismo promovido pelo Sebrae no Bosque Expo. No evento, apresentou a palestra “O papel do líder: desafios e oportunidades”. Antes da apresentação, o maior ídolo da história do Flamengo conversou com o Jornal O Estado sobre SAF (Sociedade Anônima do Futebol), liderança e os desafios do esporte brasileiro.
A transformação de clubes em SAF tem sido tema recorrente em Mato Grosso do Sul, onde dirigentes de equipes como Comercial, Dourados e Operário avaliam o modelo como caminho para maior competitividade no cenário nacional. Zico, que já ocupou o cargo de secretário de Esportes da Presidência da República, afirmou apoiar a mudança, mas destacou que ela só é viável com responsabilidade financeira.
“Eu sempre fui a favor. Quando fui secretário, defendia que o futebol pudesse se tornar empresa. Mas é preciso resolver primeiro os problemas antigos. O Flamengo se tornou a potência que é porque, em 2012, resolveu todas as pendências. Funcionário não fica sem salário, existe infraestrutura adequada e não há dívidas em aberto. Só depois disso se pode pensar em SAF, e isso vale para todos os clubes”, declarou.
Atualmente, Zico atua como embaixador do Flamengo e conselheiro do Kashima Antlers, no Japão. Também percorre o país em palestras sobre liderança, gestão e superação, atividade que tem ocupado grande parte de sua rotina nos últimos anos.
O ex-jogador comparou a realidade brasileira com a italiana, onde atuou no fim da carreira, pelo Udinense. “Na Itália, os clubes são apenas de futebol, sem atividades sociais paralelas. Esse modelo sempre me chamou atenção, porque concentra forças no que realmente importa. Mas aqui, se os problemas do passado não forem encarados, a SAF vira apenas uma troca de nome, sem resultado prático”, avaliou.
A reflexão ganha peso em um momento em que clubes de menor expressão buscam alternativas para competir com os grandes centros. Para Zico, a gestão responsável é indispensável. “Não adianta achar que vai resolver tudo do dia para a noite. SAF precisa ser projeto de longo prazo”, completou.
Além do tema, Zico falou sobre a formação de novos talentos no Brasil. Segundo ele, o trabalho de base é sólido, mas sofre com a saída precoce de jovens para o exterior. “Hoje, olheiros já acompanham meninos de 7, 8 anos. Mas o talento real aparece mesmo aos 16, 17. Nessa idade, a maioria já vai embora. Por isso o futebol brasileiro nunca teve tantos estrangeiros como agora. Falta renovação dentro de casa”, analisou.
Sobre a importância da liderança no futebol, Zico ressaltou que a função precisa surgir de forma natural. “Alguns nascem com esse dom, outros constroem com a experiência. Eu achava que não tinha esse dom, mas, pela vivência e pelo exemplo de pessoas que me ajudaram muito, acabei me tornando alguém que os outros escutavam. Quando o Carpegiani parou de jogar, os próprios companheiros pediram para que eu fosse capitão. A liderança precisa ser natural, não imposta”, afirmou.
Ao longo da carreira, conquistou 15 títulos pelo Flamengo, incluindo três Campeonatos Brasileiros (1980, 1982 e 1983), a Libertadores e a Copa Intercontinental de 1981, além do Brasileiro de 1987 e dois Cariocas (1972 e 1986). Pela Seleção, disputou três Copas do Mundo.
Em Campo Grande, Zico encerrou a agenda com a palestra no EmpreendeFest, que reuniu empresários, estudantes e atletas para discutir inovação, gestão e o papel da liderança dentro e fora do esporte.
Por Mellissa Ramos
Confira as redes sociais do Estado Online no Facebook e Instagram