Nas 60 vezes em que subiu ao pódio da F1, Max Verstappen fez questão de exibir a bandeira da Holanda, país que o mais novo campeão mundial representa na categoria.
O piloto da Red Bull, que entra na história como o primeiro holandês a conquistar o título, no entanto, nasceu na cidade de Hasselt, na Bélgica, em 30 de setembro de 1997.
Desde que ele despontou na F1, em 2015, sua nacionalidade sempre foi motivo de polêmica. A mãe do piloto, Sophie Kumpen, afirma com veemência que o filho é belga. Já o pai dele é o ex-piloto holandês Jos Verstappen, de quem o campeão herdou a segunda nacionalidade.
O tema causa desconforto para Max. Tanto que ele tangencia as perguntas sobre isso todas as vezes em que é questionado. “Eu teria problemas com minha mãe ou com meu pai [se respondesse]”, costuma falar.
Sophie sempre tentou convencer o filho a representar seu país de nascimento. No entanto, deixou que ele fizesse sua escolha assim que completasse 18 anos. “Nessa data, não antes disso, ele poderá decidir pela nacionalidade holandesa”, afirmou, meses antes de o jovem alcançar a maioridade.
Verstappen, porém, parece ter tomado sua decisão muito antes disso. Tanto que sempre correu com uma licença da Holanda. “Ele é mais holandês do que belga. Ele também sente isso”, argumenta seu pai.
A maior parte dos fãs de Max adotou o matiz associado ao esporte da Holanda, o laranja herdado da família real do país. Os torcedores criaram o “mar laranja”, como gostam de ser chamados, e, a exemplo do que ocorre no futebol, usam camisetas e sinalizadores nessa cor.
Em setembro, o campeão viveu sua apoteose, ao correr no tradicional circuito de Zandvoort, na volta do GP da Holanda ao calendário da F1 após 36 anos. O piloto da Red Bull largou na pole e conquistou a sua sétima vitória no ano, a 17ª da carreira.
Se a corrida em si não ofereceu grandes desafios para o competidor, ficou marcada pela grande festa promovida pelos torcedores. A cidade litorânea de Zandvoort viveu uma “Verstappenmania”, com decorações em referência ao piloto em comércios e residências.
No pódio, o vencedor desfilou com uma bandeira da Holanda e se emocionou na hora do hino, para delírio dos fãs presentes, principalmente seu pai, que o acompanha em todas as corridas.
“Ouvir a torcida aqui é incrível. A expectativa era grande neste fim de semana e não foi fácil transformar a vitória em realidade. Fico feliz por vencer aqui”, disse, na ocasião.
Ele foi o primeiro holandês a terminar o GP da Holanda entre os cinco primeiros colocados. Até então, os melhores resultados eram os sextos lugares de Carel Godin de Beaufort (1962) e Gijs Van Lennep (1973).
Ao longo da história, a F1 teve ao todo 17 pilotos holandeses, incluindo os Verstappens. Antes de Max, nenhum deles havia conseguido nem sequer uma vitória. Os melhores resultados eram justamente os de Jos, que por duas vezes terminou em terceiro, ambas em 1994, na Hungria e na Bélgica.
Se tivesse optado por representar o país em que nasceu, Max daria continuidade a uma história com mais tradição na principal categoria do automobilismo. Ao todo, 24 pilotos belgas já disputaram o campeonato e dois deles conquistaram vitórias: Jacky Ickx (8) e Thierry Boutsen (3).
O último a representar os belgas na F1 foi Stoffel Vandoorne, que disputou três temporadas pela McLaren (2016, 2017 e 2018) e teve dois sétimos lugares como as melhores posições, ambas em 2017, na Malásia e em Singapura.
Verstappen também foi bem recebido quando correu na Bélgica, embora a etapa tenha sido uma das mais frustrantes da temporada.
Em uma prova totalmente atípica, com mais de três horas de atraso para largada em razão de uma forte chuva, o holandês foi declarado vencedor após apenas quatro voltas protocolares atrás do “safety car”. George Russell, da Williams, e Lewis Hamilton, da Mercedes, completaram o pódio.
De acordo com o regulamento, as voltas completadas foram suficientes para valer a metade dos pontos em disputa. Ao ter somente metade da pontuação (12,5 pela vitória), Verstappen chegou àquela altura aos 199,5, insuficientes para ultrapassar o então líder Hamilton, que somava 202,5.
Em um campeonato tão acirrado, contudo, ter vencido aquela corrida também acabou sendo fundamental depois para ele se tornar campeão mundial de F1 neste domingo.
(LUCIANO TRINDADE/FOLHAPRESS)