Aos 20 anos, o velocista Paulo André tem tudo para brilhar na Olimpíada de Tóquio (Japão) como expoente do atletismo brasileiro. Nascido em Santo André, no ABC paulista, e radicado em Vila Velha, no Espírito Santo, o atleta já coleciona uma extensa lista de conquistas. Tricampeão do Troféu Brasil na prova dos 100 metros rasos (2017, 2018 e 2019), campeão mundial e pan-americano no revezamento 4×100 no ano passado, quando também faturou a medalha de prata nos 100 m nos Jogos de LIma (Peru). Na ocasião, o paulista fez a segunda melhor marca do Brasil na história dos 100 m, a prova mais rápida do atletismo. Paulo André cruzou a linha de chegada em Lima (Peru) com o tempo de 10s02, ficando a apenas dois centésimos de segundo da marca obtida pelo velocista Robson Caetano, único brasileiro campeão pan-americano, que bateu o recorde nacional e sul–americano em 1988, ao terminar a prova em dez segundos cravados. Na noite de ontem (18), Paulo André participou de uma live (transmissão ao vivo) na conta oficial da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), no Instagram.
O atleta já se garantiu na prova individual dos 100 m em Tóquio (Japão), e também no revezamento 4×100 m. Mas, apesar da vaga assegurada, somente às vésperas dos Jogos, serão divulgados os nomes dos atletas da equipe que competirá no Japão.
Enquanto isso, Paulo André segue com foco total na estreia olímpica. Ele e o pai, o treinador Carlos Camilo, estão “confinados”,no Espírito Santo. “Estava com as malas prontas para ir para os Estados Unidos quando a pandemia [do novo coronavírus] chegou com tudo. Claro que fiquei chateado, mas não posso parar. Esse ano que falta para os Jogos passa muito rápido. Conversei com o meu pai e a minha equipe. Escolhemos Vila Velha. Estamos confinados aqui. Estou conseguindo treinar na pista. Só preciso adaptar academia”, descreveu.
Novo calendário
Outra motivação para o jovem brasileiro foi o novo calendário da modalidade divulgado na semana passada pela Confederação Internacional de Atletismo (World Athletics). Antes realizados ao longo do ano, as etapas da Diamond League e do novo Continental Tour serão condensadas entre os meses de agosto e outubro deste ano. “Nas primeiras semanas da quarentena, várias vezes sentia falta das competições. Foi difícil seguir treinando sem ter nada previsto. Mas não parei. E, se tivesse competição nesse final de semana, estaria pronto. Estou treinando em alto nível. O foco é claro que é a Olimpíada, mas essa volta na Diamond League será importante demais”.
Mundial de Revezamentos
Paulo André ao lado do Rodrigo Nascimento, de Derick Silva e do Jorge Vides foram os mais rápidos no Campeonato Mundial, em maio passado, Yokohama (Japão). A equipe verde e amarela terminou a prova com 38s05, os Estados Unidos levaram a prata com 38s07 e a Grã-Bretanha fechou o pódio com 38s15.
“Durante o aquecimento, no estádio em Yokohama, lá onde o Brasil ganhou a Copa em 2002, a gente viu que estávamos fazendo uma preparação legal. Fazendo as passagens bem limpas. Percebi que tínhamos chances. Fomos bem na semifinal e chegamos na decisão. Aquela noite não foi fácil. Passamos um pouco de problemas por causa do fuso horário. No dia, quando entramos na pista parece que caiu a ficha mesmo. Pensei comigo que estávamos desconfiados há poucos dias e que naquela hora a gente estava prestes a correr a final. Depois foi só história”.
Essa vitória histórica foi em maio e, meses depois, em outubro, no Mundial de Atletismo, em Doha (Catar), a equipe nacional formada por Rodrigo Nascimento, Vitor Hugo dos Santos, Derick Silva e Paulo André conquistou o quarto lugar com a marca de 37s72, quebrando o histórico recorde brasileiro e sul-americano da prova que durou mais de 19 anos. A antiga marca era 37s90 obtida na conquista da prata olímpica em Sydney (Austrália), em 2000. Esse quarto lugar no Mundial de 2019 confirmou a vaga brasileira nos Jogos de Tóquio.
Recorde brasileiro
“Não sinto pressão. É uma coisa que me motiva. Acho que a palavra mais correta é expectativa. Você precisa aprender a correr a prova dos 100 m. Ela é muito complexa. Sempre tem um ponto que você precisa acertar. Em 2019, corri várias vezes entre 10s e 10s10. Para mim e para a minha equipe, é uma realidade. Se eu quero fazer história individualmente, preciso pensar em 09s80, 09s70”.
No Troféu Brasil do ano passado, ele chegou a concluir a prova em 09s90, mas a marca não foi homologada porque o vento estava em 3,6 m/s, superando o limite máximo de 2 m/s. Já, no Campeonato Mundial, Paulo André fez o tempo de 10s14, ficou em quarto lugar na primeira série semifinal, e em 12º no geral, sem conseguir a vaga na final. A classificatória foi vencida pelo americano Christian Coleman, que acabou sendo o campeão mundial da prova, com o tempo de 09s76 (a sexta melhor marca de todos os tempos).
Relação com o pai
Pai e treinador, o ex-velocista Carlos Camilo acompanha o dia a dia da carreira do filho. O carinho, a preocupação e os cuidados do ex-atleta levam a crer que a carreira de Paulo André será ainda mais vitoriosa. Mas a convivência nem sempre é tranquila. “Ele é um pouco chato como amigo”, revela às gargalhadas o jovem velocista. Paulo André reconhece que em algumas vezes a dupla misturava um pouco as coisas. “Mas hoje em dia ele me entende muito. E eu também amadureci bastante” completa.
(Texto: Ana Beatriz Rodrigues com informações da Agência Brasil)