MARCOS GUEDES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os torcedores do Palmeiras cumpriram a promessa de enviar com festa os jogadores para a disputa do Mundial. Celebrada na saída do centro de treinamento em direção ao aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, a delegação alviverde embarcou para os Emirados Árabes Unidos na tentativa de buscar o título mais sonhado pelo clube paulistano.
Centenas de pessoas se aglomeraram na porta da Academia de Futebol, na Barra Funda. O ônibus com os atletas partiu às 11h07 desta quarta-feira (2), aos gritos de “vamos ganhar, Porco”. O público estava inicialmente contido por grades, que não resistiram ao momento em que o veículo tomou a avenida Marquês de São Vicente.
O automóvel, então, foi cercado, e levou oito minutos até que conseguisse ganhar alguma velocidade e rumasse até Cumbica. Em Guarulhos, o grupo de atletas não passou pelo saguão, onde havia outros fãs –bem menos numerosos do que no CT-, empolgados com a possibilidade de o time levantar o troféu em Abu Dhabi.
“Desta vez, não tem jeito. Não tem Monterrey, não tem Chelsea, não tem para ninguém”, disse o publicitário Marcus Castro, 37, traçando o caminho que imagina até a taça. De férias, ele resolveu acompanhar os jogadores na saída para o aeroporto e demonstrou um otimismo compartilhado por boa parte da torcida.
As festas no embarque para campeonatos importantes são sempre recheadas de frases de confiança e gritos de incentivo. Mas a sensação registrada por vários palmeirenses é que conquistar o Mundial está mais ao alcance do que em outras oportunidades. Na comparação com o ano passado, parece palpável que a chance é maior.
“Lá no Qatar, foi aquela correria, né? O time tinha acabado de ganhar a Libertadores, viajou cansado. E, mesmo que a gente tivesse passado pelo Tigres, teria na final o Bayern, um timaço. Agora, é fazer o papel na semifinal e pegar o Chelsea, que não é nenhuma máquina”, afirmou o estudante Otávio Girardelli, 18.
Na edição de 2020, realizada já em 2021, o Palmeiras caiu logo em sua primeira partida, perdendo por 1 a 0 para o mexicano Tigres. Na sequência, foi superado nos pênaltis pelo Al Ahly, do Egito, após empate por 0 a 0 na disputa pelo terceiro lugar. Foi a pior campanha de uma equipe da América do Sul na história do torneio.
Na ocasião, o embarque não teve a mesma empolgação. A pandemia de COVID-19 estava em uma fase mais crítica, um das razões pelas quais menos torcedores acompanharam a equipe até o aeroporto. Pelo mesmo motivo, ninguém pôde viajar e ver os jogos no Qatar, realizados com as arquibancadas vazias.
Desta vez, há torcedores se movimentado para ir aos Emirados Árabes Unidos. A estreia da formação alviverde está marcada para a próxima terça-feira (8), contra o vencedor do duelo entre o mexicano Monterrey e o Al Ahly, velho conhecido egípcio. Na outra semifinal, o inglês Chelsea aguarda o Al Hilal, da Arábia Saudita, o Pirae, do Taiti, ou o Al Jazira, dos Emirados Árabes.
Será a segunda tentativa do Palmeiras no formato atual do Mundial, organizado pela Fifa. Antes, em 1999, a equipe venceu a Copa Libertadores e disputou o título intercontinental contra o Manchester United, em Tóquio. A expectativa, como ocorre agora, era grande em torno dos então comandados de Luiz Felipe Scolari.
“Aeroporto se torna ‘geral’ do Palmeiras”, noticiou a Folha de S.Paulo de 23 de novembro, registrando o embarque na madrugada anterior. De acordo com a estimativa feita pela Infraero, que administrava Cumbica, cerca de 500 alviverdes foram demonstrar seu apoio. “Eufóricos, fizeram muito barulho, assustando os desavisados e até os jogadores”.
O presidente da uniformizada Mancha Alvi Verde, Paulo Serdan, organizou uma espécie de cordão para proteger os atletas. E vibrou. “Até a gente se surpreendeu. Começamos a ganhar o título no embarque. Uma saída dessas é gratificante. Nesses momentos, a torcida do Palmeiras sabe ser… Fiel eu não vou dizer, porque é um termo de que não gosto, mas é bem honesta”.
A honestidade não foi suficiente para levar a equipe ao topo. O Manchester United venceu por 1 a 0, e os palmeirenses passaram a conviver com uma crescente gozação de que não têm um título mundial -embora muitos deles considerem o triunfo na Copa Rio de 1951 uma conquista dessa grandeza.
Nos últimos anos, ganhou popularidade um canto dos rivais, apontando que “o Palmeiras não tem Mundial, não tem Copinha, não tem Mundial”. A parte da Copinha foi enterrada no mês passado, com a glória inédita da Copa São Paulo de juniores. Agora, os comandados do técnico português Abel Ferreira esperam acabar de vez com a provocação.
“Não tem mais musiquinha nenhuma. Acabou, velhinho. Quem riu, riu. Acabou meme, acabou musiquinha. O pessoal tem mais uma semana para cantar musiquinha, fazer meme. É aquilo: enquanto a gente comemora título, os caras comemoram meme. Mas nem meme vai ter mais. Acabou”, avisou o torcedor Marcus Castro.