Ser mãe é estar junto, sempre

Mulher, mãe, técnica, atleta, Vanessa tem vitórias dentro e fora das quadras com a família - Foto: arquivo pessoal
Mulher, mãe, técnica, atleta, Vanessa tem vitórias dentro e fora das quadras com a família - Foto: arquivo pessoal

Vanessa troca até de cidade para acompanhar filha e filho no esporte

 

No centro da quadra de areia, mais do que saúde e disciplina, Vanessa Sanches, 44 anos, encontrou o ponto de equilíbrio entre ser mãe, profissional e atleta. Natural de Campo Grande, viu a paixão pelo esporte se transformar em legado familiar.

Instrumentadora cirúrgica por profissão e jogadora de vôlei de praia por vocação, Vanessa criou a filha e o filho com valores que o esporte ensina: disciplina, resiliência, espírito de equipe e persistência. Desde cedo, aprenderam com o exemplo da mãe que é possível conciliar sonhos pessoais com responsabilidades, mesmo que isso exija sacrifícios. E deu certo.

A filha Ana Beatriz, 17 anos, hoje é uma das promessas do vôlei de praia nacional. O caçula, João Gabriel, 12, segue os próprios caminhos no futebol.

Sua relação com o esporte começou por recomendação médica. “Fiz uma cirurgia no joelho e, na recuperação, o médico pediu que eu procurasse algum esporte na areia. Foi aí que comecei as aulas de vôlei de praia”, lembra.

Com o casamento e o cuidado com Ana e João, precisou se afastar, mas não por muito tempo. “Depois que os dois nasceram, senti a necessidade de voltar. Treinei um tempo na AABB, competi pelo clube em torneios estaduais, inclusive. O esporte sempre esteve muito presente na nossa vida”, contou.

Partiu Vitória

A rotina da família mudou drasticamente em 2022, quando Ana recebeu um convite para treinar no Aest (Associação Esportiva Siderúrgica de Tubarão), clube referência no vôlei de praia, em Vitória (ES), que tem em seu plantel atletas de renome como Evandro, Arthur Lanci, Thâmela e a sul-mato-grossense Vic Lopes. Aos 15 anos, ela precisou deixar o Estado para viver sozinha e seguir a carreira.

A distância da família durou pouco. “Foi muito difícil vê-la sozinha. A ausência dela causava um vazio. Nossa família sempre foi muito unida. Então conversamos e decidimos nos mudar todos juntos”, contou Vanessa.

A mudança permitiu que a família voltasse a viver sob o mesmo teto e se apoiasse mesmo com a rotina puxada, como conta a filha. “Durante a semana, cada um tem seus horários, sempre foi assim, mesmo no Mato Grosso do Sul. Mas, nos fins de semana, reservamos um tempo para fazer algo juntos. Aqui em Vitória, vamos todos à praia. Cada um joga em uma rede diferente, mas sempre no mesmo lugar. É o nosso jeito de estarmos juntos”, explicou.

‘Deixamos nossas coisas para depois’

Vanessa reduziu a intensidade dos próprios treinos para se dedicar à logística dos filhos. “O trabalho é cansativo, e ainda preciso acompanhar as atividades da escola, os treinos e as viagens. Às vezes, abro mão das minhas vontades para atender à agenda deles, que é bem corrida”, afirmou. “Nós, mães, muitas vezes nos deixamos para depois. Pensamos primeiro nos filhos.”

Apesar dos desafios, ela não pensa em parar. “Às vezes bate o cansaço, mas meu amor pelo esporte nunca me deixou desistir. Sempre dou um jeito de conciliar tudo. No final, a satisfação de fazer o que ama compensa qualquer dificuldade.”

A campo-grandense reconhece que, às vezes, o lado emocional de mãe se mistura ao olhar técnico. “Quando estou assistindo aos jogos, acabo cobrando mais. Sei o quanto eles se dedicam e sei até onde podem chegar. Mas tento sempre equilibrar”. Revela.

Além de Ana, o filho mais novo, João Gabriel, também se destaca no futebol, como goleiro do time sub-13 do Aest. Vanessa acompanha os dois o quanto pode. “Ano passado consegui viajar muito com eles. Conheci lugares incríveis. Vivi momentos que vou guardar para sempre. Quando não consigo ir, acompanho à distância, mas sempre perto de alguma forma.”

De mãe para mãe Vanessa espera que os filhos levem do esporte não apenas os resultados, mas os valores que ele ensina. “O esporte salva. Tira os jovens das telas, ensina disciplina, responsabilidade, socialização. Prepara para a vida. Quero que eles amem o esporte e nunca se afastem disso”, aconselha.

E, para outras mães que também vivem a rotina intensa de criar filhos atletas — ou que sonham com a própria carreira esportiva —, deixa um recado direto: “Não é fácil. O leva e traz, os treinos, as derrotas, a pressão. Mas a gente aprende a lidar com isso. Temos que apoiar nossos filhos a continuarem, a não desistirem. Os desafios são muitos, mas a alegria de ver quem a gente ama fazendo o que gosta não tem preço”, reitera.

Vôlei de praia fez a mãe estender as asas até a capital capixaba – Foto: arquivo pessoal

‘Ela me entende como ninguém’

Ana Beatriz lembra que sempre cresceu em ambiente esportivo. “Minha família inteira fazia algum esporte. Desde pequena, sempre fui ativa, mesmo sem praticar vôlei no início. Sempre gostei de me movimentar, competir”, diz.

A influência da mãe, no entanto, pesou. “Ela me entende como ninguém. Sabe o que é essa vida de treinos, viagens, vitórias e derrotas. É muito bom ter alguém em casa que vive isso também, ter essa troca”, confia.

A parceria com a filha em competições é uma das maiores recompensas. “No meu primeiro circuito brasileiro, em João Pessoa, ela foi comigo. Foi minha estreia, e ela estava lá como minha maior parceira”, lembrou Ana. “Depois disso, ela passou a transmitir os meus jogos, filmar, torcer. Guardo essas lembranças com muito carinho”, acrescenta.

Para Ana, o que mais admira na mãe é a determinação. “Ela nunca desiste. Quando traça um objetivo, vai até o fim. Isso me inspira muito, porque no esporte a gente precisa ter isso muito forte: acreditar no próprio sonho”, completa.

 

Por Mellissa Ramos

 

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