O ano é 2019 e o futebol brasileiro não está tão brasileiro assim. Dos três times que compõe o topo tabela do Brasileirão, dois são comandados por técnicos estrangeiros: o português Jorge Jesus, à frente do Flamengo, e o argentino Jorge Sampaoli, no comando do Santos. O Internacional, que demitiu Odair Hellmann recentemente, está à caça de um novo titular e, dentre os cogitados, está o argentino Eduardo Coudet, atual Racing.
Isso tem chamado a atenção de futebolistas como Muricy Ramalho, comentarista e ex-técnico que está na Capital para um Talk Show, realizado junto ao ex-jogador Denilson. O ídolo do São Paulo prefere não classificar os treinadores como “estrangeiro, técnico jovem ou experiente”, mas reconhece que virou tendência entre os clubes buscar nomes fora do Brasil.
“No Brasil existem modas. Já houve a moda em que contratar técnicos estrangeiros não deu certo. Para mim não importa se é de fora ou brasileiro, tem que ser bom. O Jesus e o Sampaoli são, mas tiveram outros nomes que não deram certo. Eles estão trazendo coisas boas e é isso que a gente quer, é isso que importa”, diz em entrevista durante a tarde.
Muricy acredita que para ser bom fora das quatro linhas é preciso ser um “pacote completo”. “Ser bom na parte tática, técnica e psicológica, saber lidar com muita gente ao mesmo tempo, jogadores, dirigentes, imprensa, tudo isso é fundamental. Eu costumo dizer que a pressão faz parte da gente, não vejo como uma coisa ruim”, argumenta. Ele ainda brinca: “Eu tenho umas fazendas aqui, se eu não quisesse pressão eu ficava descansando, fazendo churrasco e tomando um chopp”, diz.
Para comentarista, falta de comprometimento atrapalha técnicos brasileiros
Durante o ano de 2019, 16 clubes da Série A do campeonato brasileiro fizeram rodízio de técnicos. Dos 20, apenas quatro mantiveram o nome do ano passado: Grêmio, com Renato Gaúcho, Corinthians, com Fábio Carrile, Santos, com Sampaoli, e Athletico Paranaense, com Tiago Nunes (cotado para assumir o Internacional).
Quando técnico, Muricy era conhecido por permanecer anos pelos clubes que passou. Em 2011, foi cotado por Ricardo Teixeira, presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), para assumir a Seleção Brasileira, mas recusou pois estava em contrato vigente com o Fluminense.
Para ele, é uma questão de valores. “Tive meu pai que me ensinou isso e tive Telê Santana, que era um dos homens de maior valor no mundo para mim. Todo mundo sonha em chegar na Seleção Brasileira, só que pra alcançar esse sonho você não pode passar pro cima de ninguém. O Fluminense não era campeão há 26 anos e eu dei a palavra de que ficaria dois lá”, defende.
Ele aproveitou para comentar sobre o zigue-zague de seu pupilo Rogério Cene, que deixou o Fortaleza no início do ano, comandou o Cruzeiro por algumas semanas e retornou ao tricolor do Nordeste. “O Rogério Ceni ainda está aprendendo a ser técnico […] No bem amigos até falamos que não concordamos com isso. Somos do tempo que o cara tem que ficar no clube, cumprir seu contrato. Ele fazendo isso, sinaliza para o mercado que ele é um cara confiável”, comenta.
Sobre a situação do Brasileiro, Muricy opina: “Eu tenho um pouco de experiência nisso, né? Tudo pode acontecer no futebol. Na época do Grêmio já abri 11 pontos, mas não deu título. Mas o que o Flamengo está jogando e o que está jogando os demais, é difícil tirar esse título deles”, finaliza.
(Texto: Danielle Mugarte)