Especialistas ressaltam importância do acompanhamento médico
Com a morte do jogador Blenner Marçal (19), em Costa Rica, cidade à 329 quilômetros de Campo Grande na quinta-feira (4), especialistas acendem o alerta para atenção a prática esportiva, e aos cuidados com a prática mesmo por parte dos jovens. Vítima de mal súbito enquanto jogava bola com os amigos, o jogador que foi revelado pelo Chapadão e que tinha passagens por Crec e Sete de Dourados é outro caso de morte repentina na modalidade.
De acordo com o Wikipédia, nos últimos cinco anos, 29 jogadores faleceram vítimas de complicações respiratórias ou por acidentes de jogo. Nos últimos 20 anos, o site registrou 93 mortes por todo o mundo, destas, 12 brasileiros.
Segundo o cardiologista Evandro Ferrari, mesmo com pouca idade, os cuidados com o físico e com o coração têm de ser minuciosos, a fim de evitar casos como o de Blenner. “Mesmo jovem, toda pessoa que faz qualquer tipo de atividade física tem de ser avaliada. Em um âmbito profissional e competitivo, a exigência cardiorrespiratória do indivíduo se eleva bastante. Eletrocardiograma, ecocardiograma ‘raio-x’ do coração”, pontuou o cardiologista na segunda-feira (8),
“Com todos estes exames aprovados, o atleta ainda sim tem de realizar o teste de esforço físico com mensuração dos gases arteriais e venosos do pulmão, chamado de ergoespirometria, para aí sim praticar o esporte”, acrescentou o médico. Ferrari ressaltou que a abordagem de possíveis problemas pode afetar negativamente nesses momentos. “Realizar um simples eletrocardiograma, não se atentar à possíveis históricos familiares, assim como não realizar exames de maior abrangência diagnóstica pode influir em casos como este”, relata.
Segundo o especialista, o acompanhamento por parte dos clubes do interior em nada se equivalem ao amparo que os clubes da elite da modalidade proporcionam aos seus jogadores. “A causa do falecimento tem de ser avaliada, pois existem casos onde existem problemas anteriores, situações neurológicas, por exemplo”, conclui Ferrari.
Fisioterapeuta alerta para rompimento do limite do corpo
Sílvio Oliveira, professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), especialista em fisioterapia do esporte, pontua que os garotos podem se submeter a situações de grande esforço físico. “Existem múltiplos fatores que possam ter influenciado o caso. A situação em questão não é única, e certamente a demanda externa do garoto tem relação com o fato, visto que principalmente nesta idade, os jovens são exigidos e exigem bastante de si, até por razões culturais que envolvem o futebol”, alegou fisioterapeuta.
Afirma que quando esta prática é levada ao extremo, o desgaste gerado pela atividade pode culminar em casos como o de Blenner. “Quando o indivíduo está em certa condição de comodidade e por alguma razão se submete de maneira repentina a situações de grande esforço e exigência física, o corpo sente e responde. Quando exigido, o corpo tem o seu limite, e quando esta barreira se rompe, podemos ter respostas negativas; Acredito que somente um mapeamento clínico seja capaz de esclarecer realmente o caso”, conclui o profissional.
BOX OU SUB Exames eram realizados anualmente, diz a mãe
Mãe do atleta, Rosângela Marçal afirmou a reportagem na terça-feira, que o filho não tinha nenhum problema de saúde e que era bastante saudável. “Os exames do Blenner eram realizados anualmente. Exames de coração, acompanhamentos de checagem frequentes que nunca constataram nada”, defende-se.
“Ele estudava em Campo Grande e veio para Costa Rica para uma consulta dentária; temos plano de saúde e o ocorrido foi uma surpresa para a família”, acrescenta. Segundo Rosângela, Blenner faleceu em decorrência de um aneurisma cerebral, coágulo sanguíneo ocasionado pelo rompimento de uma veia na região.
Em entrevista ao jornal o Estado na terça-feira (9), o presidente da Serc, João Félix, falou sobre a passagem de Blenner pela equipe. “É de Costa Rica e oriundo das categorias de base do Crec. Profissionalizado pelo clube, surgiu em um projeto de parceria e só não integrou o elenco da nossa equipe no estadual deste ano por uma decisão familiar em dar sequência aos estudos dele”, pontuou o dirigente.
“Fiquei estarrecido quando soube do ocorrido, visto que além dos exames proporcionados pelo clube, quando conosco, a mãe realizava um acompanhamento médico próximo. Era um garoto muito forte”, conclui Félix.
(Texto: Alison Silva)