Uma partida pela Liga dos Campeões da Uefa considerada histórica pela torcida da Atalanta pode ter ajudado a transformar sua casa, a província de Bergamo, no epicentro da pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2) na Itália.
Em 19 de fevereiro de 2020, quando o país contabilizava apenas três contágios, todos eles importados da China, o clube bergamasco goleou o Valencia no San Siro, em Milão, por 4 a 1 e praticamente sacramentou a inédita classificação para as quartas de final da Champions, que se confirmaria três semanas depois.
Dois dias mais tarde, começaram a surgir os primeiros casos de transmissão interna do novo coronavírus na Itália, ainda concentrados nas províncias de Lodi (Lombardia) e Pádua (Vêneto). No entanto, no início de março, Bergamo, também na Lombardia, assumiu a liderança em número de contágios no país.
Em entrevista ao jornal Corriere dello Sport, o imunologista Francesco Le Foche, do Hospital Policlínico Umberto I, de Roma, disse estar convencido de que o duelo entre Atalanta e Valencia em Milão foi um dos catalizadores da epidemia em Bergamo.
“Passou-se um mês daquela partida. Os prazos são pertinentes. A aglomeração de milhares de pessoas a dois centímetros umas das outras, ainda mais associadas em compreensíveis manifestações de euforia, gritos, abraços, pode ter favorecido a replicação viral”, declarou.
Segundo Le Foche, o caráter da partida – considerada por muitos como a mais importante da história da Atalanta – e o excesso de gols podem ter contribuído para a disseminação do Sars-CoV-2.
“Estamos falando da ênfase coletiva de uma partida histórica, com muitos gols. Devo imaginar que quase todos foram àquele jogo, incluindo assintomáticos e febris”, acrescentou.
A província de Bergamo registrou seu primeiro caso em 23 de fevereiro e hoje contabiliza 5.154 dos 47.021 contágios confirmados pela Defesa Civil em toda a Itália (11%), embora tenha apenas 1,8% da população nacional.
Texto: Ana Beatriz Rodrigues com informação do Jornal Epóca.