O basquete já era realidade para Marcel, que atuava por uma universidade nos Estados Unidos, quando – segundo ele – foi “escolhido” pela Medicina. “Acabei jogando só um ano, voltei, fiz cursinho e entrei [na faculdade]. Realmente, ficou uma coisa complicada treinar como eu treinava e estudar como estudava”, recorda. “Passei a estudar muito mais, nas madrugadas, e tive que abandonar o treino adequado para o basquete. Quando se escolhe duas coisas juntas, uma tem que ser sacrificada. Foi o esporte. Não cheguei ao máximo que poderia”, completa o ex-atleta, que representou o país em quatro Olimpíadas e foi medalhista de bronze no Mundial de 1978 e de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 1987.
Aposentado das quadras desde 1994, o ex-ala trabalha como ultrassonografista em uma clínica particular em Jundiaí (SP). Aos 63 anos e por trabalhar em sala fechada, com ar-condicionado, está no grupo de risco do novo coronavírus. “Eu faço mais ultrassom em pessoas que não estão com a covid-19, porque continua tendo grávidas, pessoas com dor abdominal, tireoide com nódulo… É tudo isso, mais a covid-19. E essas pessoas também precisam de atendimento”, explica. “No começo, caiu muito o número de atendimentos, mas agora é metade do que eu fazia antes. Atendo de máscara, luva, avental, tudo descartável. Pareço mais um astronauta do que outra coisa”, brinca.
Fora da clínica, porém, Marcel não deixa o papel de médico de lado. No início da pandemia, ele se ofereceu para tirar dúvidas sobre o novo coronavírus nas redes sociais. “Muita gente tinha medo de ir ao hospital e perguntava se era o caso de ir. Também [perguntam] sobre doses de medicação que estavam tomando, porque, no meio disso, há hipertensos, diabéticos que estão no grupo de risco. Acho que ao hospital só encaminhei uma pessoa, que já estava até com medicação antiviral”, conta.
O ex-jogador lembra que, no começo, as dúvidas não se limitavam ao público em geral. “O que acabou acontecendo é que as pessoas que morreram primeiro foram os médicos, por não saber tratar, porque não era uma coisa conhecida. Que tipo de pandemia era essa? Quais as características? São coisas que, hoje, a gente tem mais ou menos uma ideia e, então, diminuiu um pouco aquele receio, mas, quem trabalha na área médica está arriscado a isso mesmo”, admite Marcel.
Em meio à pandemia, o ex-craque do basquete destaca a importância de personalidades do esporte e de outros segmentos se manifestarem e cumprirem o isolamento. “Estou gostando de ver os atletas, que são modelos. Vejo também os artistas realizando shows em casa para a turma assistir. Essas pessoas que têm poder de influência estão engajadas, agindo de acordo”, elogia, considerando acertado o adiamento da Olimpíada de Tóquio (Japão) para 2021. “Era isso ou morrer. Tivemos vários exemplos. Espanha e Itália estão nessa crise porque não fecharam na hora que tinha que fechar. Fizeram um jogo de Liga dos Campeões com 50 mil pessoas, torcedores de ambos os países. Quinze dias depois, estourou a pandemia”, conclui.
(Texto: Ana Beatriz Rodrigues com informações da Agência Brasil)